9 de jan. de 2011

Entrevista de Carlo Della Prenza à CdM

DA LUZ À ESCURIDÃO
A mudança de ares de Carlo della Prenza

O primeiro trabalho de Carlo della Prenza, intitulado "Feather Falling in Love" ("Caindo Suavemente no Amor", numa tradução livre) deu ao bardo de Waterdeep uma enorme fama. Clássicos como "You are the Flayer of my Mind" e "Penalty for Charming Saves" ficaram muito tempo nas listas de músicas mais cantadas nas tavernas de Faerun.

Com o lançamento de seu segundo álbum, "One Dense Illusion", muitos dos fãs se decepcionaram um pouco, pois trata-se de uma compilação de músicas mais pesadas, menos alegres que as do disco anterior. A crítica especializada, no entanto, só teceu elogios, dizendo que a nova fase de Carlo era sua "maturidade musical". O disco foi indicado como melhor do ano na categoria Alternativo no Waterdeep Music Awards.

A revista Clérigos da Música, através de uma versão especial da magia Sending criada pelos magos da redação, conseguiu entrar em contato com Carlo durante sua incursão no Underdark. Ele falou sobre a mudança de direção na sua música, as críticas ao seu mais recente trabalho e as influências que teve no Underdark. Ainda revelou que está trabalhando num terceiro álbum, que será ainda mais introspectivo que o segundo. Confira a entrevista abaixo.



Clérigos da Música: Olá, senhor Carlo della Prenza? Desculpe se te assustei.

Carlo della Prenza: Tudo bem, Lydia. Aqui embaixo estamos sempre tão atentos que praticamente nada nos assusta.

CdM: O senhor me reconhece?

Carlo: Mas é claro. Conheço a sua revista, e, naturalmente, a repórter mais bonita (risos). Presumo que querem uma entrevista.

CdM: Sim, é possível? Não sei se é um bom momento...

Carlo: Não se preocupe. Quando eu precisar de mais concentração, eu aviso a você.

CdM: Bom, então, bom dia para o senhor.

Carlo: É dia? Eu não saberia dizer, aqui é sempre noite e escuro. Bom dia pra você também.

CdM: Carlo, eu queria que o senhor falasse um pouco sobre o seu novo álbum, "One Dense Illusion". A crítica disse que você amadureceu em relação ao seu trabalho anterior...

Carlo: (pausa) Eu não diria que "amadurecer" é a palavra certa. Acho que eu endureci mais. Tomei mais pancadas na vida.

CdM: Por causa da sua experiência no Underdark?

Carlo: Certamente.

CdM: Mas quais foram exatamente os fatos que influenciaram tanto na composição deste álbum?

Carlo: Lydia, a vida na superfície é muito simples, eu diria até mais fácil, se comparada ao que vivemos aqui. À medida que eu e meus companheiros avançávamos, íamos ficando cada vez mais introspectivos e fechados. Parece-me que, aqui embaixo, a falta de alguns elementos que consideramos cotidianos na superfície nos torna mais "egoístas de pensamento", por assim dizer.

CdM: Que elementos seriam esses?

Carlo: Cores. Aqui é tudo cinza, até os monstros. Eu até queria ver um dragão vermelho ou verde só pra poder estimular meus olhos um pouco (risos). E também o sol. Sem ele, perde-se a noção de tempo. Horas parecem meses, e meses parecem anos.

CdM: Foi por isso que o senhor compôs "They Cast Enlarge in the Time"?

Carlo: Sim. Essa música fala sobre isso, como o tempo é ao mesmo tempo, absoluto e relativo.

CdM: E quem são "eles" no título da música?

Carlo: Ninguém específico. Mas talvez represente o Underdark, que, apesar de ser um lugar, sinto como se fossem milhares de pessoas invisíveis e silenciosas te observando a todo tempo.

CdM: De onde vem o título do álbum?

Carlo: Foi por causa do meu amigo, que Helm o tenha, Sengir Fanghor. Houve um momento em que chegamos a uma passagem lateral que estava fechada com uma ilusão, mas não era uma ilusão comum, pois mesmo sabendo que era uma, não conseguíamos atravessá-la. Ele disse que ela parecia "densa" demais. Foi então que eu tive a idéia.

CdM: A morte de Sengir também influenciou na composição, eu imagino.

Carlo: Sengir não morreu. Mas também não está mais entre nós. Depois que ele partiu, eu finalizei o disco com a última música.

CdM: Com este álbum, o senhor recebeu algumas críticas dos seus fãs anteriores, por causa da mudança do "clima" do álbum. O que o senhor acha disso?

Carlo: Eu acho que eles têm um pouco de razão. Não posso evitar, sou influenciado por minhas próprias experiências. Não tinha como fazer músicas alegrinhas e românticas como as que eu tinha feito antes. Não tinha clima.

(Nesse momento, Carlo olha subitamente para o lado.)

Carlo: Lydia, com licença, sim? Estão precisando de mim aqui, volte a me contactar em mais ou menos uma hora, ok?

CdM: Claro, senhor Carlo. Até logo.

Carlo: Até logo.

(A ilusão de Carlo della Prenza que flutuava na redação sacou um crossbow e sumiu. Uma hora depois, voltamos a entrar em contato. A imagem do bardo era diferente, ele possuía alguns cortes nos braços e uma flecha fincada num deles. Tinha uma certa dificuldade de falar e parecia muito fraco.)

CdM: Carlo, o senhor está bem?

Carlo: Não se preocupe, Lydia. Tivemos de... enfrentar alguns adversários aqui. Nada que eu-- que eu não esteja acostumado. Podemos prosseguir.

(Uma mão um tanto gorda apareceu na ilusão e tocou o ombro de Carlo. Subitamente a aparência do bardo melhorou e ele já falava normalmente).

Carlo: Ah, obrigado, Gottard.

CdM: Pois bem, o que os seus fãs podem esperar daqui pra frente?

Carlo: Eu estou trabalhando em mais um disco. Será um disco tão "dark" - ou, mais apropriadamente, "underdark" - como o segundo, mas dessa vez voltado mais para o interior, para os sentimentos, ao invés de experiências externas.

CdM: E pra quando está previsto o lançamento?

Carlo: Assim que eu terminar, mas não sei quando será isso. Como disse, a noção de tempo aqui embaixo é perdida completamente.

CdM: Já tem nome?

Carlo: Ainda não, mas com certeza terá uma mulher na capa (risos). Já tenho algums idéias. Não vou dizer pra não estragar a surpresa.

CdM: É claro. O senhor pretende voltar à superfície?

Carlo: Com certeza. Eu quero ver o sol de novo. A neve e as flores... E as mulheres bonitas da superfície. Estou cansado de monstros.

CdM: As notícias são de que o senhor anda com uma elfa muito bela...

Carlo: De fato, Ëarinë é muito bela. Mas é muito fechada. Inclusive, desconfio que ela seja "do mesmo time" que eu. Mas tudo bem, ela é companheira de trabalho.

CdM: Bom, então vou encerrando por aqui. Obrigada pela entrevista.

Carlo: Por nada, Lydia. É sempre bom falar com pessoas diferentes. Ainda mais sendo tão bela como você. Somente o fato de ver a sua ilusão flutuando na minha frente já me conforta um pouco.

CdM: (risos) Ora, muito obrigada, senhor Carlo.

Carlo: Quando eu voltar à superfície, gostaria de conceder uma entrevista exclusiva a você, se você quiser é claro.

CdM: ... sim, será um prazer. Obrigada.

Carlo: Por nada. Coloque uma foto minha bem legal na reportagem, hein?



FEATHER FALLING IN LOVE


1. Love has no Surprise Round
2. Please, Brake the Armor of My Heart
3. Carlo's Uncontrollable Hideous Happiness
4. The Tavern Waitress
5. Power Word: Love
6. Wild Magic for a Wild Girl
7. You are the Flayer of my Mind
8. Seduction is not a Spell
9. I See You Everywhere (The Mirror Image of You)
10. Penalty for Charming Saves
11. (Feather) Falling in Love



ONE DENSE ILLUSION


1. Damn Dire Rats
2. Don't Go Trolling on Me
3. The Grey People and The Grey Matter
4. Snakes and Pools (Goodbye, Little Cleric)
5. They Cast Enlarge in the Time
6. You've Returned Different, My Friend
7. Invisible Sunrise
8. Listen to Me!
9. The Son of the Eye
10. I Thought Hell Was Way Below [bonus track]

5 de jan. de 2011

Síndrome do Guarda-Chuva

Era comum até alguns anos atrás que, na temporada chuvosa, eu saísse de casa sem um guarda-chuva. Em parte porque eu não tinha um, e em parte porque, não sei porque cargas d'água (trocadilho não intencional) eu achava que não era necessário.

Muito bem, depois de alguns momentos com e sem guarda-chuva nos últimos dias, estou começando a revisitar este conceito.

Veja: nos dias em que eu não tinha guarda-chuva, eu sempre procurava abrigos e marquises para me proteger dela. Mas como não gosto de ficar parado muito tempo no mesmo lugar - a não ser naqueles dilúvios que causam enxurradas invadindo as calçadas - eu sempre vou "pulando" de marquise em marquise, e no caminho entre elas é inevitável molhar. Mas pelo menos é por um período de tempo curto, e sempre olhando o chão para achar o caminho menos molhado.

Eu chegava aos meus destinos um pouco mais molhado, mas uniformemente molhado - da cabeça aos pés. E nada que uma meia hora não faça evaporar.

Porém, nos dias em que eu estou com um guarda-chva, me sinto imune à água. Ando nas ruas como se tivesse fazendo sol. O guarda-chuva está longe de ser a proteção total das precipitações, mas o usamos como se fosse. Não escolhemos o caminho, vamos no caminho habitual dos dias secos. Não andamos mais rápido pra tomar menos chuva, é a velocidade normal.

O resultado é que, ao chegar ao meu destino, estou com a cabeça e o rosto completamente secos, mas com a barra das calças e o tênis como se tivesse sido mergulhados numa piscina. A mochila, que fica pra trás, um pouco além da área de proteção que o guarda-chuva oferece, está mais vulnerável à água e acaba tomando mais chuva também. Já enchi de rugas um livro que nem era meu por causa disso.

Eu disse no início deste artigo que eu revisitava o conceito de que um guarda-chuva não é necessário; mas pensando melhor, acho que é sim, desde que você o use como se não tivesse um. Mas lembre-se que tem um quando for se locomover, senão eles vão pra terra dos duendes que acham as coisas perdidas, transformam em clipes de papel e deixam em outro lugar para serem achados.

Mas isso é uma outra história.