27 de mar. de 2006

Senóide

Há poucos dias eu queria distribuir abraços, certo?

Is there a reason
Why a broken dream can never fly?
Is there a reason
You believe and then you close your eyes?
Give me a reason
Why you hide away so much inside
If there's a reason
I don't know why...
- Someone Said Goodbye [Enya]


Pois hoje, eu é que queria um.

21 de mar. de 2006

Ailuropoda melanoleuca

Não é pra me gabar, de verdade. Mas muita gente me diz que meu abraço é bom. Mas porque será que elas dizem isso?

Dar um abraço é um ato de entrega muito grande, não é simplesmente um cumprimento. Se você quer apenas cumprimentar, um aceno ou um aperto de mão são suficientes. Porém, abraçar é dar calor humano, é aproximar os corações. E é isso o que eu faço, ou tento fazer, quando estou abraçando alguém.

Porém, não dá pra dar um abraço desse tipo quando é alguém com quem não se tem muita intimidade. Dessa forma, quando essa situação acontece, normalmente eu dou uns tapinhas nas costas, junto com aquele abraço de lado, daqueles que você passa um braço só. Ou então, um de frente mesmo, mas dá uma esfregadinha nas costas da pessoa e é isso aí.

Mas não é desse tipo de abraço que eu quero falar. Quero falar é do outro.

Aquele que você literalmente passa os dois braços ao redor da pessoa, em toda a extensão deles. Uma orelha praticamente encosta com a outra, com o corpo ereto, sem evitar contato. Abraço é pra ter contato mesmo, ora.

Tem que ter uma ligeira força. Algo entre "gosto de você" e "não quero te perder".

Alguns, dependendo da intensidade e do sentimento para com a pessoa, merecem até o mesmo instinto do beijo: fechar os olhos...

Já abracei pessoas assim e quando ia me desvencilhar, não deixaram. E tive que continuar abraçando. Já fiquei mais de dez minutos num mesmo abraço. Já dei um abraço desse tipo em duas pessoas ao mesmo tempo. E todos são ótimos.

Bem. Tudo isso foi porque ontem eu senti muita vontade de dar um abraço em alguém -- e realmente o fiz. Uma pequena distorção divertida da realidade: digamos que eu esteja com, hã, excesso de amor dentro de mim. Preciso entregar isso para as pessoas. E, de fato, é muito bom fazer isso...

Alguém quer um abraço?

14 de mar. de 2006

Three Smiles

Eu e uma amiga sentados na escada do Coreto da Liberdade, comendo chocolate. Havia um cara fazendo malabarismos com argolas e outro brincando com umas cordinhas com pesos nas pontas.

Chamou-me a atenção um casal que andava pela praça, passeando, com sua filhinha. Esta última, elétrica, não parava de correr e pular, pra todos os lados. Ela veio na direção do coreto e começou a subir as escadas. Quando ia passar por nós, parou, virou-se e disse:

- Come on, daddy! Come on, mommy! Let's go up here!

Troquei um olhar com a minha amiga, ambos agradavelmente surpresos com o fato dela ter falado inglês. Subiu o coreto e começou a correria. Era legal vê-la entoando músicas infantis em inglês, contando até 5 como só menininhas sabem fazer: "one, two, three, four, five"... Não resisti.

- Hey, sweetie! Come over here... Can you tell me your name?
- It's Laaaauryyn.
- My name is Clara - disse a minha amiga.
- Oh, that's a beeeaaautiful naaame...

Impossível não sorrir.

Aí ela se virou e continuou a correr e saltar. Olhei pro casal: a esposa era brasileira com certeza. Era morena, tinha cara de Brasil. O marido é que deveria ser o estrangeiro. E minha suspeita se comprovou quando ele veio conversar com a gente. Disse que o povo brasileiro é muito mais hospitaleiro e pacífico que o americano. Que aqui todo mundo é feliz mesmo se não tiver sucesso na vida, etc.

Nesse ínterim, Lauryn voltou. Mais uma vez fui brincar com ela.

- Lauryn, do you know the alphabet song?
- Nooo... But I know the ABC's: A, B, C, D...

Mais um momento sorridente.

- But that's the song I was talking about!

Ela não me ouviu. Já estava do outro lado do coreto e no fim do alfabeto. O pai dela me contou que ela tinha três anos e estava adorando o Brasil. Ele também. Ele se chamava Tim. Reparei que ele ficava olhando Lauryn brincar, vigiando. Não deixava ela ir muito longe. Lauryn passsou por mim novamente.

- I want my jacket!
- But Lauryn - disse eu - you can't go downstairs. You have to ask you mom and dad first.

Ela me olhou por uns dois segundos, voltou e foi até os pais.

- Mommy? Daddy? Can I go downstairs so I can get my jacket?

Eis aí o terceiro sorriso.

Fomos embora, porque já era tarde e era segunda-feira. Eles também estavam indo. Deu pra admirar mais um pouco a felicidade pueril, a capacidade das crianças de se divertir com absolutamente nada - Lauryn estava pulando a esmo pra qualquer lado.

Bem. Quando chegar a hora, definitivamente, quero ser pai.

4 de mar. de 2006

Que a "Força" esteja com "vocês"

Lembram-se das aulas de física? Sir Issac Newton estabeleceu as três grandes leis da cinemática dos corpos. Mas o que ele não sabia é que, forçando um pouco a barra, dá pra transportar isso para um campo que, teoricamente, não é explicado por nenhuma lei. Acompanhem o raciocínio.

A Segunda Lei de Newton diz:

"A resultante das forças de agem num corpo é igual ao produto de sua massa pela aceleração adquirida."


O coração, sem dúvida, tem massa. Eu diria mais: ele tem vida e consciência próprios, e muitas vezes parece que ele discorda do nosso cérebro de propósito. Além disso, ele tem batido num ritmo constante, invariável. Nada faz acelerar meu coração, ou, pra efeito de equilíbrio, desacelerá-lo. E olha que meu cérebro tem tentado arduamente costurar caminhos onde uma aceleração seja possível. Bem, não sei se vocês me entendem.

Assim, posso dizer que, se a "aceleração" é zero, então a resultante das "forças" que atuam sobre o coração é zero.

Agora, vejamos a Primeira Lei:

"Um corpo que esteja em movimento ou em repouso, manterá seu estado inicial se a resultante das forças que atuam sobre ele é nula."


Percebem a ligação? Meu coração não vai a lugar nenhum. Está parado. E porque? Porque a resultante das "forças" que atuam sobre ele dá zero? Há pequenas flutuações, sempre pra frente, mas logo ele volta para o zero.

Dois casos são possíveis, um em que não há "forças" atuando sobre ele -- o que não vou cometer o infortúnio de dizer -- ou as "forças" todas se equilibram. Ou seja, há "forças" atuando. Elas tentam me puxar pra alguma direção. E há várias. O problema é que Newton e sua Terceira Lei dizem:

"Para toda força aplicada, existe outra de mesmo módulo, mesma direção e sentido oposto."


Aqui é que está o ponto onde forço um pouco a barra. Na física clássica, estas forças opostas são aplicadas a corpos diferentes. Mas no caso do meu coração, não. Assim, qualquer "força" que seja aplicada nele gera uma igual no sentido oposto, mantendo a resultante em zero. E a constatação mais aterradora: essa "força" contrária é gerada por mim mesmo.

E essa pequena aula de física traz a dúvida: porque me sinto assim? Medo? Dúvida? Trauma? Ou tudo junto?

Acredito mais na última opção. Pelo menos a resultante é zero, pior seria se a resultante das "forças" me fizesse retroceder.

A minha esperança-quase-certeza é que uma dessas "forças" aplicadas por outras pessoas aumente, pra que a força gerada por mim mesmo em sentido contrário não seja suficiente pra anulá-la. E assim eu possa, finalmente, avançar.