1 de dez. de 2010

Canção à Lua Nova

Quando você voltar,
De uma manhã à outra eu sorrirei,
E sobre tenras flores dormirei,
Em teu seio e em meus sonhos,
E entre duendes, sempre risonhos.

Quando você voltar,
Na Terra nada se apagará.
Em toda a sua chama se lerá
A cor da vida que me cativou
Trazendo-me cá pra onde estou.

Oh! Lua de tantas canções e poemas,
De tantas metáforas, centenas,
De fases escondidas, nuas,
Outrora dando a cara nas ruas,
Rainha oculta de um reino escancarado,
Pequena luz de um dia ensolarado!

Volte, volte para a noite escura
Que as estrelas pedem tua cura;
Que eu (ai de mim!) te espero,
Cão solitário, uivo - Te quero...

Oh! Lua de prata espelhada, só,
Trocando seu pirlimpimpim em pó,
Lua dourada, avermelhada, de mel,
Ostentando um brilho único no céu,
Mãe protetora dos enamorados,
Encantadora dos seres encantados!

Volte, volte pra teu lugar de direito
Há estacas rodeando meu peito,
Que eu (ai de mim!) te rogo:
- Volta, volta, volta logo!

3 de nov. de 2010

Liara

A vista era linda lá de cima. A leste, dava pra ver, de maneira clara e cristalina, toda a alva orla da praia. O mar sem ondas mostrava a sua grandiosidade e, simultaneamente, uma calma instigante. Era lindo demais ver aquela imensidão plana, indo até onde a vista alcançava.

Em meio ao seu deleite visual, Liara percebeu três reflexos na água. Acima, elas praticamente faziam um triângulo perfeito. Lembrou-se da história das luas, contada a ela por Ani, seu pai.

"Labela é a lua superior. Ela possui uma cor amarelada, quase como se tivesse sido encoberta por uma neblina dourada. Ela é a maior das luas, e significa aquilo que se deseja ser, sem ofuscar os outros e trilhando caminhos próprios.

"Na base, a lua à esquerda e conhecida por Tímira. A cada 37 translações ela se esconde parcialmente atrás de Labela. Possui uma coloração acinzentada, quase escura. É a unica lua que pode ter seu brilho bloqueado pelas nuvens. E é a menor das luas. Significa aquilo que se acha que é, procurando abrigo nas horas difíceis e sem méritos proprios.

"A última das luas, à direita da base do triângulo, é chamada de Polina. Seu brilho é o mais forte de todos: um luar alvo, branco, ofuscante. É considerada a lua independente, pois não esconde nem é escondida por nenhuma das outras duas, porem é tocada por Labela e Tímira 5 translações após o eclipse delas. Significa o que se é de verdade: em harmonia com os outros e sempre emanando poder e sentimentos."

Uma lágrima correu pelo seu rosto. Ani era um pai maravilhoso, mas tinha épocas em que ficava estranho, principalmente apos a morte de Luana, sua esposa e mãe de Liara.

Voltou a admirar a paisagem. Do outro lado, as copas das árvores na floresta pareciam se unir e formar apenas uma única grande árvore. Estava a uma altura considerável para não distinguir as folhagens. Os tons de verde e marrom se uniam num degradè perfeito. Era um verdadeiro tapete.

Percebeu uma clareira na floresta. Liara assustou-se, pois sempre ficava ali a admirar a beleza daquele mundo, Faíne, as estrelas, as luas, o mar e a floresta. Jamais havia percebido aquela clareira...

Sem hesitar, Liara abriu suas asas de fada e saiu da nuvem na qual estava sentada, indo em direção à clareira desconhecida...

22 de out. de 2010

Poslúdio

Um ruído leve de vento é o único som da noite. Acima, um céu cinzento é o cenário para a rua deserta, abaixo da ponte. Os prédios em volta parecem todos abandonados, mas Jackie, a líder do grupo, sabe que nunca se pode confiar no que se vê no Anel Urbano. Ela era a especialista em inteligência e tática de guerrilha dos Grells, como eles gostavam de se chamar. "Somos livres como pássaros, mas nosso cérebro é tudo", dizia ela. Daí o nome.

Parou de limpar a sua bazuca portátil para observar Claude, seu imediato, especialista em minas terrestres e o "tanque" do grupo. Os olhos espelhados dele refletiam o céu: ele tinha substituído os originais por displays HUD de alta definição em uma clínica de tecno-cirurgia clandestina no México. Não tinha dinheiro para pagar um tecno-médico oficial. Ele parecia estar observando a rua, perpendicular à ponte abaixo deles, mas Jackie sabia que ele enxergava vários tipos de dados por sobre a imagem da rua, em tempo real; afinal, seus implantes tinham uma ligação direta com uma pulseira-celular de 7G, que enviava o feed de vídeo para um servidor nômade, que o analisava e enviava os dados de volta para ele. E nem precisava de uma antena sub-cutânea, pois ele era tão grande que o próprio corpo conseguia pegar o comprimento de onda certa do sinal da rede celular.

No início da ponte, os gêmeos Renault e Romuleau pareciam felizes montando o equipamento da operação. Eram o que se podia chamar de linha de frente da equipe de Jackie. O que era engraçado, pensou ela, pois Renault era tão franzino quanto uma garota de 6 anos. Mas era o mais habilidoso com um NERD - Navigating in Electronic Resources Device - e isso o tornava o preferido dela para as operações de quebra de firewalls e invasão de banco de dados. Romuleau era igualmente habilidoso, mas tinha menos experiência em usar o aparelho, porque gostava mais da parte de hardware. Isso o tornava o parceiro perfeito para Renault. Ambos eram capazes de montar uma máquina intrusiva, ligá-la, invadir um sistema corporativo e roubar o CPF de um executivo em poucos minutos, mas um gostava mais de montar, e o outro de executar.

Os outros três, ao contrário dos gêmeos, estavam muito impacientes. Beavis era o batedor dos Grells. Era sorrateiro e veloz, porém luta física não era nem de longe sua especialidade. Usava um monóculo verde sobre o olho esquerdo, mas que não tinha nenhuma ligação eletrônica. "É estilo", dizia ele. Junto com o inseparável boné - os outros nunca tinham visto o cabelo dele - e os fones de ouvido de seu MP3 portátil, o monóculo dava um ar jovial para o alto e magro batedor. Naquele momento, ele conversava em um tom inaudível com Petrov, tecno-médico. Foi ele quem operou os olhos de Claude em Acapulco. Quando o grupo precisou de um clínico, Claude acionou seu contato e desde então ele faz parte do grupo. Seu rosto austero traduzia exatamente seu temperamento: ele precisava ter sangue frio para ouvir os pedidos de ajuda de seus companheiros onde quer que estivessem, ir no meio do campo de batalha e curá-los com sua pistola de raios curativos - uma tecnologia africana que os americanos se apropriaram. Precisava, por isso, usar um amplificador auditivo super potente. Para conversar com ele, bastava sussurrar.

Ao lado dos dois, Miss On era a espiã. Sua especialidade era se disfarçar com hologramas faciais muito bem cuidados, e por isso usava de seu carisma e, obviamente, o fato de ser mulher para enganar os inimigos - e eventualmente até os amigos. Não estava disfarçada naquele momento, mas parecia querer fazer isso e sair dali. Seu cabelo curto, corte militar, e a cara fechada, faziam com que ela parecesse estar sempre de mau-humor, mas Miss On era, ironicamente, a mais brincalhã. Uma vez, em uma missão, se disfarçou de "Beavis", foi até o alojamento de Jackie e se insinuou para ela. A chefe do grupo foi tomar satisfações depois com o verdadeiro batedor, e ele ficou sem entender nada.

Os Grells estavam ali porque obtiveram uma informação de que uma carga valiosa, mais especificamente um Mini-HD contendo o código de uma IA que ainda não tinha sido liberada na net. Eles usariam o código para chantagear o presidente de uma multinacional chinesa a liberar os códigos dos softwares eleitorais americanos. O pretexto era para que a comunidade de software livre os auditasse, mas na verdade eles estavam trabalhando para o Partido Republicano dos Estados Unidos.

O comboio de escolta estava atrasado em 40 minutos, e o trapézio direito de Jackie já doía, como acontecia quando ela ficava tensa.

E ela raramente ficava tensa.

5 de ago. de 2010

Alastramento

Era segunda-feira. Um dia naturalmente cinza. Um dia naturalmente silencioso, apesar do barulho infernal do tráfego lá fora.

Um dia mau-humorado.

Ele esperou pela condução no mesmo ponto de sempre. Tinha duas ou três opções de linhas para chegar ao trabalho, mas hoje nenhuma delas passou. Teve de pegar uma outra que o deixava mais longe do arranha-céu onde ficava seu escritório. Tentou pensar pelo lado bom, dizendo a si mesmo que precisava fazer mais exercícios do que a pelada do fim-de-semana.

Mas ele estava um pouco atrasado hoje. O peso da responsabilidade lhe doía os ombros. Só podia ser isso, porque pelada não se joga com os ombros. Tentou não ficar irritado. Procurou por alguma menina bonita dentro do ônibus. Ele sempre estava cheio, então era quase certo que haveria alguma.

No fundo do ônibus, alguns adolescentes ouviam música com o alto-falante de um celular. Depois que percebeu isso, custou a conseguir "não ouvir" a música irritante que saía daquele aparelho.

Perto da roleta, pessoas em pé seguravam na barra superior. Alguns poucos com óculos escuros. Muitos com seus solitários fones de ouvido, ouvindo uma música silenciosa. E literalmente todos de cara fechada, letárgicos, olhando para o nada.

Dava pra ver a curvatura descendente das sobrancelhas...

Tentou olhar para fora. O ônibus conseguia até andar rapidamente pela pista exclusiva, mas os carros faziam fila na pista lateral. A obra à frente era para melhorar a vida de todos, mas causava um transtorno imenso naquele momento. E isso já durava alguns meses.

Ele sabia que os ônibus teriam que passar para a pista lateral em algum momento. Congestionamento. Também do estômago: o pão integral tostado não tinha caído bem.

Estava difícil não ficar de mau humor.

No viaduto de acesso, mais carros e ônibus. Motoqueiros arriscavam a vida, apenas a parte superior do capacete passando bem perto das janelas do coletivo. A velocidade deste, por sua vez, foi ficando cada vez menor, até parar de vez.


Ali.


De algum lugar lá embaixo, subiu um ipê amarelo. É claro que ele já estava lá antes, mas foi só nesse momento que ele o percebeu. E, no alcance de sua mão, um ramo tão amarelo que parecia ser a única coisa colorida da segunda-feira. O mau-humor se dissipou.

No instinto, colheu. Olhou rapidamente em volta e entregou para a mulher mais próxima. Era a que estava segurando sua mochila.

Não disse nada. Apenas entregou, sorriu e voltou a contemplar o horizonte, agora verde.

Ela: susto. Dúvida, vergonha, dúvida. Hesitação. Sorriso sem-graça, para ninguém. Cheiro de flor de ipê. Pensamentos rápidos. Sentimentos cálidos.

Quando todos os outros à volta perceberam que se tratava de uma simples gentileza, na definição mais pura da palavra, tiveram a mesma reação.

O João, a Maria, o Antônio, a Fátima.

Se entreolharam, e os sorrisos se cruzaram.

Uma pessoa lá atrás soltou uma única gargalhada nasal.

A senhora que sentava do lado da presenteada sorriu de volta para ele.

Ele pediu a mochila de volta, agradecendo, desejando um "bom dia" sorridente. Deu sinal e desceu. Para um trabalho produtivo, como há muito não conseguia.

À noite, em casa, abraçou a esposa e disse que a amava - sem cobrar nada em troca.

E o psiquiatra da agraciada nunca a tinha visto tão animada e alegre - ele quase deu alta.

E o filho do João nunca havia recebido um abraço tão efusivo - finalmente sentiu seu pai próximo. E o marido da Maria nunca havia jantado com ela sem a TV ligada na novela - foi uma noite como há muito tempo não tinham. E os vinte e três alunos do Sr. Antônio nunca tiveram uma aula tão divertida - nunca aprenderam tanto. E a mãe da Fátima nunca viu a filha tão bonita e radiante - naquele dia, ela melhorou de saúde.


A noite daquela segunda-feira nunca foi tão florida e amarela.

13 de jul. de 2010

Levanta-te...

I am not dead. Quite the contrary.

I live. I think. I am. Still.

Soon, I'll be complete. And colorful and living.

As I was someday.

No.

More than I was someday.

Someday.

Be.

17 de mai. de 2010

Inexistência

Nota: Levemente editada do manuscrito original.

O poeta do contemporâneo tem as mãos fracas.
Os dedos frágeis, o punho áspero.
O papel sumiu. O cheiro da tinta desapareceu.
E o tempo em que a caneta era mais forte que a espada.

Agora, o elétron sobe, ou desce. E isso basta.
A tensão é alta, ou baixa.
E os dedos frágeis e tensos.

Aqui, com a caneta preta sobre o papel amarelo,
doem-me as mãos.

Morda-me.

12 de mai. de 2010

A Ilha - Parte Final

Três mil e quinhentos anos após a declaração da independência, a Ilha de Torom-Yidelm prosperava como nunca. A dinastia Gharod governou até a sua 12ª geração, quando o Rei Gharod XII morreu sem deixar herdeiros, tendo como parente mais próximo seu sobrinho Tapan Herayach. Ele subiu ao trono sob o nome de Rei Tonrad I, e sua dinastia deixara mais 21 governantes. O Rei Tonrad XXII morrera numa expedição às cadeias montanhosas do norte da ilha, pois fazia questão de liderar seus comandados no campo. Como a expedição nunca voltara, o conselheiro real Kour Atale indicou o primo do rei para o trono, e todos no reino concordaram. Dyndel Herayach assumiu o trono como Rei Oldrod I, mas sua dinastia, ao contrário das outras, seria curta.

Neto de Dyndel, o Rei Oldrod III não esperava que fosse enfrentar uma guerra civil durante seu reinado. Tudo porque o racismo, que nunca havia deixado de existir na ilha, mas estava enfraquecido, começava a ganhar força. Jutta, a capital era uma cidade essencialmente élfica. O povo já havia esquecido que o Rei Gharod I, o unificador, a tinha declarado capital por ser a cidade mais antiga e, por consequência, mais populosa e importante da ilha. Os elfos por todo o reino se achavam inconscientemente melhores do que os humanos, pois eram eles que moravam na capital, a cidade mais importante.

Quando um famoso comerciante humano foi encontrado à beira de uma estrada entre Jutta e Deera coberto de flechas élficas, as críticas abertas começaram. Os humanos, a sua maioria concentrados em Deera, diziam que os elfos eram assassinos sanguinários e que devolveriam na mesma moeda a qualquer viajante com orelhas pontudas que se aproximasse de Deera vindo de Jutta. Os elfos se defenderam, e disseram que aquele assassinato foi feito pelos próprios humanos numa tentativa de incriminar os elfos e rebaixá-los, para poderem tomar o poder e transferir a capital.

O comércio entre as cidades havia sido interrompido. Ninguém que não estivesse fortemente armado ousava andar pela estrada. A ilha estava com sua economia parada, e a população começou a diminuir. Jinn, a par do conflito entre as duas maiores cidades, se declarava neutra, mas havia pressão de ambos os lados para que se aliassem a eles.

O Rei Oldrod III fez de tudo para acabar com o racismo. Criou leis anti-racistas, que puniam as pessoas que espalhavam a palavra segregadora por todo o reino com a morte. Várias pessoas foram decapitadas, inclusive líderes intelectuais de grupos racistas. Preteridos, estes grupos começaram a se encontrar na clandestinidade. Todo o movimento era feito debaixo dos olhos do Rei, que nada pode fazer para evitar o golpe político de Deera. Eles se declararam independentes. A princípio, o Rei Oldrod III disse não aceitar, pois gostaria de resolver o impasse politicamente. Quando foi à Deera para um diálogo, humanos mercenários, que não sabia distinguir elfos de meios-elfos, e que ainda estavam sob as ordens de matar qualquer elfo que se aproximasse da cidade, abordaram sem dó a caravana do rei, que tivera toda sua escolta assassinada covardemente.

Isso bastou para que a Grande Guerra Civil fosse desencadeada, na qual humanos e elfos, que antes haviam lutado lado a lado pela independência da ilha, agora estava de lados opostos, brigando pelo controle de suas respectivas cidades. A Grande Guerra Civil durou apenas três anos, e nenhum lado saiu vencedor. As forças simplesmente se esvaíam, os exércitos ficavam cada vez menores até que não havia mais como guerrear. E, antitéticamente, a paz se instituiu à força.

Desde então, as cidades têm seus próprios governantes, e são chamadas agora de cidades-estado. Eventualmente, o racismo deixou de existir escancaradamente, mas alguns elfos - principalmente em Jutta - ainda conservam o sentimento anti-humano. As estradas nunca mais foram seguras, apenas comerciantes escoltados por vários guerreiros mercenários se aventuravam por ali. E, devido à falta de tráfego, populações de criaturas bestiais começaram a se espalhar por toda a ilha, desde simples kobolds e orcs até dragões cromáticos e metálicos.

Sylarila Orinitas, a grande regente de Jutta, deixara em sua família a herança do comércio, e desde então é a família dela que detém a maior parte do tráfego de suprimentos e especiarias entre as duas cidades.

Esta é a história perdida da ilha onde nasceu Lena Orinitas, a guerreira de duas espadas, descendente da regente e herdeira direta do maior comércio da cidade élfica de Jutta.

3 de mai. de 2010

A Ilha - Parte 5/6

Como primeiro ato em seu mandato, Danmoro Orinitas Ergartai, que agora seria chamado de Rei Gharod I, instituiu o livre comércio entre as cidades, declarou Jutta a capital por ser a cidade mais antiga e iniciou a construção de uma terceira cidade, a nordeste de Jutta, a qual batizou com o nome de Jinn, em homenagem a um dos primeiros-ministros humanos da república velha.

No continente, aquilo foi visto como um ato de insurreição para alguns e como um ato de grandeza para outros. No novo parlamento, composto apenas de elfos e humanos agora, as opiniões se dividiam exatamente como na sociedade. E o que era pior: apesar de todos estarem fechando os olhos para tal fato, a divisão que acontecia era claramente racial. Humanos apoiavam a manutenção da colônia de exploração, apoiado por alguns elfos conservadores, enquanto que a maioria dos elfos queria que as cidades tivesse representação no parlamento continental, ajudados por alguns humanos liberais.

Não era um confronto racial, a princípio, mas aos poucos foi se tornando um. Na população, os embates do parlamento se refletiam no descaso das raças uma com a outra. Um certo preconceito que nunca havia existido. A guerra ainda estava longe, a convivência era extremamente pacífica, mas o preconceito só aumentava. A ilha continuava sendo explorada devido ao impasse no parlamento, e o sentimento separatista crescia cada vez mais, acima dos conflitos raciais do continente. A população local se achava diferente, pois os humanos e elfos insulares não brigavam uns com os outros como os do continente.

Tal crescimento acabou por culminar na declaração de independência de Torom-Yidelm. O Rei Gharod I comunicou ao parlamento o fato, que, para evitar uma guerra, nada pode fazer senão acatar a decisão. Porém, o preconceito, antes racial, passou agora a ser internacional: pessoas da ilha eram maltratadas no continente e vice-versa. A partir daí, a relação entre as duas partes ficou estritamente no comércio, e assim permanece até hoje, quase que como uma guerra fria ao contrário, um tratado de paz que existia na prática mas nunca fora assinado.

E a partir daí, os registros históricos da Ilha de Torom-Yidelm só citam o continente algumas poucas vezes.

29 de abr. de 2010

A Ilha - Parte 4/6

Os governantes das cidades insulares encontravam-se frequentemente, dizendo que eram assuntos comerciais e políticos para o bom andamento da ilha, que agora havia também sido rebatizada de Torom-Yidelm, em homenagem aos dois últimos primeiros-ministros da República Velha. Acklald Ergartai, regente de Deera, e Sylarila Orinitas, regente de Jutta, encontravam-se com tanta frequência que rumores começaram a aparecer nas duas cidades. Dizia-se que eles eram amantes. Ambos sempre negaram.

Porém, quando Acklald morreu e seu filho legítimo, Oldald, assumiu o poder, a relação política entre as duas cidades se afrouxou. Com Acklald, Jutta nunca fazia rotas comerciais com o continente - que ainda tratava a ilha como colônia de exploração - sem antes consultar Deera, e vice-versa. Agora, com o filho no poder, Deera não tinha participação nos dividendos de algumas das rotas comerciais de Jutta. Oldald, diziam os rumores, não era tão competente, ou tão influente, quanto o pai, mesmo sendo filho do grande líder espiritual da aldeia continental de Veromvor. Outros rumores, mais intensos, davam conta de que a relação não é mais a mesma pois Acklald e Sylarila eram realmente amantes.

Sylarila já estava velha, e com a iminente retirada da grande regente de Jutta do poder, a verdade veio à tona. Danmoro, um meio-elfo que habitava a cidade de Jutta, juntou um grupo à sua volta na praça principal da cidade e disse ser o herdeiro legítimo de ambos os tronos, pois era o filho da suposta relação entre Sylarila e Acklald, e era mais velho que Oldald. Um grande frisson tomou conta dos ouvintes, e a notícia se espalhou como o vento até chegar aos ouvidos dos regentes.

Porém, o frisson foi ainda maior quando ambos os regentes confirmaram a história. Oldald sabia da existência de seu meio-irmão, e anunciou que não esperava que fosse ficar tão pouco tempo no poder. Entregou o cargo a Danmoro e lhe desejou sorte. Sylarila aproveitou que já iria se retirar do poder e renunciou ao cargo de regente, anunciando que Danmoro era aquele que unificaria novamente a ilha para que ela pudesse prosperar. Parecia que era um plano que já havia sido arquitetado pela regente com seu amante.

Toda essa história, somada com o apelo dos ex-regentes para com o novo rei de Torom-Yidelm, cirou um sentimento nacionalista como jamais houve na ilha. Ao invés de toda a população estar se sentindo enganada, eles se sentiram mais confiantes e mais orgulhosos de terem nascido (já a maioria naquela época) e morado naquela terra.

24 de abr. de 2010

A Ilha - Parte 3/6

A Guerra dos Anões acontecia em duas frentes. No continente, os anões eram mais agressivos, pois seu primeiro-ministro havia sido assassinado a sangue frio. O restante dos "instrusos" da denúncia, humanos e elfos, foram aprisionados e mortos. Os anões queriam vingança e, liderados por Gorak Achdrad, irmão de Curak, o regente de Ormdend e líder das forças anãs na ilha, atacaram as principais cidades élficas, pois acreditavam que a maior força bélica viria dos "moradores-de-árvores". Em Radek'a, Curak apenas defendia sua cidade, pois Acklald e Sylarila utilizaram a crise no continente como pretexto para a guerra, apesar de todos saberem que era pelo controle das rotas comerciais da ilha.

A Guerra durou 11 anos, pois os anões, apesar de serem minoria, eram bravos guerreiros e fortemente disciplinados para a guerra. Porém, a maioria esmagadora da aliança entre humanos e elfos acabou por vencer a guerra na ilha. Ormdend fora invadida, e os anões foram massacrados. O exército da aliança não deixou nem mesmo mulheres e crianças escaparam, os anões foram exterminados. Alguns conseguiram fugir para a área selvagem, mas fatalmente sobreviveriam lá. Acklald e Sylarila venceram.

No continente, após a vitória da aliança, os anões se viram enfraquecidos. Rechaçados dos ataques às vilas élficas, pois não esperavam o exército humano pronto para o revide, os anões recuaram até ficarem presos em Whodough. Gorak lutou até o fim, dizem os registros, e morreu lutando. Ele foi o último anão a perecer na cidade portuária. Com Gorak morto, a Guerra tinha terminado.

Várias foram as consequências da guerra. No continente, todas as aldeias e cidades que eram de maioria anã foram rebatizadas. Todos os traços da cultura anã eram radicalmente reprimidos, e qualquer referência a eles a partir do fim da guerra era considerada um ultraje, uma heresia. O sistema político foi remodelado, com Dironu Lolis, de Nedine, alçando ao poder. Humanos e elfos se revezaram nos anos seguintes no cargo, agora único, de primeiro-ministro, o que mais tarde ficou conhecido como "República dos Magos Comerciantes", devido à habilidade humana com o comércio e a habilidade élfica com a magia.

Na ilha, Acklald e Sylarila continuaram no poder, porém cada um controlava uma cidade agora. Sylarila Orinitas ficou no comando de Jutta, que havia sofrido menos com a guerra, e Acklald Ergartai foi comandar a reconstrução de Ormdend, rebatizada de Deera. E, da mesma forma, quaisquer traços racias que faziam referência aos anões eram fortemente reprimidos. A sucessão, em ambas as cidades, passou a ser hereditária, o que significava que, a partir daquela época, Jutta seria uma cidade essencialmente élfica e Deera uma cidade essencialmente humana. Estranhamente, nenhum traço de racismo apareceu nos anos seguintes, pelo contrário. Várias gerações de meios-elfos, que eram raridade no continente, começaram a surgir, demonstrando a convivência pacífica dos dois povos.

19 de abr. de 2010

A Ilha - Parte 2/6

Após alguns anos de período regencial, a ilha de Radek'a começou a funcionar como uma colônia de exploração para o continente. Os suprimentos, matérias-primas, especiarias e plantas típicas eram tidos como relíquias por lá, inclusive gerando problemas de contrabando (principalmente por parte dos humanos). Esses itens eram caríssimos no continente, e tudo o que se achava na ilha era mandado para lá. Com isso, Kacz passou de um desenvolvimento para um regresso. A economia da cidade estava paralisada, a população diminuía. Isso tudo gerou um vontade separatista em alguns clãs da cidade, na maioria deles anões.Eles discordavam da forma como os regentes administravam a cidade e a ilha. Gonfrak nada podia fazer para representar o interesse de seus irmãos, pois Acklald e Sylarila estavam sempre com as mesmas opiniões, e sempre condizentes com as do continente.

Nesse cenário, a tensão entre os grupos raciais aumentava na ilha, e isso se refletiu no continente. Os anões estavam começando a querer uma separação, e muitos clãs abandonaram Kacz e rumaram ao sul. Lá, fundaram uma cidade portuária, Ormdend. Como detinham as tecnologias de navegação, puderam se comunicar com a outra cidade portuária, no continente, que também era habitada em sua maioria por anões: Whodough. Criou-se uma rota alternativa de comércio entre as cidades, além da estabelecida por Kacz.

Por fim, todos os clãs de anões já haviam saído da cidade, e por causa disso, Gonfrak se viu forçado a se retirar do conselho regencial da Kacz. Ele foi para Ormdend, e lá foi declarado primeiro-conselheiro da cidade, que era governada por Curak Achdrad, um anão que vinha de uma família de tradição guerreira.

A tensão no continente começou por influência dos problemas na ilha, mas cresceu para um patamar incontrolável no parlamento. Líderes anões protestavam ante a negligência dos primeiros-ministros com a situação em Radek'a, enquanto os líderes de humanos e elfos tinham opiniões parecidas, mas não tão semelhantes ao ponto de não se perguntar o motivo da união tão ferrenha dos dois líderes insulares de seus povos. Acklald e Sylarila estavam sempre apoiando um ao outro, às vezes até contra os interesses de seus povos.

A crise desencadeou-se de vez com a denúncia de influência maligna de líderes racistas do continente sobre Acklald e Sylarila. Membros parlamentares que eram a favor do remanejamento do conselho regencial insular descobriram um plano arquitetado e orquestrado principalmente por alguns elfos continentais para expulsar os anões da ilha e, posteriormente, do continente. Caso as denúncias se comprovassem, ao que parecia o plano corria muito bem, pois a tensão em Radek'a crescia ininterruptamente, ao ponto de as novas gerações já crescerem com o ódio racista insuflado em seus corações.

No continente, o parlamento se dividiu. Os autores da denúncia, em sua maioria anões, porém com a presença de alguns elfos e humanos, se juntaram os outros anões e passaram a frequentar a parte esquerda do parlamento. Humanos e elfos, à exceção dos denunciantes, ficaram à direita. Os primeiros-ministros passavam por constantes ameaças dos parlamentares das outras raças, que diziam que iriam derrubá-los do poder.

A situação se tornou insustentável quando um dos humanos que assinou a denúncia fora assassinado. A dúvida era se ele tinha sido assassinado pelos próprios humanos devido ao apoio aos anões ou se tinha sido assassinado pelos anões, que alegariam a má influência dele sobre lideranças da raça.

A guerra era iminente, e quando o primeiro-ministro anão também foi assassinado, o parlamento fora dissolvido e a guerra nem precisava ter sido declarada - ela já estava em andamento. Na ilha, os regentes Acklald e Sylarila decidiram mudar o nome da cidade para Jutta, pois Kacz era um nome de origem anã, e declararam guerra a Ormdend.

14 de abr. de 2010

A Ilha - Parte 1/6

Segue uma história que eu criei para um jogo que o Pedro mestrou há um tempo atrás. Espero que gostem. :)

Há 9500 anos, humanos, anões e elfos viviam em paz no continente, que até então era a única terra conhecida. O reino era governado por um conselho de três primeiros-ministros - um de cada raça, cuja sucessão seguia a hereditariedade. Havia ainda o parlamento, composto por líderes espirituais das várias aldeias e cidades, também divididos igualmente em três partes. Tudo funcionava em perfeita harmonia. Existia o racismo em pequenos grupos, mas o sistema político e econômico não dava brechas para as diferenças entre as raças. Perante a lei, todos eram iguais.

Quando engenheiros anões descobriram a navegação, os governantes decidiram explorar as águas supostamente infinitas a oeste. Decidiu-se que uma expedição, liderada pelo capitão anão Gonfrak Radek'a, e composta de membros das três raças, iria se lançar ao tenebroso Mar das Bestas Vermelhas. O mar tinha esse nome porque nele, acreditava-se, vagavam criaturas gigantes que matavam os invasores de seus territórios a sangue frio, avermelhando o mar. Porém, descobriu-se que tudo eram lendas infundadas, e bastou o deslocamento de alguns dias a oeste para que a ilha de Radek'a aparecesse, virgem, inexplorada.

A princípio, o capitão Gonfrak pensou ser um novo continente, dada a extensão da ilha. Mas a história do descobrimento tem uma lacuna nos registros. O que há de registrado depois é a fundação da primeira cidade insular, Kacz. Ela ficava alguns quilômetros a oeste da costa leste, cercada por uma floresta. Houve uma grande discussão, principalmente no parlamento, para saber se a ilha e a cidade teriam seu próprio sistema de governo, ou se teriam apenas representantes no parlamento.

Após vários anos de discussão, Kacz acabou por ter uma prefeitura própria, virando uma província do reino, quase uma colônia. Tentou-se, a princípio, instaurar uma república pequena, aos moldes do governo do continente, com três primeiros-ministros e um pequeno conselho. Mas, estranhamente, na ilha as diferenças raciais apareceram, e os elfos, apoiados pelos humanos, alegaram que ainda havia pouca população para ser representada através de parlamentares. Derrotados por maioria, os anões acataram a decisão de cada raça indicar um líder e os três seriam declarados regentes da ilha.

Os humanos indicaram Acklald Ergartai, que até então era um dos membros do parlamento continental, e líder espiritual da pequena aldeia de Veromvor. A representante dos elfos era Sylarila Orinitas, uma conhecida comerciante da cidade de Nedine, e que foi indicada pelo líder espiritual da cidade, Dironu Lolis, que era parlamentar. E os anões elegeram para representá-los o próprio descobridor e fundador da cidade, o capitão Gonfrak Radek'a. Os três regeram a ilha por muitos anos, até que as falhas do sistema econômico começaram a gerar um sentimento separatista em alguns clãs da cidade, que já crescia além de suas fronteiras estabelecidas.

12 de mar. de 2010

Horbag Domenescu - Parte 4/4

Nesse momento, a coisa mais estranha aconteceu. Quando toquei meu pai, ele se queimou e ficou fraco, caindo de joelhos no chão.

- Ha! Eis a prova, meu jovem! - bradou o velho, alegre.

- Não tem mais como escapar. Você agora é um clérigo de... LOVIATAR! - gritou, revelando seu símbolo profano e erguendo-o no ar. No mesmo instante, um relâmpago caiu sobre sua mãe, deixando nada mais que um amontoado de cinzas pretas.

Não pude me conter e avancei contra o velho.

- Ei! Canalizar o poder de Loviatar não é assassinar os outros de graça!

O mesmo fenômeno aconteceu. Porém, desta vez feridas profundas apareceram sobre a pele do velho, que urrou de dor e caiu estatelado no chão, mas com um sorriso no rosto.

- Muito bem, Horbag... --cof. Agora você é verda-- cof -- verdadeiramente um seguidor de Loviatar... Agora conclua -- cof -- o seu trabalho.

Vendo os dois homens no chão, minha cabeça rodopiou. Senti uma vertigem horrível, devido aos vários pensamentos que me vieram à cabeça. Quando me dei conta, o amuleto que eu havia achado estava na minha mão. Apesar de estar menos ferido, meu pai olhava horrorizado pra mim, enquanto que o velho, já nas últimas, parecia sentir um prazer indescritível.

Eu já não tinha mais dúvidas. O velho parecia escutar meus pensamentos, pois disse:

- A escolha... foi feita...

- Muito bem. Você morrerá por ter matado a minha mãe. Não importa. -- e fui até ele terminar o serviço, da mesma forma que comecei. Apenas toquei no rosto do homem, e seus olhos saltaram da órbita e explodiram. Sua cabeça ficou roxa e o resto do corpo branco.

Meu pai estava aterrorizado. As outras pessoas começaram a fugir de mim.

- Meu filho! Você mentiu pra mim! Porque não disse que havia achado isso?

- Eu não menti, meu pai. Apenas omiti... Pois me preocupei com você.

- E isso lá é preocupar? Devia ter dito!

- Não pai. Você não sabe nada sobre os deuses. Agora vejo que era uma bobagem me preocupar com você.

Meu pai pareceu desistir de argumentar comigo.

- ... vá embora, sua aberração! Você não é mais meu filho. Vá!

Não senti vontade de matar meu pai. Algo me dizia que ele já havia passado pela sua provação, pelo menos hoje. Então senti meu dever cumprido.

Peguei a armas e equipamentos do velho que eu tinha acabado de matar já ia saindo, quando o conselheiro gritou com suas últimas forças:

- Horbag! Me cure por favor! Você é um canal dos deuses agora, pode fazer isso!

Parei, mas não me virei. Esperei um momento, fiz meia volta e fui até o conselheiro, que continuava no chão, ao lado do monte de cinzas que antes era minha mãe.

Com um gesto, um ponto de luz vermelha começou a sair de meus dedos.

- E porque eu deveria? Você... Você me ensinou todas as coisas que eu nunca deveria ter aprendido.

- ... eu sei disso. Você deve cumprir--

- Agora meu destino está selado, e por sua causa. A sua hora chegou.

O conselheiro fechou os olhos e soltou o ar, como que desistindo. Então eu disse:

- Você merece...

Antes de terminar a frase, eu toquei o velho.

- ... morrer.

Sob o olhar aterrorizado de todos, saí da aldeia para nunca mais voltar.


PS: Perdão, não me lembro qual era o enredo desta campanha.
PS2: Este é o segundo personagem que posto aqui. Leu tudo? Deixe uma nota nos comentários!

9 de mar. de 2010

Horbag Domenescu - Parte 3/4

Na véspera de meu décimo nono aniversário, meu pai e eu estávamos fazendo o desjejum. Havíamos voltado ao local daqueles incidentes do meu nascimento, o que deixou meu pai apreensivo. Quando perguntei o que havia de errado, ele me contou toda esta história que eu conto aqui. A minha avaliação inicial foi que realmente tudo foi um sonho, ou talvez meu pai tenha previsto o aparecimento do aventureiro naquela noite, enfim. Nada demais.

- Às vezes os deuses nos mandam sinais estranhos, pai.

- Você anda conversando muito com o conselheiro. O que sabe sobre os deuses?

- Muita coisa.

A cara dele não ficou menos carrancuda com o meu sorriso.

- Relaxa, pai. Não vai acontecer nada amanhã. Vamos, termine seu desjejum e vamos à plantação. Temos muito o que fazer hoje.

O dia transcorreu sem maiores problemas. No fim da tarde, voltávamos do trabalho, quando vi uma pequena peça de madeira no chão. Pensei ser um dos instrumentos da colheita, mas era um pequeno chicote. Bem parecido com o das histórias de meu pai. Resolvi esconder pra que meu pai não se desesperasse. É bem provável que tenha sido o mesmo que ele achou, e que perdeu naquela mesma noite chuvosa aqui. Ele devia estar enterrado ali por todos aqueles anos.

De qualquer forma, fiquei intrigado, pois era a prova de que não tinha sido um sonho. Bem, talvez o homem teria sido uma alucinação. Na árvore que meu pai havia mencionado não estava escrito nada, por isso simplesmente guardei aquele amuleto e o escondi. Mas pensei muito em tudo aquilo. Comecei a acreditar que eu era uma espécie de escolhido. Mas escolhido por quem? E porquê eu?

No dia seguinte, porém, acordei com um grito de terror. Meus pais já haviam saído da barraca e estavam ajoelhados no chão. Do lado deles, um corpo. Minha mãe chorava. Quando me aproximei, meu pai gritou:

- É o conselheiro! Ele foi ferido! Precisamos salvá-lo!

Nesse pequeno intervalo de tempo entre a fala de meu pai e a minha resposta, muita coisa se passou na minha cabeça.

Pensei nas invasões orcs que nos deixavam sempre feridos e com, pelo menos, umas três baixas. Mas eles nunca me atacavam diretamente.

Pensei nos meus melhores amigos, de infância, que morreram por desnutrição. Aparentemente a qualidade do nosso grão não era boa o bastante para nossa subsistência. Mas eu nunca fiquei fraco.

Ao contrário, todos na aldeia ficavam frequentemente. E morriam por causa dessas doenças. Mas eu nunca fiquei doente.

Pensei na filha do velho conselheiro, que havia sido atacada por uma cobra, e morreu com as veias todas altas e roxas. Uma visão horrível.

E, finalmente, lembrei do sofrimento que a minha mãe passou durante o meu nascimento.

Todos os fatos trágicos que já aconteceram com nossa aldeia...

Me lembrei também do que senti perante esses fatos todos, e como eu ia cada vez mais absorvendo aquilo, ao invés de sofrer como todos os outros. Pra mim, aquilo estava virando uma rotina, até que passei a achar normal e até necessário que aquelas provações acontecessem. Até que, por fim, admiti que eu realmente gostava de ver o sofrimento dos outros.

Quando voltei à realidade, em uma fração de segundo, eu já sabia que realmente havia sido escolhido por um deus que fazia as pessoas sofrerem. Uma deusa. Por Loviatar. O chicote de nove pontas, a profecia, o velho misterioso do dia do meu nascimento. Tudo fazia sentido. Ela havia me enviado uma mensagem clara naquele momento.

Era eu quem devia levar o sofrimento necessário aos outros. Era uma missão nobre.

Por isso, a resposta a meu pai foi fria.

- É o conselheiro! Ele foi ferido! Precisamos salvá-lo!

- Não, meu pai.

Meu pai não podia acreditar no que havia ouvido.

- O quê? Como pode dizer isso, meu filho? Não vê que ele foi ferido por uma lâmina?

- Os deuses não erram, pai. Se ele foi ferido, é porque os deuses quiseram. Todos têm sua carga de sofrimento.

Meu pai ficou em silêncio, apenas me olhando, estarrecido.

- Sacrifiquem-no de uma vez - disse uma voz atrás de mim. Virei-me e vi o verdadeiro motivo do estarrecimento do meu pai.

O velho da noite chuvosa se encontrava à minha frente com uma adaga banhada em sangue.

- Você... Você feriu o conselheiro! Vai pagar por isso! - avançou meu pai, mas eu o interrompi.

- Espere, pai. Não lute com esse homem. Ele é um mensageiro divino.

- Exatamente - retrucou o velho. - Lembra-se daquela noite? Sim. Este mesmo filho que agora o detém havia sido escolhido 19 anos atrás. Ele tem sorte de ter sido escolhido, normalmente os humanos é que vão atrás dos poderes dos deuses.

Calei-me e evitei o olhar poderoso de meu pai. Eu não podia negar aquilo.

- Sim, meu jovem. Você sabe que foi escolhido. Os números... O símbolo que você achou... O sofrimento de seus entes queridos. Tudo se encaixa. Loviatar sorriu para você.

Meu pai olhou assustado pra mim.

- Você... Você achou o símbolo? Aquilo é um símbolo sagrado? De um deus?

Nesse momento, eu hesitei. Teria aquele homem ferido o conselheiro para cumprir a profecia? Ou ele era simplesmente um homem mau e eu estava delirando? Não, tudo se encaixava bem demais para que fosse delírio...

Todos os aldeões já estavam reunidos àquela altura, olhando as estranhas cenas. Algumas mulheres estavam desesperadas.

Meu pai avançou novamente, e desta vez eu não consegui detê-lo.

- Não! De jeito nenhum! Tome isto, seu velho mentiroso!

- Não, pai!

(continua...)

PS: Comenta aí, véi!

6 de mar. de 2010

Horbag Domenescu - Parte 2/4

No dia seguinte, meu pai se sentiu extremamente cansado. Minha mãe cotinuava a sofrer. Pensou na noite anterior e preocupou-se em saber se havia sido verdade o que havia passado. Procurou o amuleto e não o encontrou. Depois foi até a árvore e não viu os números escritos. E concluiu que tudo não passou de um sonho.

Mas minha mãe continuava a ter dores cada vez mais intensas e agudas.

A chuva continuou, e alguns aldeões já estavam ficando doentes, devido à falta do nosso plantio. Em uma das tardes, meu pai foi avisado por uma das mulheres que um aventureiro havia nos achado. A princípio, achou estranho ele estar sozinho e também de ter nos encontrado tão rápido. Também estranhou o fato de nosso conselheiro não ter levantado qualquer suspeita a respeito do recém-chegado, ao ponto de mandar todos se reunirem para recepcioná-lo.

Qual não foi a surpresa de meu pai quando viu que o aventureiro era o mesmo velho daquela noite. Ao ver a chegada de meu pai, o velho retribuiu seu olhar inquisidor com um sorriso e palavras amigáveis. Aparentemente, o conselheiro havia dito que sua mulher estava grávida e que o filho viria a qualquer momento, e o aventureiro, que dizia ter habilidades de parteiro, se ofereceu para ajudar. Meu pai nem teve tempo de responder, pois ele já ia se dirigindo para a barraca onde se encontrava minha mãe. Um outro ato estranho, já que aparentemente ninguém havia lhe indicado onde minha mãe estava.

Lá dentro, ela se contorcia em dor. Já não eram mais dores comuns, era como se todo o corpo de minha mãe estivesse tomado por dor. Ela estava com as pernas e braços rígidos, e gritava muito. O velho disse que isso pode acontecer de vez em quando com mulheres grávidas.

- Eu já vi casos em que as mulheres ficam até dez dias assim - disse.

De início, meu pai pensou ser só uma coincidência. Porém, o velho completou:

- Mas não se preocupe. Seu filho crescerá forte como um garanhão de dezenove anos!

Definitvamente, não era coincidência. O velho havia falado os dois números escritos na árvore.

- Bem, parece que não vai nascer agora. Infelizmente tenho que seguir caminho. Mas dê bastante líquido pra ela até o nascimento, pois ela perderá muito. E frutas também. A natureza e os deuses farão o resto.

Coincidência ou não, dez dias após seu início, a chuva parou. E meu nascimento veio com o primeiro raio de sol que conseguiu atravessar primeira brecha que as nuvens escuras do céu deram. O conselheiro da aldeia disse para meus pais que isso era um bom sinal, pois cheguei como o salvador da aldeia. Ele disse que eu trouxera o sol junto comigo e esperança para que vivêssemos por mais um pouco. Porém, meu pai sabia que isso não era verdade -- aquele homem misterioso da noite anterior, o amuleto, a profecia. Tentou demonstrar alegria pra não transparecer preocupação à mulher. E passou 19 anos criando o seu filho da melhor maneira possível.

PS: Se você leu tudo isto, não custa nada comentar, né?

3 de mar. de 2010

Horbag Domenescu - Parte 1/4

Nota: Essa é a história de um personagem MAU. Você foi avisado.
Nota 2: O jogo é ambientado em Forgotten Realms.


Há dezenove anos, meus pais eram agricultores felizes em uma pequena aldeia em Vaasa, chamada Kuchtarg. Na verdade, não sei se "aldeia" é o termo correto: éramos umas trinta pessoas vivendo num reino pelo qual onde orcs e meio-orcs iam e vinham. Até alguns aventureiros maus vinham nos importunar. Ou seja, tínhamos de mudar de lugar de tempos em tempos, até que aventureiros chegassem perto demais e, antes que pudessem nos descobrir e vir em hordas nos saquear, mudaríamos.

O que era estranho é que éramos nômades, mas nos mantínhamos mais ou menos na mesma região, quando poderíamos ir mais longe. Ou até mesmo sair de Vaasa e ir até Damara. Mas eu jamais poderia imaginar por quê não saíamos dali.

Havíamos acabado de sentar acampamento no nosso novo local. Deveria durar umas trinta luas até que mudássemos de novo. Deveria.

Na mesma noite, começou a chover. E a chuva durou mais do que o normal. Não conseguíamos plantar, pois o solo encharcado não favorecia. Assim, os homens da tribo foram obrigados a sair todas as manhãs para caçar e colher. Meu pai não pôde ir, pois teve que dar assistência à minha mãe, grávida de nove meses. Ela sofria de dores horríveis antes do meu nascimento, algo que era incomum.

Na noite do nono dia, todos se recolheram, mas meu pai ficou acordado. Disse que tinha um pressentimento que sua mulher ia dar à luz naquele instante. Hoje, mais velho, penso que quando ele me contou essa história, acho que na verdade ele queria era que o sofrimento dela -- e dele, por consequência -- acabassem. Porém, isso não aconteceu. Minha mãe continuou a sofrer as estranhas e intensas dores, que a impediam até mesmo de dormir. Mas não a meu pai, que acabou por adormecer.

Foi acordado por um estrondo. Pensou ter sido um relâmpago em uma árvore próxima, e colocou a cabeça pra fora da barraca. Viu uma figura escura se mexendo por entre as árvores, como que procurando algo. Pensou em acordar todos com medo de ser um aventureiro, mas a figura permanecia ali.

De repente, a silhueta parou, mexeu um pouco a cabeça como se tivesse percebido algo, e começou a vir na direção de meu pai. Um frio correu pelas costas dele, e por alguma razão ele não conseguiu se mexer. A figura havia se transformado em um homem velho, mas forte, que parou na frente da cabeça já molhada de meu pai e disse:

- Será que o senhor não poderia me ajudar? Estou procurando algo muito valioso para mim que caiu naquelas árvores e se afundou na lama.

Meu pai não respondeu. Ficou olhando o homem por alguns segundos.

Uma explosão repentina jogou meu pai para trás. Ele ficou meio atordoado e estava meio cego. Um leve zunido subiu em seu ouvido. Alguns segundos e um cheiro de queimado invadiu a barraca. Assustado, mas cauteloso, ele olhou pra fora da barraca de novo e viu o homem carbonizado, com algumas fagulhas ainda em seu corpo, e algumas marcas pretas no chão. Ele havia sido atingido por um raio.

Então, meu pai foi até as árvores onde viu o homem pela primeira vez, e, sem muito esforço, achou um pequeno chicote de nove pontas. Muito pequeno pra ser usado como arma, seria uma espécie de amuleto. Quando se levantou, viu nas árvores dois números escritos: 10 e 19. Não entendeu porque, mas começou a voltar à barraca para dormir de vez.

Ao se aproximar da barraca, porém, viu que as marcas haviam sumido, assim como o corpo. Teria tido uma espécie de alucinação? Estaria ele sonhando?

Intrigado, entrou na barraca e dormiu.

PS: Leu? O que achou? Comenta aí!

28 de fev. de 2010

As regras do Mau Mau Voador

O Mau Mau Voador deve ser jogado, idealmente, de 5 a 12 pessoas. Dois baralhos completos, com os coringas, devem ser usados.

Distribua 7 cartas, uma por vez, para cada um dos jogadores. As cartas restantes - o monte - devem ser colocadas no meio da mesa, com a face para baixo. A primeira carta deve ser virada para cima e colocada ao lado. Esta é a primeira carta do descarte.

O objetivo é descartar todas as cartas da mão. Quando um jogador possuir apenas uma carta na mão, é obrigado a dizer, em voz alta, "mau mau". Caso não o faça até que o próximo jogador jogue uma carta, os outros podem acusá-lo de não ter dito, e nesse caso, o jogador omisso deverá comprar 7 cartas do monte.

O jogo sempre começa no sentido anti-horário. Cada jogador, na sua vez, pode jogar uma carta de mesmo valor ou de mesmo naipe que a carta que está no topo do descarte. Ou seja, o primeiro jogador deve respeitar a primeira carta que foi virada do monte. Se ela for uma carta especial, o efeito se aplica (veja abaixo).

Caso o jogador não possua uma carta de mesmo valor, mesmo naipe, um valete ou um coringa (veja abaixo), ele deve comprar uma carta do monte. Se a carta servir, ele pode jogá-la. Caso contrário, perde a vez.

Existem algumas cartas especiais que geram um ou mais efeitos no jogo. Para exemplificar, vamos imaginar uma roda com os jogadores Alfredo, Beatriz, César, Daniele e Edmundo, no sentido anti-horário.

Ás - pula o próximo jogador. Ex.: se Beatriz joga um Ás, César deixa de jogar e a vez passa para Daniele. Se fosse no sentido horário, Alfredo perderia a vez e ela passaria a ser de Edmundo.

7 - o próximo jogador é obrigado a comprar 3 cartas. Caso possua outro 7, ele pode jogá-lo e passar o castigo para o próximo jogador, que também pode fazer o mesmo processo. Ex.: Edmundo joga um 7. Alfredo tem que comprar 3 cartas. Se Alfredo possuir um 7, ele pode descartá-lo e, nesse caso, Beatriz tem que comprar 6 cartas. Se ela tiver um outro 7, pode jogá-lo e César terá que comprar 9 cartas, e assim por diante. O jogador que comprar as cartas perde a vez.

9 - o jogador anterior é obrigado a comprar uma carta. Ao contrário do 7, o 9 não é cumulativo. Ex.: César joga um 9. Beatriz tem que comprar uma carta.

Valete - o jogador que descartá-la pode escolher o naipe da próxima jogada. O Valete pode ser jogado sobre qualquer carta, não sendo necessário respeitar o naipe ou o valor da carta do topo do descarte. Caso um jogador vença o jogo com um Valete, todos da mesa tem que comprar 1 carta do monte. Ex.: se Daniele joga um 4, Edmundo pode jogar um valete e dizer que Alfredo tem que jogar uma carta de copas.

Dama - inverte o sentido do jogo. Ex.: se Alfredo joga um 5, e Beatriz joga uma Dama, a vez volta a ser de Alfredo, e depois será de Edmundo, Daniele e César.

Rei - é a carta do silêncio. Sempre que um Rei for jogado, todos os jogadores estão proibidos de pronunciar quaisquer palavras. É permitido rir. O jogo segue normalmente, e só é permitido falar novamente quando outro Rei for jogado. Caso um jogador fique com apenas uma única carta durante este tempo, ele deverá, ao invés de dizer "mau mau", dar dois toques na mesa.

Coringa - funciona como o 7, só que ao invés de 3 cartas, o próximo jogador deve comprar 5 cartas. Caso este jogador possua um coringa na mão, ele pode jogá-lo para que o próximo tenha que comprar 10 cartas, e assim por diante. O Coringa pode ser jogado sobre qualquer carta. O jogo segue com o último descarte diferente de um coringa. Ex.: Edmundo joga um 3 de Ouros. Alfredo, não tem um 3, nem cartas de Ouros, mas tem um Coringa e o joga. Beatriz não tem um Coringa e deve comprar 5 cartas, perdendo a vez. César segue o jogo, devendo jogar um 3 ou uma carta de Ouros (a última carta antes dos Coringas).

Além das cartas especiais, ainda existem outras duas regras:

Roubar a vez - se qualquer jogador possuir uma carta igual à que está no topo do descarte, com exceção do Coringa, pode jogá-la, roubando a vez de outro jogador. Com isso, ele tem o direito de jogar outra carta. Ex.: Alfredo joga um 8 de Espadas. A vez passa a ser de Beatriz, que pode jogar qualquer 8 ou qualquer carta de Espadas. Porém, Daniele tem um 8 de Espadas e o descarta antes de Beatriz, roubando a vez. Agora, Daniele é que tem que jogar um 8 ou uma carta de Espadas. Se a cartas utilizada para roubar a vez for uma das cartas especiais, perde o efeito.

Dobradinha - se um jogador, na sua vez, possuir uma carta igual à que está no topo, ele pode escolher roubar a própria vez e descartar mais cartas, ou então aplicar a Dobradinha, isto é, o próximo jogador é obrigado a comprar 2 cartas do monte, mas não perde a vez de jogar.

Regra Opcional - A carta Osama

Antes da distribuição das cartas, uma carta é sorteada e mostrada para todos os jogadores. Esta carta é o Osama. Todas, exceto o Coringa, podem ser o Osama. Depois desse momento, a carta é colocada novamente no baralho e ninguém poderá mencioná-la pelo nome durante o jogo, ou fazer qualquer referência ao fato dela ser o Osama (ex.: apontar com o dedo e dizer: "olha!"), sob pena de comprar 4 cartas. A carta Osama deve ser guardada na mente.

O jogador que possuir o Osama pode jogá-la em cima de qualquer carta, não sendo necessário respeitar o naipe ou valor. Nesse caso, o jogador deve mencionar que está fazendo um "atentado", apontando para a carta, e pode escolher qualquer jogador da mesa para comprar 8 cartas. Caso este jogador escolhido possua um outro Osama, ele pode fazer uma "retaliação", e escolher qualquer um da mesa (inclusive o jogador que atentou contra ele) para comprar 16 cartas. O jogo segue com a última carta diferente do Osama como sendo a do topo do descarte.

O jogador pode, se quiser, jogá-la com o valor normal dela (ex.: caso seja um 7 de Espadas, o próximo compra 3 cartas). Se for assim jogada, deve respeitar a regra básica de mesmo naipe ou valor.

Caso um jogador descarte o Osama como sua última carta (ou seja, vencendo o jogo), todos os jogadores da mesa tem que comprar 4 cartas.

25 de fev. de 2010

Backstab

Diferentemente das outras, essa letra tem arranjo. Pense numa música a la Elvis Presley. Ainda não há versão gravada...

The night showed up
She rang my phone
"I wanna go out
You 'n me alone"
I drove my car
And we were done
I took my guitar and sang my song

Oh yeah!
She robbed my heart
And then we went my place to make some "art"

As soon as we arrived
She opened the door
Four kisses or five
My jacket on the floor
We went to my room
She took my wallet
And then boom, bang, boom boom, bang bang

Yeah
She stole my arts
And then she's gone away and broke my heart

She took my money
She took my car
She took everything
But not my guitar
I fought with her
Defending my love
'Coz when I sing I go above

With her
My dear guitar
At least my rock 'n roll don't make me scars
At least my rock 'n roll don't make me scars
At least my rock 'n roll don't make me scars

19 de fev. de 2010

O Caixeiro Viajante - Parte 4/4

O caixeiro voltou ao castelo. Ao entrar no salão do trono, logo à frente da entrada
do corredor que leva à câmara do Cisne Vermelho, ele as viu.

Os Quatro Entes, perfilados, lindos e cheios de energia positiva. Uma energia quente.
O caixeiro se sentia muito bem ali.

Por um momento, ficou entorpecido. Mas estava decidido.

- Não. - disse de forma taciturna.

Os Quatro Entes não se moveram. Mas algo estava acontecendo.

Da esquerda para a direita, Ariel, Tharsis, Kerub e Seraph se alternavam entre
grandes explosões de aura e ausência total de cor. Tudo acontecia cada vez mais
rápido. O caixeiro ficou tonto.

Por fim, os Quatro Entes se moveram, e começaram a dançar uma valsa...

[música: Enya - Only Time]

Aos pares, eles pareciam ficar cada vez mais translúcidos... E pareciam atravessar
uns aos outros...

"E quem pode dizer para onde esta estrada vai
Ou para onde o dia vai
Somente o tempo...

E quem pode dizer se seu amor cresce
Quando o seu coração escolhe
Somente o tempo..."

A vozes delas sumiam na luz... Coros perfeitos... Harmonizadas como se fossem apenas
uma...

"E quem pode dizer porque seu coração suspira
Quando seu amor voa
Somente o tempo...

E quem pode dizer porque seu coração chora
Quando seu amor mente
Somente o tempo..."

De tempos em tempos, elas trocavam de par... Até que o caixeiro não percebeu o
momento em que só haviam três delas...

"E quem pode dizer, quando as estradas se cruzam
Que o amor pode estar no seu coração...

E quem pode dizer, quando o dia dorme
Que a noite olhará pelo seu coração...

A noite olhará pelo seu coração!"

Até que em um momento, o caixeiro viu à sua frente a figura que tinha visto antes: a
dos Quatro Entes, reunidos. Uma só mulher, a mais bela de todas... Ela estendeu a mão
para ele, e cantou:

"E quem pode dizer para onde esta estrada vai
Ou para onde o dia vai
Somente o tempo...

E quem pode dizer se seu amor cresce
Quando o seu coração escolhe
Somente o tempo...

Quem pode dizer? Somente o tempo..."

O caixeiro se viu na Câmara do Cisne Vermelho... E lá ficou.

(...)

Quando acordou, o caixeiro se viu fora do castelo. Deitado no chão, a chuva caía
sobre seu rosto. Exatamente como da outra vez. Teve medo. E saiu fora dos muros do
Reino do Castelo Celeste. Sem rumo...

Quando souberam da notícia, os Quatro Entes mandaram uma das amazonas mais valentes e
leais que possuíam... Com uma mensagem. A amazona partiu em busca do caixeiro, e não
iria desistir até que o encontrasse...

16 de fev. de 2010

O Caixeiro Viajante - Parte 3/4: Dia 16

O caixeiro juntou suas trouxas, mas deixou suas bugigangas lá - elas não faziam mais sentido pra ele. Caminhou em direção à ponte levadiça que levava pra fora dos muros do castelo. Virou-se, deu mais uma olhada para o Castelo Celeste - quis que não fosse a última - e se foi. Ele sabia que precisava pensar direito, mas fora da influência da magia do Castelo... A ponte levadiça se abriu, e ele se encontrou fora dos muros celestes...

Passou-se o tempo, e o caixeiro voltou...

O Caixeiro Viajante - Parte 3/4: Dia 15

O caixeiro se sentiu com frio. Abriu os olhos e estava fora do castelo novamente. A chuva caía, e ele viu atrás de si o Castelo. Tinha certeza de que aquilo não tinha sido um sonho, foi real. Mas, como todo ser humano, começou a ter medo. "Porque os Entes me escolheram, não sou digno", pensava. "Os Quatro Entes têm tanto poder, por que eu, logo um andarilho pobre?" Ele não podia responder. Mas, ao mesmo tempo, queria voltar para o Castelo. E foi o que ele fez. Voltou-se... Subiu as escadas... E entrou. Lá dentro, o salão lhe pareceu diferente. Apesar de ter as mesmas paredes celestes, algo estava diferente. À frente do portão das quatro faixas, a jovem de pele azul - que agora possuía alguns toques em vermelho, como se uma constante luz vermelha a iluminasse de cima - estava parada, fitando-o. Ele foi até ela, e disse: "Senhora... Não sou digno do presente que vós me concedeis." Esperou uma resposta... Após um pouco de silêncio, ela disse: "Eu sou a Fonte. Sou o corpo, a mente, o espírito e o coração. E eu os dou a quem quiser. Se tens medo de viver o que dou-te, és livre para ir embora. Mas pensa no que fazes, pois será uma chance única. Eventualmente, tu podes voltar, mas tudo será diferente. Vai, pequeno cisne. E volta com a tua decisão."

O Caixeiro Viajante - Parte 3/4: Dia 14

Com a chegada da poderosa jovem de pele azul, o caixeiro recuperou a confiança. Levantou-se e, apoiado pelo leve toque das belas mãos da jovem, adentrou-se à escuridão que parecia impregnar o interior do salão atrás do portão... Porém, ao entrar, o caixeiro se viu no lugar mais lindo de toda a sua vida. O lugar parecia ao ar livre, apesar do caixeiro saber que ali era o interior do Castelo Celeste... A mulher, então, o conduziu até aquele corredor - o que possuía um cisne vermelho acima de sua entrada. Ela parou, olhou com uma ternura sublime para o caixeiro, e entrou. O caixeiro podia ver, na outra ponta do corredor, uma silhueta. Sabia que era Tharsis. A intensidade daquele momento o fez querer seguir a jovem de pele azul. Então, ele entrou! E foi tomado por uma luz vermelha, tênue... A jovem que seguia havia desaparecido... Já no meio do corredor, viu uma figura se aproximar... E, à medida que ela se aproximava, seu coração batia mais forte... A intensidade subia sua adrenalina, era um momento de puro sentimento... A jovem se aproximou e disse: "Feche os olhos..." E ele se sentiu tocado na face... E cada toque da mulher - que era a mesma jovem de pele azul, mas envolta numa luz vermelha - parecia entrar dentro de todo o seu corpo... Sem abrir os olhos, o caixeiro se aproximou da jovem... E a beijou.

O Caixeiro Viajante - Parte 3/4: Dia 13

As três se entreolharam. Abriram um grande sorriso. Então, sem saber qual das três havia dito, ouviu uma voz dizendo "É chegada a hora." Elas pareciam translúcidas... E voavam pelo chão. Não pareciam caminhar... Elas entraram pelo portão e desapareceram na escuridão... O caixeiro se sentiu mal. Abandonado e sozinho. Caiu de joelhos, quis alguém... Então, de lá de dentro, surgiu outra figura, uma que ele nunca havia visto antes. Era uma mulher jovem, de olhos profundamente verdes e cabelos castanhos, longos... Ela tinha a pele azul, vestia uma túnica anil e emanava uma energia branca... O caixeiro percebeu de quem se tratava. Era a essência daquela terra, a fonte de todo o poder daquele lugar. Eram as três reunidas. Mas o caixeiro sabia que faltava o coração...

O Caixeiro Viajante - Parte 3/4: Dia 12

Mal sabia ele, mas dentro do Castelo o tempo passava diferente. Cada hora ali dentro era um dia lá fora. Quando Ariel parecia querer dizer algo, surgiu Kerub. Ela estava maravilhosamente bem vestida, com um azul turquesa que possuía o mesmo efeito do anil de Ariel - a vermelhidão palpitante. E assim continuou, apenas olhando, sem dizer nada. Parecia querer desfalecer, mas sabia que se encontraria lá fora novamente quando acordasse... E resistiu. Permanceu imóvel, esperando que uma das duas falasse... Quase logo após de completar este pensamento, sentiu um fluxo de energia atrás do portão, como se tudo que estivesse ao seu redor se reunisse em um único ponto. Então, a outra parte do portão se abriu, e de lá de dentro veio Seraph. A criança tinha um olhar incompreensível, mas ao mesmo tempo atraente, irresistível...

O Caixeiro Viajante - Parte 3/4: Dia 11

O caixeiro mal dormiu de ansiedade. Ao nascer do sol, caminhou em direção ao castelo, sem olhá-lo diretamente. Por alguma razão, as portas já se encontravam abertas... O caixeiro entrou, e viu exatamente o que viu no seu suposto sonho. As mesmas paredes celestes, o mesmo grande portão com as quatro faixas paralelas. Quis entrar, mas algo o fez esperar. Então, com uma voz tímida, ele disse "Kerub!"... Um eco prolongadíssimo de sua voz rebateu nas paredes do Castelo Celeste. Depois disso, um silêncio sepulcral. O caixeiro esperou... E o portão lentamente se abriu. Parecia estar escuro lá dentro... Um figura surgiu do portão. Era Ariel. O anil de sua roupa inundou o coração do caixeiro, que parecia ver Ariel mas sentir Kerub. Novamente, o anil de Ariel parecia vermelho por vezes... E ali ele ficou. Olhando Ariel e Ariel o olhando... Por alguns minutos.

O Caixeiro Viajante - Parte 3/4: Dia 10

O caixeiro já acordava contando os dias para a entrada no castelo. Faltavam 6, pela sua conta. Mas ele estava confuso, afinal o tempo naquele lugar parecia transcorrer diferente. Lá estava ele, cantando e dançando com seus amigos - todos feitos durante sua estadia nos campos - até que viu todos pararem e olharem para um só lugar. De costas, o caixeiro sabia que todos olhavam para o Castelo. Imediatamente, o caixeiro se virou. Não viu ninguém. Ficou pensando por um tempo... e sentiu que devia ver Ariel e Kerub. No caminho para o castelo, perguntou-se porque não ficou com vontade de ver Seraph. "Porque estou sempre com você", uma voz lhe disse. Ele sorriu e continuou... Mas parou. Hesitou e preferiu enfrentar o dia seguinte...

O Caixeiro Viajante - Parte 3/4: Dia 9

Tudo havia voltado à "normalidade". Os camponeses dançavam, bebiam e cantavam, novamente. Aquele povo era tão feliz... O que acontecia? Por que ele se sentia tão feliz também? Parecia que tudo à volta do castelo era envolto em magia, parecia que o castelo emanava uma aura anil fina, suave... Ele se sentia cada vez mais atraído por aquele lugar...

O Caixeiro Viajante - Parte 3/4: Dia 8

O caixeiro acordou de um pulo. Como se tivesse sido chamado, ele saiu de sua cama improvisada no chão com folhas de bananeira, saiu da barraca e olhou. Lá elas estavam. Ariel, Seraph e Kerub estavam sentadas na escadaria frontal do Castelo Celeste. Era isso o que ele esperava ontem, e aconteceu hoje... Sem saber porque, o caixeiro abriu um grande sorriso... E quando deu por si, já estava parado em frente às três moças. Quis perguntar onde está Tharsis, o coração, mas segurou sua pergunta - ele sabia que um dia a veria... Depois disso o dia transcorreu muito bem... Ele se sentia cada vez mais preparado para encarar os Quatro Entes... Ele finalmente veria Tharsis!

O Caixeiro Viajante - Parte 3/4: Dia 7

Finalmente, a Reveirada chegava. Os camponeses nao dançavam nem cantavam nesse dia - eles acreditavam que isso poderia ser ruim para os deuses. O caixeiro, na companhia da hospitaleira mulher, fazia o mesmo que todos os camponeses: olhava para cima, admirando o eclipse. Era um momento único - a lua menor, Jo, se sobrepunha à lua maior, Bei. Atrás delas, uma estrela, Bra, as coroava. Um tríplice eclipse. De repente, algo interrompeu a admiração do caixeiro - o menino que lhe acordara no campo naquele dia havia caído no Lago do Espelho, que ficava atrás do Castelo Celeste. Sua mãe ficou perturbadíssima, e chorou. O caixeiro quis consolá-la, e conseguiu. E, juntos, os dois continuaram a admirar o eclipse. Mas o caixeiro ficou um pouco decepcionado, pois esperava que algo acontecesse com o Castelo naquela noite...

O Caixeiro Viajante - Parte 3/4: Dia 6

O sexto dia já estava no clima da Reveirada. Os camponeses começaram a enfeitar suas barracas com fitas brancas. A mulher dona da barraca na qual ele se hospedara lhe explicou que isso era pra que os feitiços do passado não recaiam sobre suas cabeças no futuro. Ele ficou pensando naquilo e, sem saber porque, arrumou uma pequena fita branca e amarrou em seu calcanhar.

O Caixeiro Viajante - Parte 3/4: Dia 5

No quinto dia, o caixeiro viu uma apresentação teatral dos camponeses. E ele adorou, claro. Afinal, ele gostava muito de representação. Era atraído por isso... O musical falava de um casal que teve que se separar devido à incredulidade do homem em relação a ele mesmo - ele a amava demais para que ela o merecesse. Violinos, harpas e gaitas de fole embalavam as danças e as cenas. O caixeiro sentiu-se emocionado com aquilo - o que pra ele era algo inexplicável - e sentiu uma lágrima rolar pelo seu rosto ao final da apresentação... Ele nunca havia sentido aquilo.

O Caixeiro Viajante - Parte 3/4: Dia 4

O quarto dia foi como o segundo. Dança, comida, bebida... Mas foi um pouco diferente. A saudade do castelo era maior, e o castelo parecia cada vez mais uma coisa atraente. Pessoas falavam de um evento que aconteceria no sétimo dia. Algo como um eclipse, ao qual os camponeses chamavam de "Reveirada". O caixeiro ficou pensando no que poderia ser aquilo.

O Caixeiro Viajante - Parte 3/4: Dia 3

Na manhã do terceiro dia, o caixeiro pensava sobre sua noite. Ele que era um andarilho acostumado a estar sempre só, sentiu solidão. Queria algo pra alegrar seu coração. Pensou nos quatro entes. Ele não havia visto o quarto ente ainda. Sem querer admitir, o caixeiro começou a desenvolver uma certa ansiedade de entrar no castelo novamente. Lembrou-se das paredes internas e da porta com as quatro faixas paralelas... O corredor com a figura do cisne... As três belas mulheres... Enfim, o caixeiro começou a sentir saudade.

O Caixeiro Viajante - Parte 3/4: Dia 2

A segunda noite do caixeiro no acampamento camponês foi bastante tranquila. Nenhum movimento vinha do castelo - que por vezes o aterrorizava. O Castelo Celeste parecia estar parado. Ele era tão azul que parecia ser transparente, quando visto sobre o tênue azul do céu. E o caixeiro, por fim, despreocupou-se. Fez festa com os camponeses, bebeu, comeu e dançou. Como aquele povo podia ser tão feliz, todos os dias? Ele não entendia...

O Caixeiro Viajante - Parte 3/4: Dia 1

O dia começou calmo. O caixeiro pensava e repensava em seu sonho. Teria mesmo aquilo sido um sonho? O caixeiro não poderia responder. Ele saiu da barraca da jovem mulher que lhe acolheu - a mesma que havia lhe dado de comer - e olhou o céu. A chuva que havia caído ontem parecia ter ido embora. Ao longe, o caixeiro observou, nas escadarias do castelo, uma mulher, aparentemente mais velha, vestida em anil. Seu manto caía de seus ombros como uma cachoeira. Por vezes, o caixeiro pensou ter visto as vestes da mulher mudarem de cor. Viu relances de vermelho, branco e azul. Mas o vestido era anil, seus olhos não podiam enganá-lo. De repente, reconheceu a mulher. Como era mesmo o nome dela? ...Ariel. Então, como se tivesse percebido que estava sendo observada, Ariel entrou de volta no castelo.

13 de fev. de 2010

O Caixeiro Viajante - Parte 2/4

O caixeiro se viu fora do Castelo Celeste. Por um momento, pensou ser um truque da
mágica das três mulheres... Não. Não poderia ser. Elas não pareciam ter algum poder.
Será que aquele corredor tinha algum poder mágico? Será que perdi a consciência? Não
fazia sentido...

Seu pensamento foi interrompido por um garoto:

- Moço? Tudo bem com você?

Somente com a pergunta do garoto que o caixeiro se deu conta do lugar onde se
encontrava. Ainda estava dentro dos muros. Ao longe, o Castelo Celeste. No
descampado, as mesmas aldeias. A terra onde deitava estava molhada; o caixeiro logo
deduziu que uma chuva tinha acabado de terminar.

- Moço?

- Estou bem, garotinho - disse.

O garotinho abriu um sorriso tão inocente que fez com que o caixeiro sorrisse também.
Correu na direção de uma das barracas:

- Mamãe, mamãe, ele está bem!

O caixeiro se levantou e olhou novamente para o castelo. Quis entender o que havia
acontecido. Em pé, à frente da porta principal, a mesma jovem que disse o esperar em
seu sonho. Ela parecia vigiá-lo de longe...

- Ah, aí está você - disse uma senhora, que o caixeiro instintivamente adivinhou ser
a mãe do garotinho. - Então você finalmente acordou. Venha, coma conosco.

- Onde estou? - o caixeiro não se aguentou.

- Este é o Reino Celeste.

- Reino Celeste... Nunca ouvi falar.

- Não é muito conhecido, pois poucos viajantes se interessaram em entrar aqui. Alguns
têm medo.

- E quem governa estas terras?

- Não há governantes. Nós governamos a nós mesmos.

- Então quem mora no castelo?

- Os quatro entes.

O caixeiro tremeu.

- ... quatro?

- Sim. Kerub, o corpo azul; Seraph, o espírito branco; Ariel, a mente anil; e
Tharsis, o coração vermelho.

O caixeiro não podia acreditar. Começou a duvidar que tenha sido um sonho... Sua
cabeça estava confusa.

- E por que eles moram lá?

- Eles são a essência do nosso povo. Nós somos eles, e eles são nós.

- ... não entendi.

- Não se preocupe em entender. Imagine apenas que eles são as pedras preciosas, e nós
os joalheiros. Eles, por si só, já seriam plenos, mas nós os lapidamos. A harmonia é
essencial.

O caixeiro permaneceu em silêncio, pensando no que significava aquilo. Não demorou
muito, e uma jovem muito parecida com a de seu sonho foi até ele.

- Senhor? Os quatro entes o querem ver em 16 noites, a contar de hoje.

- Me ver?

A jovem sorriu docemente, se virou e caminhou em direção ao castelo. Vendo a cara de
dúvida do caixeiro, a mãe aconselhou:

- Vá. Não se pode desperdiçar uma oportunidade de ir até a fonte. Mas, enquanto isso,
fique conosco. Temos muito a oferecer!

E sem que o caixeiro se desse conta, já havia várias fogueiras e camponeses tocando
músicas e dançando. Era impossível não se contagiar com aquilo.


... e então se passaram as 16 noites.

10 de fev. de 2010

O Caixeiro Viajante - Parte 1/4

O título é batido pra quem fez o mesmo curso superior que eu. Mas a história é o que importa, então, vamos lá.

Era uma vez um caixeiro viajante. Desses que andam estradas e estradas vendendo suas bugigangas. Um dia, esse caixeiro passou em frente a um castelo. Quando viu o castelo pela primeira vez, o caixeiro pensou que fosse apenas mais um castelo, como todos os outros. Muros altos e um portão bonito, mas pouco atraente.

O caixeiro não quis entrar, a princípio. Mas, como se soubessem que ele estava ali, em frente ao castelo, o portão começou a abrir. Quando o grande pedaço de madeira desceu ao chão, encostando na outra margem do fosso que cercava o castelo, ele pensou que provavelmente eles estariam o convidando a entrar.

Sem saber porque, ele foi.

Lá dentro, o caixeiro se impressionou. Cercado pelos muros, haviam muitas barracas e aldeias no descampado do castelo. Muitos camponeses se reuniam em festa. Cantavam, dançavam e acendiam fogueiras. O caixeiro nada entendeu, pois apesar da pobreza aparente, os camponeses eram muito felizes.

Mais adiante, já perto da grande construção em pedra sabão que era o castelo, o caixeiro avistou uma pessoa na porta. Era uma figura toda em azul, que parecia esperá-lo. Ao se aproximar, percebeu se tratar de uma jovem, extremamente atraente. Ele se lembrou de uma de suas histórias ao olhar para a jovem. Quando se aventurou na região perto de sua terra natal, conheceu uma pessoa muito parecida com a jovem. Mas isso é uma outra história...

A jovem, quando da chegada do caixeiro, disse:

- Esperávamos você. Venha...

A voz dela parecia sumir no vento.

O caixeiro pensou estar sonhando. Como sabiam da chegada dele? Como sabiam que ele iria entrar? A voz daquela jovem...

À medida que entravam pelo castelo celeste - sim, pois ele brilhava como as estrelas e era de um azul profundo e sereno - ele foi ficando mais calmo e feliz, sem motivo aparente. Seria mágica? Ele já não entendia nada, mas sentia-se profundamente atraído por aquele lugar...

Eles chegaram a um portão, que tinha quatro faixas paralelas no meio: branco, azul, anil e vermelho. Quis entender o que significava aquilo. Foi quando os portões se abriram e, sem que a jovem falasse, ele entrou, como se já soubesse o que fazer.

Lá dentro, ele se surpreendeu. Viu três mulheres ainda mais belas que a jovem. Sentiu uma coisa intensa ao olhar para as três, mas não soube definir o que era...

Elas estavam vestidas com uma túnica simples, as quais deixavam seus belos corpos bem realçados. Cada uma tinha uma cor. E também uma idade, aparentemente.

- Eu sou o corpo - disse a jovem, que estava ao centro.
- Eu sou a mente - disse a velha, que estava à direita.
- Eu sou o espírito - disse a criança, que estava à esquerda.

O caixeiro reparou que elas se vestiam com três das quatro cores da porta: branco, anil e azul. Sem saber porque, perguntou:

- Onde está o coração?

As três se entreolharam e abriram um grande sorriso... Então, elas se recolheram à direita do salão, deixando à mostra a entrada de um corredor. Acima dela, havia um pequeno símbolo vermelho, que lembrava a figura de um cisne.

O caixeiro ficou surpreso. Não sabia como não tinha percebido o corredor antes. Não sabia o que fazer. Mas, instintivamente, ia em direção ao corredor. Começou a ter uma vontade enorme de atravessá-lo...

... mas hesitou.

Teve medo.

Então o caixeiro começou a pensar no que poderia estar se metendo... E resolveu parar. E agora ele pensa se deve ou não entrar...

5 de fev. de 2010

May

Como esta, aqui vai mais uma letra de música sem arranjo.

Hey, glass one
Can your heart listen to me?
I'm here, waiting not for you
But for you to be

Hey, stone one
Do you think you can cheat me?
I can taste in your words
That you are overseas

Hey, shut one
You're afraid of what?
The future is uncertain
Never knew what you got

(chorus)
Release, let go
You didn't have to change
You didn't have to fear
Release, let go
I have some to exchange
That feeling that I'm near

If I hurt you again
I'll heal it again

You, confused one
May have already passed
And I still feel like 13th
That day I'll never forget

You, hot-hearted one
Who launched me up there
That got me laid down
And caressed all my hair

Yeah, you, melty one
I think you deserve this
At least a brick of the mansion
That you builded in a kiss

(chorus)
Release, let go
You didn't have to change
You didn't have to fear
Release, let go
I have some to exchange
That feeling that I'm near

If I hurt you again
I'll heal it...
Again...

1 de fev. de 2010

Poema Elemental #3

Nota: O jogo em questão não foi exatamente assim, e os jogadores sequer sabiam das informações abaixo. Portanto, essa é uma história de ficção - duplamente qualificada.

Ventava lá em cima, mas o silêncio era absoluto. Era como se os ares tivessem ganho vida própria e guiassem o navio voador que levava os aventureiros. Lá embaixo, a Nimaídia. Ninguém falava nada, nem sabia para onde o navio os estava levando.

- Ok, pessoal, acho que entendi - falou Kranus, repentinamente. Todos o olharam, mas demoraram a se aproximar.

- Lembrem-se do primeiro pergaminho. Falava sobre a torre em que descíamos, que libertaríamos uma força misteriosa, e que teríamos um inimigo. Teve o carinha do fogo lá em Romani, que era o mestre da nossa clériga, a Katrina aqui, lembram? Ele tava possuído, e quando recobrou a consciência, viu que tinha feito bobagem e se matou. Aí, ganhamos esta gema vermelha, e toda a Nimaídia começou a esfriar.

Os outros tentavam entender onde o feiticeiro queria chegar.

- Bem, vimos um dragão que mudava de cor... - susurrou Katrina, na tentativa de quebrar aquele clima de palestra.

- Um dragão, não,
O dragão - Kranus interrompeu a gnomo. - Seguindo-o, chegamos à montanha na península do sudeste, aquele pico esverdeado. Tivemos até que mergulhar na terra. Lá, encontramos o segundo poema escrito na parede. Ele falava sobre frio sendo libertado, e que o inimigo morreria se tentasse impedir. Pelo menos foi assim que eu interpretei.

Mais uma pausa.

- Logo que o achamos, fomos atacados pelos trigêmeos. Vencemos com custo, mas aquilo me pareceu mais um teste do que propriamente um inimigo, pois depois da batalha encontramos esta gema verde. E, coincidentemente ou não, toda a Nimaídia passou a ter ventanias como nunca antes foram vistas.

As palavras do feiticeiro ressoaram com o vento. O navio havia chegado ao seu destino.

John Dumadin estava confuso. Era um bárbaro, tinha dificuldades para raciocinar com clareza. Olhou para os livros que sua mãe, Sian, lhe dera na noite em que ele a conheceu. A mesma em que ela se foi. Ironicamente, o anão, que viveu sua infância com amnésia, se lembrou do que ela havia dito em seu leito de morte.

Os pensamentos passam rápido, mas são interrompidos quando Kranus retoma:

- Agora, vejam este, que encontramos no famoso Derjan, o monte dos ventos eternos:

One can hold
this scroll of power
and access the flow
of the autumn hour

For its spell will fly
in the speed of air
bringing justice
to this evil lair

When the enemy takes
her face outta the wind
she'll sleep at once
and her soul'll be pinned

Kranus achou que todos haviam compreendido instantaneamente.

- Achamos esta gema amarela. As grandes ventanias se desfizeram. E estamos voando, não estamos? Na velocidade do ar?

Ninguém disse nada.

- Não vêem? Derrotamos o guardião da gema vermelha, um especialista em fogo, e as nevascas apareceram. Destruímos os guardiões das gemas verdes, três crianças feitas de terra pura, e as ventanias apareceram. Vencemos um velhinho que controla os ares, guardião da gema amarela--

- ... e as ventanias desapareceram! Entendi! O equilíbrio entre terra e ar foi reestabelecido - concluiu Abrieht, sorridente. - Ao derrotarmos um guardião, o elemento perde força, e com o desequilíbrio, o elemento oposto fica mais forte. Daí as nevascas e ventanias.

- Conclusão digna de um druida, caríssima fada - replicou Kranus com um certo desdém. - É por isso que nossas magias baseadas nesses elementos perderam força.

- Portanto, só precisamos reequlibrar o fogo e a água, e as nevascas desaparecerão? - perguntou Iluvatar.

- Exatamente. "Só" o que temos que fazer é achar o guardião da última gema, que, pela lógica, deve ser azul. E este pergaminho, o dos Ventos, contém as instruções.

Vujak, que quase nunca falava nada, surpreendeu a todos arriscando:

- E o inimigo do poema, o tal guardião, é um dragão?

- Já falei, não é um dragão qualquer! - repetiu o feiticeiro, impaciente. - Ele é o dragão que me deu estes poderes. Eu o conheço desde quando eu era pequeno. Ele está com problemas e eu... Eu preciso salvá-lo. Ele tem um bom coração, mas está diferente, mau. Ele é azul metálico, e não multi-cor como vimos...

Kranus pensou um tempo.

- Mas não posso garantir que ele é, de fato, o guardião da gema azul. E nem que encontraremos o último pergaminho. Mas é o que está escrito neste que acabo de ler.

O navio voador encontrava-se, agora, parado acima da montanha onde Kranus nasceu. Dali, Vujak viu uma enorme cratera, que aparentemente ia dar no fundo da Cordilheira dos Garens. O ranger sabia o que aquilo significava.

O grupo se entreolhou.

- Acha que essa história basta para que você nos convença a descer até lá com você? - perguntou o Bardo, ceticamente.

Kranus estremeceu. O olhar que Iluvatar lhe lançou foi tão inquisidor que ele quase sentiu que a luz que chegava ao olhos do ladino voltava para ele. Suspirou:

- E que escolha vocês têm?

Uma brisa silenciosa passou pelo convés e a vela principal farfalhou.

PS: Se leu, deixe um comentário!

28 de jan. de 2010

As Luas Pastoras - Faixa 3

Ao som de Enya - How Can I Keep From Singing?

A jovem canta pelo seu amado. Espera sua volta. Sentada na cama, as palavras apareciam em sua cabeça. A melodia era inventada na hora. Caminhou até a janela e lamentou.

Da janela, ela via a praça. Um casal conversava. Ela viu o seu amado ali. A mulher, era ela. Instintivamente, continuava cantando. Sem perceber. Pensava e cantava.

Seus olhos remeteram à estátua: era a de seu pai. A espada que a estátua empunhava era brilhante. Olhou para o rosto da estátua: viu o seu amado. Sentiu dor no coração. A espada era realmente muito brilhante. A música countinuava. Alguém parecia cantar com ela.

Ouviu algo: era uma estrela cadente. Fez um pedido. Então, aquele cavaleiro que acabara de sair da estalagem começou a lutar com a estátua. Estranhamente, ela não sentiu medo. Ficara observando a luta. Sem parar de cantar.

As espadas, quando se encontravam, produziam faíscas, mas som algum. A luta, apesar de árdua, era suave. Os movimentos dos gladiadores eram lentos. Ela percebia tudo.

Até que o cavaleiro venceu a luta com a estátua. A estátua caiu de joelhos. A espada perdeu o brilho. Ela apertou contra seu peito aquela medalha. A estátua cáia morta no chão da praça. O cavaleiro deu as costas e foi embora. Seus olhos se encheram de lágrimas. A música era incessante.

Saiu da janela: na cama havia algo. Aproximou-se, e viu uma carta. Abriu: era o seu amado. Dizia que voltaria logo. Na janela, ela percebeu alguém. Teve vontade de fugir, mas foi interrompida pela suavidade do contorno daquela criatura. Sim, era ela quem cantava. A música adormeceu a moça. Dormiu em meio às suas lágrimas, pensamentos e versos daquele espírito.

25 de jan. de 2010

As Luas Pastoras - Faixa 2

Ao som de Enya - Caribbean Blue

A mulher desceu à Terra. Desceu em uma floresta. Pares de olhos pipocaram: eram elfos crianças. Ela caminhou em direção ao que parecia ser a luz de uma vila. Enganou-se. A luz vinha de uma outra moça, mais jovem. Olhou as orelhas: eram pontudas. A bela elfa disse:

"Eurus, Afer Ventus"

Aquelas palavras deixaram a mulher em transe. Sem que percebesse, as crianças saíram de trás das árvores e começaram a cantar. Faziam uma roda em torno dela. A mulher, em uma resposta instintiva, fechou os olhos. As vozes das crianças entravam em seu ouvido como uma cachoeira. As crianças a levaram para um campo aberto.

Eis que ela se viu em um lugar mágico. Fadas voavam. Ela olhou em volta: nada havia, apenas seres que ela pensava não existirem. Então ela se entregou à música, e da mesma forma que fez com as luas, fez o seu balé com os pequeninos elfos. Era uma coreografia perfeita.

A jovem elfa apareceu do nada. Disse mais algumas palavras. A voz dela era melodiosa. A mulher, ao ouvir a voz daquela elfa, quis levá-la aos céus. A elfa fez menção de não querer ir por um momento. Porém, a mulher pegou a mão da elfa.

Foram às alturas, sem que a música que as crianças cantavam ficasse mais fraca. Elas sentiam o coração flutuar. A elfa, logo que teve o privilégio de ver o mundo de cima, perdeu o suposto medo. A mesma luz azul que refletiu antes na face da mulher as envolvia. Elas voaram até as luas. A mulher largou a mão da elfa: naquele instante, ela hesitou, mas as luas eram tão belas!

As que antes eram duas, agora eram quatro. E o balé era perfeito. Mais ainda que o primeiro. As luas voltaram a cantar. Luzes dançavam, estrelas cadentes passavam como pássaros pelas quatro. As luas cantavam de maneira ainda mais bela.

A mulher então não resistiu: cantou com as três. As vozes eram como os acordes de um piano, porém mais suaves. Elas viajavam pelo céu, causando um efeito luminoso. As luas tomaram as formas humanas que haviam tomado antes: os cabelos das quatro se entrelaçavam de maneira que pareciam ser um só. Elas se cruzavam e se afastavam. O brilho era tal que em um instante foi muito forte...

(...)

Então a mulher percebeu que tinha que procurar abrigo. E seguiu seu caminho.

22 de jan. de 2010

As Luas Pastoras - Faixa 1

A próxima sequência é na verdade um trabalho interrompido. A idéia era escrever pequenos contos, cada um análogo a uma música de um famoso álbum da Enya, Shepherd Moons, e os textos deveriam ser lidos ouvindo as músicas. Infelizmente, só fiz as três primeiras faixas. Talvez eu as complete em algum dia.

Ao som de Enya - Shepherd Moons

Lá estava ela. Sentada na nuvem. Olhava as luas: uma encobria a outra. Uma era acinzentada, e a outra dourada. As duas se uniam no céu. Elas pareciam cantar. Cada uma tinha sua própria voz. Os tons se encaixavam perfeitamente em uma harmonia indescritível.

Eis que então elas se moveram. Faziam um balé no céu. Uma ia em direção oposta à outra. Quando menos se percebia, elas se cruzavam. A junção das duas no céu refletia um brilho azulado na face daquela mulher. As luas eram tão lindas! Tudo em volta deixou de existir. Eram apenas as três. A nuvem na qual a moça sentava de desfez. Ela voava. Sem perceber.

Então, aquela moça que até agora só observava, sentiu uma imensa vontade de se unir às luas. Ela subiu aos céus. Cantou com elas. As três vozes se encaixavam também em uma harmonia indescritível. Porém, era algo diferente. Agora, as vozes criavam uma luz brilhante, cuja cor era algo entre negro e azul. E as luzes envolviam a moça e as luas. O balé se tornou algo espontâneo: as luas agora eram três, e eram agora mais lindas que antes. As luas tomaram forma humana: o cabelo era sua luz.

De repente as luas pararam de se mexer e de cantar. A mulher percebeu que havia sentido algo que jamais sentira. Sentiu viver.

18 de jan. de 2010

Dante Thriansky - Parte 4/4

Dellon - ou melhor, Dante - sabia que teria que chegar a Arcanix antes do amanhecer, se quisesse ter alguma chance de não ser encontrado pelos seus ex-companheiros agora. Correu o mais rápido que pôde e se escondeu em uma pequena floresta ali perto.

"Algo me diz que fiz a coisa certa", pensou. Com a experiência de andarilho que possuía, estava fácil prever quando a notícia de que o Escultor de Mentes estava em Marketplace. "A essa hora, o Capitão Brinn deve estar morrendo de raiva", riu de si mesmo.

Um pouco de mágica para mudar a sua aparência e Dante estava no caminho novamente. Desta vez, usava um traje de sábio e uma ilusão que o fazia parecer ter uma longa barba branca. Curvou-se um pouco, jogou seu capuz sobre sua cabeça e foi andando normalmente pela estrada até Arcanix. Porém, as ilusões e disfarces foram desnecessários, pois estranhamente ele não encontrou ninguém pelo caminho.

Chegando em Arcanix, tratou logo de desfazer as ilusões e usar um bigode postiço. "Sem mágica aqui", determinou. "Preciso de abrigo."

Dante teve a nítida sensação de que muitas pessoas o observavam até a estalagem mais próxima. Ficou pensando se seu bigode postiço estava meio torto.

- Um quarto, por favor - disse ao estalajadeiro.

- Pois não, senhor. Qual o seu nome?

- Diran. Diran Malinsky.

- É uma peça de ouro por noite, Sr. Malinsky. Trabalhamos com pagamento adiantado.

- Tudo bem.

Dante jogou uma moeda de ouro sobre o balcão e acompanhou a bela assistente do estalajadeiro até o quarto. Antes de entrar, não resistiu.

- Desculpe, mas uma criatura tão angelical quanto você deve ter um nome à altura.

- Freya, senhor.

- Freya. Um nome mais que angelical -- é divino, literalmente. A sua beleza foi enviada pelos deuses.

A jovem de cabelos dourados corou.

- ... obrigada, senhor.

- Não gostaria de entrar para um... papo?

Freya ficou com o olhar fixo por um tempo. Voltando a si, olhou para trás, como se estivesse vigiando alguém, e entrou.

PS: A aventura começou nessa estalagem. Tratava-se de uma encomenda de um ricaço excêntrico e bon-vivant, que tinha duas dríades como companheiras. Ele queria que recuperássemos um tesouro - um livro - do outro lado do mundo, e nos pagaria uma boa grana. Para isso, tínhamos que embarcar em um navio pirata...
PS2: Não esqueça de comentar!

15 de jan. de 2010

Dante Thriansky - Parte 3/4

A noite era fria. O comboio se reuniu à volta da fogueira para passar o tempo. Com as barrigas cheias depois do desjejum, a conversa era animada, apesar do incidente da última noite Gavrin e o chefe da caravana.

- Pois eu sei de um caso ainda melhor que o seu, Androvitch - disse Dellon. - Corre a lenda que, há três anos, em Breland, mais precisamente em Sharn, um homem chamado Danial, que se dizia um mago daqui de Aundair, subiu em um palanque em praça pública e pronunciou alguns dizeres contra as negociações comerciais entre as duas nações. Dizia asneiras como "Breland é imperialista" e que "Aundair é parasita". Era um discurso um tanto populista, e por isso, conseguiu juntar mais de cem pessoas à sua volta. Com um gesto rápido, hipnotizou todos que ali estavam lhe ouvindo e roubou todo o dinheiro deles. O pior é que todos dizem não se lembrar de nada, e ninguém tem provas disso.

- Mas como você sabe disso então, Dellon? - retrucou Androvitch.

- Ora, é uma lenda popular. Qualquer que já tenha visitado Sharn sabe disso. Você sabe...

Ele fez um movimento estranho.

- ... não sabe?

Androvitch ficou imóvel por um momento. Finalmente, como quem volta à superfície após estar afogando, disse:

- Sim... É-- é verdade...

- Exato. Como eu pensava. Mercadores ambulantes como vocês já foram a todas as partes.

Depois de uns cinco segundos nos quais o crepitar do fogo era o único som à beira da estrada, Dellon falou.

- Bem senhores, vou me recolher. Amanhã ainda temos muito chão pela frente antes de voltarmos para Marketplace.

Os outros se deitaram pensando porque nunca haviam ouvido falar daquela lenda em Sharn antes. Acordaram com menos um homem no comboio e menos todo o dinheiro que levavam.

PS: Comenta aí!

11 de jan. de 2010

Dante Thriansky - Parte 2/4

- Então até logo, tio Rednar - disse Podo, sobrinho de Aaron Hew, um dos comerciantes mais famosos de Cragwar, uma vila na na fronteira dos reinos de Breland e Aundair. Ele havia ajudado o parceiro de seu pai, Rednar Androvitch, um mercador ambulante de outra cidade, Marketplace, a descarregar as especiarias daquela semana.

- Até logo, Podo!

O comboio de comerciantes, chefiados por Androvitch e escoltados pelo famoso grupo de mercenários que a milícia de Marketplace havia contratado, partiu de volta ao vilarejo. "Missão cumprida, mais uma vez", pensava Androvitch. Pouco prestava atenção na insatisfação de um também famoso artificer que fazia parte do comboio.

- Veja, Dellon. Já fazem três meses que estamos ajudando este... este... gordo, e não conseguimos fazer uma renda minimamente decente. Pensei que variaríamos as rotas comerciais, mas escoltamos essa linha Hew-Androvitch umas 90% das vezes, e pra quê? Pra ganhar uma mixaria dessas?

- Acalme-se, Gavrin. Chegando em Marketplace conversaremos com o capitão Brinn. Ele nos entenderá e pagará o que merecemos. Mas, por ora, devemos ficar quietos.

- Não, Dellon, não vou ficar quieto. Já estou farto disso! Eu preciso de dinheiro para pagar meus estudos, e essas escoltas estão tomando meu tempo de estudos, portanto estou ficando sem dinheiro e sem tempo! Como vou concluir o meu curso assim?

- Olha só, podemos barganhar com o capitão. Garanto que ele vai nos entender.

Gavrin estranhou.

- Você me parece bem confiante, Dellon.

- Bem... Vamos apenas dizer que eu tenho... hmmm... lábia.

Gavrin se acalmou um pouco. Afinal, a inabalável confiança do companheiro estranhamente lhe havia dado alguma também. Mas viajou sem parar de pensar no seu baixo soldo.

Subitamente, Gavrin falou.

- Ei, Androvitch! Será que você não poderia nos dar uma comissão? O soldo que o Capitão Brinn nos dá é bem baixo, não acha?

- Comissão? Comissão?!? Ha! Você só pode estar brincando. Você já ganha o bastante para estas viagens, meu jovem, não precisa de mais. Fique quieto ganhando seu dinheiro, ok?

Aquilo foi só a fagulha para a combustão que estava adormecida.

- Meu jovem??? Quem você pensa que é, seu porco nojento? E quem você pensa que eu sou?? Não sou um aventureiro qualquer, meu caro, eu sou acadêmico! E só fiz esse trabalho sujo de escolta porque precisava urgentemente de dinheiro! Não pense que foi pela aventura, pois elas não me valeram de nada!

Dellon arregalou os olhos, mas tentou acalmar o companheiro.

- Gavrin... Não faça--

- E quer saber? Eu estou fora! Pra mim já basta dessas aventurazinhas imprestáveis! Eu tenho mais o que contribuir para o mundo! Vou arrumar uma maneira de ganhar algum dinheiro e concluir a faculdade, e aí você vai ver só quem eu sou, seu elefante asqueroso!

E sem mais uma palavra, saiu da estrada em direção ao nada.


PS: Gavrin veio posteriormente se tornar o Prof. Gavrin, artificer. Ele era o personagem de um jogador.
PS2: Histórias de personagens cruzadas são legais.
PS3: Aparentemente sem conexão com a história anterior? Aguarde o próximo capítulo. Ou deduza você mesmo. :)
PS4: Comente algo, por favor!