28 de ago. de 2005

A Lei da Dinâmica dos Ônibus

Fim de expediente, vamos pro ponto esperar ônibus pra voltar pra casa (sim, eu ando de ônibus). Entro e acho um lugar vazio pra sentar. Então mergulho nos meus pensamentos, mas a cada parada nos pontos me interrompo pra poder observar os novos passageiros.

À medida que o ônibus vai se enchendo, vão acabando os lugares vazios, e foi aí que me deparei com a triste conclusão: o lugar vazio ao meu lado é sempre o último a ser ocupado.

Então pensei que as pessoas possuem uma espécie de inconsciente coletivo.

Digo isso porque costumo usar o ônibus como uma espécie de divã, onde eu analiso a mim mesmo. Longe das preocupações do trânsito. Faz a viagem parecer muito mais rápida -- e divertida.

Portanto, quando estou sentado e pensando, minha cabeça está a mil, num turbilhão de pensamentos -- às vezes sentimentos -- e isso afasta as pessoas, mesmo sem que elas saibam porque.

Ou talvez é só porque eu sou barbudo mesmo.

22 de ago. de 2005

Pedaços Inteiros

Meu fim de semana foi agitado. Só tive tempo pra mim mesmo nas primeiras horas do sábado à tarde. Bom, talvez tenha sido melhor assim.

Entre comemorações e churrascos, fatos interessantes. Gente nova, gente velha (mas boa)... Algumas decepções. Algumas surpresas... E o mesmo velho sentimento de sempre que não consigo definir.

Tento: quem souber o antônimo de "plenitude", adicione ao fim da frase "Estou me sentindo com um pouco de".

Também há outra coisa: me sinto em todos os lugares ao mesmo tempo. Nesses lugares, sempre há uma mulher, e essas mulheres já tocaram meu coração. Algumas com um sopro, outras com a ponta dos dedos. Outras fizeram carinho e outras apertaram com toda a força. E agora, não há nada. Mas mesmo assim me sinto espalhado por aí.

Pergunta reflexiva do dia: Se você fosse do sexo oposto, você se interessaria por você? Ex.: se uma mulher com a minha personalidade e gostos e et cetera (a aparência não precisa ser igual) existisse, ela seria a fim de mim (homem)? A minha resposta é sim... E muito. Fiquem à vontade para refletir nos comentários.

And, like I already said...

I'm having a mind attack.
- eu


10 de ago. de 2005

Memórias I

Como Vai?
"Mei" de 2002

Em mais uma caminhada na rua, encontramos aquele velho amigo e dizemos "oi", "olá", as introduções básicas de conversação que a boa educação de nossa mãe nos ensinou. Mas, salvo raras ocasiões, a segunda pergunta é quase automática. "Como vai", "e aí", "cuméquicetá" e coisas do gênero, perguntam.

Paro e penso no sentido real dessa pergunta. Muitas vezes, ela pode ser o início da conversa, um assunto inicial para que o diálogo em si se desenvolva enrolando-se e desenrolando-se em outros assuntos, como uma esfera perfeitamente esférica, rolando em um campo de dunas de modo que a sua direção nunca pode ser conhecida com antecedência; outras vezes, a pergunta é simplesmente um complemento da introdução "oi" e seus afins, de modo que rapidamente o assunto se desenvolve para outro plano, dando àquela pergunta uma conotação mínima de importância, rebaixando o estado de espírito do interlocutor a nada.

Dessa forma, o ato de perguntar "como vai", para muita gente, não passa de um simples gesto de educação. E, como educação em resposta, a resposta é quase sempre "sim, obrigado", mesmo que esse "sim" - ou até mesmo o "obrigado" - seja a maior mentira que alguém no mundo poderia contar, tão mentirosa que estaria escrito numa placa no meio da rua: "ele está mentindo". Várias vezes surpreendi a mim mesmo, quando me perguntavam. "Hmm... bem, mais ou menos."

Penso nisso hoje, e pode ser que amanhã, quando você me encontre e pergunte, sem perceber, como estou, eu responda, também sem perceber, que estou bem, e a conversa ruma para uma terra distante. Mas se você me perguntasse agora como estou, eu responderia. Responderia da maneira correta. Responderia achando que você me perguntou realmente querendo saber como estou. E eu poderia me alongar até que o dia virasse dia de novo, até que a lua cheia se encha.

Eu responderia que eu me sinto como um guerreiro sem armadura e sem roupas, amaldiçoado por um doença terrível e dolorosa, encurralado num campo de batalhas de onde arqueiros atiram flechas de cura de todos os lados, tendo que me desviar da dor de recebê-las, para escolher a dor da doença; ou tendo que abrir meus braços e ser atingido por elas de peito aberto, para que a dor não mais se prolongue.

Também responderia que me sentia como alguém que passa mal no alto de uma montanha russa aquática infinita, acíclica, que jamais se repete; a cada descida vertiginosa eu me afundaria no mar, tentando de todas as formas lavar-me da sujeira que me pregava, mas ao mesmo tempo me afogando, desejando subir; a cada chegada ao topo, o embrulho no estômago estava pronto para ser entregue, e eu queria descer, para não mais me sujar.

E também responderia que me sentia um vagalume gigante, que possui uma luz infinita que contamina tudo à sua volta, iluminando cada folhinha de grama, cada poeira do ar, trazendo cor e alegria involuntariamente; mas, ao mesmo tempo, cansado de bater asas, prestes a cair por terra, sem que a luz se apague, dormindo numa escuridão interna profunda e sonolenta.

E também responderia de várias outras formas, se o mundo pudesse parar para que eu me consertasse.

E isso seria só a parte de fora.

A parte de dentro, ah sim! Essa sim é digna de canções élficas! Pois eu poderia me alongar muito mais do que na parte de fora, e poderia dizer que, por dentro, gritava lágrimas secas de meu coração, e isso teria uma semântica perfeita, pois não tem sentido nenhum. Poderia dizer que choro lentamente, de maneira graciosa, trazendo até mesmo alegria para os que me conhecem intimamente: e isso seria uma descrição exata, pois dessa maneira é que eu não me sinto. E diria que meus olhos dizem por mim, quando na verdade um simples olhar para o chão pode refletir tanto um dia cansado de trabalho, como uma tristeza profunda e ainda uma coceira no dedão do pé.

E a parte de dentro ficaria assim, sem sentido, vaga, estranha. Incompleta. Incompleta porque eu não a deixo completar: EU não a deixo, porque assim o escolhi. Sim, sim, é possível completá-la, mas eu não o quero. E assim, a parte de dentro fica quieta e ardente, aguada e fervendo, salgada e amarga.

E eu não mais me prolongaria na parte de dentro, pois todo o tempo do universo seria insuficiente para o dilúvio léxico no qual eu me afundaria, tentando passar a você uma vaga idéia do que eu realmente NÃO estava sentindo ali.

Então, da próxima vez que me perguntares se estou bem, não o reprimirei por exercer sua educação comigo. Porém, se quiseres realmente saber, então não pergunte. Não me olhe nos olhos, tentando adivinhar. Não olhe a direção das minhas sobrancelhas ou a frequência de meu resfolegar, querendo descobrir. Apenas pare... e ouça o meu coração dizer.

Ouça-o dizer bobagens, pois é o que se diz quando se ama.

Ouça-o dizer carinhos, pois é o que se quer fazer à pessoa amada.

Ouça-o dizer difamações, pois é o que se faz quando se tenta reduzir o amor a palavras.

Ouça-o dizer tudo, porque na verdade ele só diz uma coisa: eu amo, eu amo, eu TE amo. E é só.

Não o deixe te confundir com metáforas mirabolantes de montanhas russas e flechas de cura.

Não o deixe te confundir com respostas prolongadas de perguntas educadas.

Mas, acima de tudo, não o deixe silenciar o seu coração, por muito falar e nada fazer. Grite. Grite, pois é o que meu coração fez durante toda a minha vida: gritar lágrimas secas.

E você, meu amor? Como vai?

9 de ago. de 2005

Ataque Maciço

"Apenas agradeça pelo que você tem".

You are my angel
Come from way above
To bring me love

Her eyes
She's on the dark side
Neutralize
Every man in sight
- Angel [Massive Attack]


4 de ago. de 2005

Ursos, borboletas e vaga-lumes

Como surgiu o abraço? Porque o abraço é assim? Discorri sobre o assunto comigo mesmo no caminho pro trabalho, após receber um abraço da uma amiga minha, que encontrei por acaso no ponto de ônibus.

Descobri que o abraço pode ter surgido quando alguém pensou que outrem era muito importante, e que queria sempre estar a seu lado, e então o "segurou" pra que nunca mais ele fosse embora dali.

Ou então, misturado a esse primeiro conceito, veio a vontade de traduzir para o mundo físico a proximidade que sentíamos no mundo emocional. Sim, meu coração está próximo ao seu, quase tocando um no outro, minha alma está em ressonância com a sua (vide artigo anterior) e eu quero trazer isso para o mundo dos cinco sentidos comuns.

Sim, o abraço é um gesto que dá pra entender por que ele é assim. E não um gesto de carinho que poderia ser mostrar a língua pulando num pé só.

Mas então, fiquei intrigado com outra coisa: o beijo. O beijo é um gesto estranho. Estranho no que diz respeito à sua origem. O que pode ter acontecido pra que alguém toque seus lábios no rosto de outra pessoa? Um beijo na boca, o famoso "choquinho", se explica pela vontade das pessoas de se beijarem ao mesmo tempo; mas e o beijo por si só?

Pior que isso, é o beijo de língua. Será que isso pode ser realmente chamado de beijo? Sim, porque esse aí é mais maluco ainda. Que é bom, é indiscutível. Vi uma frase uma vez, relacionada a sexo, mas que serve pra beijos também.

"Sexo é tão bom, tão bom, que mesmo quando é ruim é bom."


Porém, se pensarmos na origem, no sentido da coisa... Ficar passando uma língua na outra é um gesto de intimidade? Ou tá mais pra sexo do que pra sentimento? E se for isso, porque está mais pra sexo?

Deixo aos leitores o exercício de relacionar o título deste artigo ao assunto dele.

3 de ago. de 2005

Em fase

Não raro sinto coisas inexplicáveis de repente. Coisas parecidas com pressentimento, premonição. Mas não é um sentimento de previsão de futuro, ou preparação para ele. É um sentimento presente.

Pelo que converso com as pessoas, elas também sentem isso. Algumas confundem com pressentimento, outras confundem com tristeza, mas é simplesmente isso: um sentimento que se faz presente do nada.

Chamo isso de ressonância de almas. Quando se está muito próximo de alguém, não somente uma proximidade física, mas também íntima, as almas (estou aqui chamando de almas, mas dê o nome que quiser para o íntimo dos seres humanos que, afinal, nos torna humanos) dessas pessoas acabam por entrar em fase. Uma responde aos estímulos feitos na outra.

Normalmente só reparamos isso quando o sentimento é ruim. Porque, ao longo da nossa vida, a gente acaba sem querer marcando em nossa mente apenas as coisas ruins. Elas ficam, deixam cicatrizes. Quando algo é muito bom, é simplesmente normal que seja muito bom, e ao se acabar passa despercebido.

Isso acontece comigo desde quarta-feira passada. Sei qual é a alma em ressonância com a minha, e praticamente sei os motivos. Porém, nada comprovado pelos outros cinco sentidos...

Nota mental: Fazer cicatrizes com coisas boas e achar as coisas ruins simplesmente normal.