30 de dez. de 2005

Reveirada

Legal essa idéia do reveillon. De que estamos saindo de uma época para entrar em outra. Numericamente falando, com certeza. Mas esse espírito que se eleva em todos, uma esperança de renovação, de que as coisas agora vão ser melhores. Uma esperança que todo ser humano tem, e que na época do reveillon parece que "sai" mais facilmente. Pois o que eu desejo pra mim, pra você e pra todos é que possamos fazê-lo sempre que precisarmos, e não somente na época do reveillon. Pensem comigo: se no reveillon somos tão capazes de alimentar nossas aspirações pelo futuro, porque não o somos durante o ano, quando as coisas parecem se perder, ou terminar?

... será que realmente não o somos?

De brinde, um pequeno trecho que relata o que houve há duas translações atrás - recheados de metáforas, naturalmente. E até o ano que vem...

(trilha sonora durante a confecção do artigo: Celtic Twilight 2 - 02- Bill Douglas - Highstep)

(...)
4- O quarto dia foi como o segundo. Dança, comida, bebida... Mas foi um pouco diferente. A saudade do castelo era maior, e o castelo parecia cada vez mais uma coisa atraente. Pessoas falavam de um evento que aconteceria no sétimo dia. Algo como um eclipse, ao qual os camponeses chamavam de "Reveirada". O caixeiro ficou pensando no que poderia ser aquilo.

5- No quinto dia, o caixeiro viu uma apresentação teatral dos camponeses. E ele adorou, claro. Afinal, ele gostava muito de representação. Era atraído por isso... O musical falava de um casal que teve que se separar devido à incredulidade do homem em relação a ele mesmo - ele a amava demais para que ela o merecesse. Violinos, harpas e gaitas de fole embalavam as danças e as cenas. O caixeiro sentiu-se emocionado com aquilo - o que pra ele era algo inexplicável - e sentiu uma lágrima rolar pelo seu rosto ao final da apresentação... Ele nunca havia sentido aquilo.

6- O sexto dia já estava no clima da Reveirada. Os camponeses começaram a enfeitar suas barracas com fitas brancas. A mulher dona da barraca na qual ele se hospedara lhe explicou que isso era pra que os feitiços do passado não recaiam sobre suas cabeças no futuro. Ele ficou pensando naquilo e, sem saber porque, arrumou uma pequena fita branca e amarrou em seu calcanhar.

7- Finalmente, a Reveirada chegava. Os camponeses nao dançavam nem cantavam nesse dia - eles acreditavam que isso poderia ser ruim para os deuses. O caixeiro, na companhia da hospitaleira mulher, fazia o mesmo que todos os camponeses: olhava para cima, admirando o eclipse. Era um momento único - a lua menor, Jo, se sobrepunha à lua maior, Bei. Atrás delas, uma estrela, Bra, as coroava. Um tríplice eclipse. De repente, algo interrompeu a admiração do caixeiro - o menino que lhe acordara no campo naquele dia havia caído no Lago do Espelho, que ficava atrás do Castelo Celeste. Sua mãe ficou perturbadíssima, e chorou. O caixeiro quis consolá-la, e conseguiu. E, juntos, os dois continuaram a admirar o eclipse. Mas o caixeiro ficou um pouco decepcionado, pois esperava que algo acontecesse com o Castelo naquela noite...

8- O caixeiro acordou de um pulo. Como se tivesse sido chamado, ele saiu de sua cama improvisada no chão com folhas de bananeira, saiu da barraca e olhou. Lá elas estavam. Ariel, Seraph e Kerub estavam sentadas na escadaria frontal do Castelo Celeste. Era isso o que ele esperava ontem, e aconteceu hoje... Sem saber porque, o caixeiro abriu um grande sorriso... E quando deu por si, já estava parado em frente às três moças. Quis perguntar onde está Tharsis, o coração, mas segurou sua pergunta - ele sabia que um dia a veria... Depois disso o dia transcorreu muito bem... Ele se sentia cada vez mais preparado para encarar os Quatro Entes... Ele finalmente veria Tharsis!
(...)
- O Caixeiro Viajante no Reino Celeste, cap. 3


27 de dez. de 2005

Princípio Ativo

Nem mesmo as nuvens de chuva, baixas, banhadas pela luz rósea do pôr-do-sol por baixo, e delineadas pelo cinzento que é de sua natureza acima ele conseguia admirar. Elas eram belas, ele sabia que elas eram belas, e no entanto, aquilo não passava de uma pintura de quadro pra ele.

Ali, sentado na borda da colina, olhava pra baixo e via as copas das árvores se juntarem, formando dunas verdes. Um deserto, cheio de vida. A fina chuva que caía lustrava o deserto, fazendo-o refletir a luz da lua cheia de maneira irregular, como estrelas, transformando as árvores num segundo céu.

O vento frio cortante poderia justificar o seu rosto vermelho quando voltasse pra casa. E seu rosto molhado, é claro, pela chuva. Os olhos vermelhos, bem, ele poderia dizer que ficou acordado a noite toda. E então, ele entraria para o banho e lá ficaria, a água batendo no seu rosto até que ele se desinchasse e ninguém ia perceber nada.

No entanto, mentir para os outros é fácil. Para si mesmo, é tarefa impossível.

Sentado, abrançando as pernas junto ao corpo, cabeça apoiada nos joelhos, tendo como único esforço mexer os olhos de um lado para o outro, ali... Mesmo sabendo que alguém, eventualmente, perceberia que ele ficara tanto tempo fora; mesmo sabendo que tem toda aquela beleza natural a seus pés na encosta da colina, ele não se sentia bem. Ali, ele só se sentia de uma única forma.

Só.


Uma voz conhecida veio detrás.

- Gude?

E as nuvens ficaram belas, e dali de trás, a dona da voz viu, pelo canto do rosto dele, que Gude sorriu.

19 de dez. de 2005

Alter-egos

Há um tempo atrás, Jack, o Estripador, saiu numa aventura e achou um anel malucão. Esse anel tinha as mesmas propriedades da velha capa de Tiago Potter. Aí, ele ficou muito tempo com esse anel e passou esse anel para seu sobrinho Kevin, que morava em Sin City (aliás, nessa cidade o Dr. Malcolm Crowe ficou de salvar a Mulher Invisível, mas isso é uma outra história).

Aí, o Magneto apareceu e disse que o anel era maligno, que era pro Kevin sair da cidade. Então, ele e seu amigo, que era um dos Goonies, ficaram de encontrar com o Magneto em uma estalagem numa cidade a leste dali, porque o Magneto foi se aconselhar com o Conde Dooku. Só que ele descobriu que o Conde Dooku também era mau e foi aprisionado na torre dele.

Aliás, por falar em Magneto, eu fiquei sabendo que o Magneto vai ajudar o Forrest Gump e a Amélie Poulain a desvendar um certo código aí também.

Quando o Kevin e seu amigo Goonie chegaram à estalagem e viram que o Magneto não estava lá, ficaram esperando, mas chamaram atenção demais e tiveram que fugir. No meio do caminho, apareceu a Grace (filha do Dr. Malcom Crowe já citado lá em cima, e que gosta do melhor amigo do Will Hunting) e levou o Kevin e o anel até a casa do Agente Smith, que outro dia era uma drag-queen.

E a partir daí a história se desenrola. Inclusive, um pirata também os ajuda depois.

Vale lembrar que o Conde Dooku já brigou uma vez com o namoradinho da Alice, que já transou com o Dwight, também habitante de Sin City. O Dwight, nessa época, era casado com Uma Linda Mulher. E o Magneto tem também como inimigo mortal ninguém menos que o Capitão Jean-Luc Picard...

13 de dez. de 2005

Uma noite enumerada

Um. Uma tarde sem muitos problemas no serviço. Até tive tempo de estudar um pouco de japonês. Nihongo ga daisuki yo! Meri kurisumasu!

Dois. Espera na porta do shopping pela amiga querida do coração para irmos ao cinema. Enquanto isso, observação atenta, com breves suspiros, da futilidade simultânea à jovialidade das meninas e meninos que ali ficam fazendo sabe-se lá o quê.

Três. A sessão de 20:20 era dublada. Obviamente, compramos a de 21:20 na outra sala. Mas eram 19:15, o que fazer? Comida japonesa. Sushi... Oishii!

Quatro. Antes de irmos para o cinema, uma passadinha na loja de chocolates. R$ 5,00 gastos em chocolatinhos recheados de licor. Hmmm.

Cinco. O filme é sensacional! All hail Queen Susan, the Gentle! (ai, ai...)

Seis. Caminhando até o ponto de ônibus. E a surpresa com a iluminação da Praça da Liberdade! Vão lá ver, porque vale muito a pena. Não deixem de visitar as árvores azul e verde.

Sete. Chegar em casa e ver uma delícia de recado no meu orkut...

De que mais se precisa?




There is always sunshine above the grey sky. You just have to fly high enough.


10 de dez. de 2005

Adeus, ó Janaína!

Quando você chegou pra mim, eu fiquei super feliz. Afinal, era a primeira vez que eu fazia aquilo. Inclusive, à época, todo mundo tinha um pouco de inveja de mim. Você era a mais linda de todas.

Mas bastou um bolso folgado e um momento de inconseqüência pra você ir parar na mão de outro, e depois ir pra sarjeta. Eu tive que te bloquear.

Depois, você voltou com uma nova roupagem. Eu gostava de você, e por isso quis você de novo. E, novamente, eu fui muito feliz. Você não dava nenhum problema pra mim.

Só que você quis ir nadar no mar de Salvador. E morreu afogada. E eu senti sua falta de novo.

Mas resolvi tentar mais uma vez. E você veio, com uma terceira roupa. Tudo ia bem, apesar de você ter perdido um pouco a habilidade de soletrar. Não faz mal, você era como foi das outras duas vezes.

Então, você passou a ter problemas mentais. Dormia do nada, sem a menor explicação, e só acordava quando alguém lhe dava um choque. Isso sem contar as vezes em que você se descuidou e deixou que outros te copiassem. Quando finalmente tentei resolver as coisas, aí você enlouqueceu de vez, e nem falar mais comigo fala.

Portanto, Janaína, me desculpe. Você não serve mais pra mim. Vou te trocar na segunda por uma Célia Lúcia. Enquanto isso, a minha mãe indicou a amiga dela, a Simone, e ela está quebrando o maior galho pra mim.

Vou sentir saudade de quando eu comprei uma roupa prateada pra você. E quando você inventou de fazer esportes radicais, como bungee jump sem elástico e natação de toalete. Tivemos bons momentos, mas é chegada a hora da separação.

Adeus, ó Janaína!

4 de dez. de 2005

Tá grá agam ort

Vocês já devem ter percebido, caros compradores, que eu venho tecendo trapos recorrentes sobre música. Mexe e vira eu tenho escrito sobre uma música que eu ouvi, ou que me passou algo, ou alguma letra, essas coisas.

Portanto, não é de se espantar que eu venha falar exatamente disso agora.

Eu entrei numa loja de coisas esotéricas outro dia, na Savassi. Ela vende incensos, estatuetas, todo tipo de coisa que representa alguma filosofia oriental, e que, portanto, seja algo que nós ocidentais achamos transcendental. Cristais, fontes, bibelôs, figuras de deuses indianos, pequenos budas, florais, CDs... Opa!

Eu vi, na pilha de CDs, um conjunto de 6 álbuns, todos chamados Celtic Twilight. Me interessei, pois gosto de música celta. Bastante, até. Tirei um da pilha pra ver o preço na etiqueta. Trinta e oito reais. Trinta e oito! Cada um! Arre! Não comprei, é claro. Mas gravei o nome da série.

Cheguei em casa e a primeira coisa que fiz foi colocar os benditos pra baixar na Internet. A gente sempre acha esses álbuns completos na Internet facilmente. E dois dias se passaram até que o primeiro deles (que é o vol. 2) se completasse. Mas eu só pude ouvi-los (no sentido real e gostoso da palavra) hoje.

Eu estou... apaixonado. Não consigo parar de ouvir essas músicas. Flautas e gaitas de fole e violinos e percussões. Ora animados como uma festa em volta de uma fogueira num luau irlandês, ora melancólicos como uma donzela loira no alto de uma colina, com os cabelos ao vento olhando para o sul, como que acelerando a volta de seu amado guerreiro.

É como eu pensei certa vez. A música é uma das poucas coisas que o homem inventou que podem, ao mesmo tempo, tocar a alma, a mente, o corpo e o coração. Ar, água, terra e fogo, respectivamente...

No caso de música celta, ela me passa um sentimento diferente. Uma alegria calma, ou uma tranqüilidade alegre. Não é uma empolgação (Pink Floyd e, ultimamente, Fischerspooner), ou uma exteriorização (Rage Against The Machine), ou admiração (Fennesz, Björk).

Aliás, baixei também o novo CD da Enya, Amarantine. Só que eu ainda não ouvi, porque o Celtic Twilight não deixa.

(...) Elas estavam vestidas com uma túnica simples, as quais deixavam seus belos corpos bem realçados. Cada uma tinha uma cor. E também uma idade, aparentemente.

- Eu sou o corpo - disse a jovem, que estava ao centro.
- Eu sou a mente - disse a velha, que estava à direita.
- Eu sou o espírito - disse a criança, que estava à esquerda.

O caixeiro reparou que elas se vestiam com três das quatro cores da porta: branco, anil e azul. Sem saber porque, perguntou:

- Onde está o coração?
(...)
- O Caixeiro Viajante no Reino Celeste, cap. 1

30 de nov. de 2005

Três meia cinco (meia a cada quatro)

Hoje é dia de acordar com o sol.
Dar "bom dia" pra ele,
Vê-lo sorrindo na sua face,
Amarelando os dentes e os olhos.

Hoje é dia de cortar a grama.
Dia de colher as uvas e tomates.
De tirar o leite das cabras,
de fazer manteiga e coalhada.

Hoje é dia de tomar café quentinho.
Dia de sorrir ao ver os filhos.
De conversar animado na mesa,
Pra espantar o mau-humor da manhã.

Hoje é dia de arar a terra.
Dia de preparar as sementes,
Escolhendo os grãos a dedo.
Cada grãozinho uma esperança.

Hoje é dia de lucrar, de investir.
Dia de sentar e fazer as contas:
"Quanto gastei com isso e aquilo"?
Dia de confirmações e decisões.

Hoje é dia de quermesse na vila.
Dia do vestido de cetim da filha,
Pra impressionar o rapazinho.
Dia de redescobrir o tempo.

Hoje, o dia de ano é hoje
Amanhã! Amanhã já se terá passado
Mais uma das voltas do mundo...
E o ontem vai, finalmente, ser ontem.


29 de nov. de 2005

Medo de ter medo

Eu tenho medo de ter medo. Já me vi medroso em várias situações, mas nunca liguei muito pra isso. Mas diante de um certo tipo específico de medo, eu não sou nada corajoso.

O medo de coisas presentes, como o medo que se tem de um cachorro raivoso correndo atrás de você, ou o medo que se tem de conversar com alguém em pleno estado de fúria: esse é o medo legítimo. Uma situação que representa o perigo real, o corpo se enche de adrenalina e fazemos o que quer que seja necessário para sobrevivência (ou integridade física/psicológica/emocional). Sentir esse medo é ruim, mas passa rápido logo depois. É algo efêmero.

O que me arrepia os cabelos e me faz pesar os ombros é o medo de coisas futuras. A famosa preocupação. O próprio nome diz: pré-ocupação. Frita-se demais com coisas, ou consequências dela, que nem aconteceram, ou que não se sabe que aconteceram. O medo de ser - ou ter sido - inconseqüente.

Sentir isso é horrível, eu digo pra vocês. É uma coisa constante, te persegue onde quer que você esteja. É impossível fugir disso como fugir de um cão.

Uma vez, eu conversava com uma amiga minha e ela me perguntou do que eu tinha mais medo. Eu respondi que era de fazer mal às pessoas, qualquer que fosse a forma. Se fosse sem querer, ou sem saber, era pior ainda. Odeio sentir ódio ou raiva. Fico triste quando sinto isso, mas sentir este medo é o pior.

Se por um lado ele é conselheiro, por outro é opressor. Se por um lado é âncora, por outro é um fardo.

E você? Tem medo de quê?

25 de nov. de 2005

A Viagem da Cachoeira-Ducha

Com esse título, parece história de fantasia. O que é possível imaginar a partir dele... Bem, vamos lá.

Quanto estou no banho, um dos raros momentos de privacidade absoluta da vida, tenho o costume de ficar de costas para a parede de onde sai o chuveiro, inclinando levemente a cabeça para a frente, de modo que a ducha cai exatamente sobre a minha nuca e a água escorre pelas costas. Isso durante 96,48% do meu tempo de banho.

Porém resolvi quebrar essa rotina.

Me virei de frente pra parede e levantei o pescoço. Agora, a ducha estava caindo diretamente sobre a parte superior da cabeça, caindo para todos os lados. Achei aquilo divertido e resolvi controlar a água. Inclinei um pouquinho, mas só um pouquinho, para trás. A água começou a cair sobre meu rosto e meu peito. Depois, prum lado, e a água ia pro outro. Pro outro lado. E ficava brincando.

Eu devo ter ficado nessa uns dois minutos. E as partes mais legais eram quando eu inclinava a cabeça pra frente, de modo que a água voltava a escorrer pelas costas que tinham sido expostas ao ar por um certo tempo, me causando calafrios.

Depois, me virei novamente de costas pra parede do chuveiro, e ao invés de voltar à posição "normal" da cabeça inclinada para a frente, fiquei com o pescoço reto. E a água caía de novo sobre a cabeça. Mas dessa vez, eu não estava centralizado, por assim dizer, e um filete de água começou a cair para um dos meus ouvidos, até criar uma cachoeira que bloqueava a entrada de qualquer som, à exceção do prrrrr surdo que a própria água fazia.

De novo achei divertido e tratei de fazer o mesmo com o outro ouvido. Depois disso, eu conseguia distingüir três sons: o barulho da água caindo no chão do box do banheiro, estalindo (tac, tac, tac), o barulho da cachoeira dos ouvidos (prrrrrrrrr) e o barulho da água caindo na minha cabeça, que na verdade estava vindo por dentro dela e não pelos ouvidos (poc, poc, poc, como chuva no teto de um carro, só que abafado).

Me senti a própria montanha na qual o rio passava e formava cachoeiras e pequenos poços, pois sentia a água caindo pra todos os lados.

Como eu já tinha me lavado todo, era o fim da Viagem. Desliguei o chuveiro, abri a porta do banheiro -- tomando um vento frio e gostoso -- e saí.

Quadrinha com Néctar

Sou um grande imitador.
Minha melhor imitação
É um singelo beija-flor.
Quer ver? Preste atenção:

(Te beijo.)


22 de nov. de 2005

Cross-Post

Simplest Truths
By Fadinha



Your luck cookie for today... tomorrow... and forever!


Enjoy your meal,
Fadinha.

21 de nov. de 2005

No Mundo de Boca, parte II

- Transpalatino! - bradou o Cavaleiro vestido de branco, Ortondontista. - Prepare-se para ver seus dias de tirania terminados!

Após uma maligna risada, Transpalatino se voltou e disse:

- Não me importa quando eles acabam! Eu já fiz o que tinha de fazer! - E soltou mais uma risada maligna.

Num movimento rápido, o Cavaleiro Branco brandiu seu alicate no ar e golpeou o vilão, que se viu atordoado. Este pequeno momento foi tempo mais que suficiente para que Ortondontista invocasse seu poder e removesse a maldição que assolava sobre Língua e Céu-da-boca.

Ortondontista ainda baniu Transpalatino para as Terras Inferiores do Lixo, e o condenou a nunca mais sair de lá, a não ser que escolhesse ir para as Ilhas Reciclantes e terminar com sua vida.

Língua e Céu-da-boca tiveram um reencontro emocionante, e brincaram muito nas Montanhas de Almoço, onde normalmente visitam. E foram felizes para sempre...


Hoje é aniversário de alguém muito especial pra mim. Uma pessoa que me relembra coisas boas, me remete ao passado legal e me prova que o tempo é mesmo capaz de curar qualquer ferida, bastando que você esteja aberto pra isso. Mesmo tendo pouco contato, esta pequena pessoa continua sendo super especial. Sugar, spice and everything nice for ya, dear.

18 de nov. de 2005

Lavou, tá novo

Hoje o dia amanheceu chuvoso.

Dias chuvosos sempre têm algo de especial pra mim. Não sei se é pelo fato de eu ter uma paixão envergonhada por precipitações, ou se é porque sigo inconscientemente uma religião que tem a água como deusa, ou se eu sou meio paranóico. Ou tudo isso misturado.

O fato é que eu sempre enxergo dias chuvosos como dias de limpeza. Eu crio toda uma metáfora onde o céu chora, seja de alegria ou de tristeza, e lava a terra, as almas das pessoas. Batiza as cabeças e faz todo mundo esquecer pelo menos por um instante os problemas, seja para procurar um abrigo e fugir da chuva, seja para tomá-la de braços abertos e chegar ensopado em casa ou no trabalho.

Oh, chuva
Eu peço que caia devagar
Só molhe esse corpo de alegria
Para nunca mais chorar.
- Chuva! [Dora Vergueiro]

O trânsito fica lento, mas isso diminui a pressa das pessoas. O barulho de carros andando nas ruas molhadas, a chuva caindo no telhado do lado, os trovões que ressonam ao longe muito depois do relâmpago, tudo isso tem uma musicalidade única.


Dias como o de hoje têm um significado de término de um ciclo. Ou início de um. Ou reinício. Renovação, recomeço, reveillon. Uma grande amiga minha disse uma vez que não entendia porque devemos esperar o dia 31 de dezembro virar 1º de janeiro para renovar as esperanças, criar novos sonhos, definir novos objetivos e até mesmo renovar compromissos com objetivos velhos. Façamos nosso reveillon hoje! (beijo, querida!)

Há muito tempo atrás, a chuva era a minha maior confidente. Só ela sabia de tudo o que eu pensava e sentia. Fez parte de muitos momentos únicos. Porém, ao longo dos anos, eu fui perdendo essa pequena loucura, que, ao fim, me fazia muito bem.

De fato, eu adoro a chuva. Apesar de desafiá-la de vez em quando.

16 de nov. de 2005

Memórias II

Consciência-Mundi
Fevereiro de 2005

Todos sabemos daqueles momentos em que sentimos, como diria aquela música, todo o peso do mundo em nossas costas. O mundo desaba sobre nossas cabeças, nos fazendo ficar pesados, lentos, estáticos num cotidiano frenético. Pára tudo: preciso juntar os meus pedacinhos que restaram no chão. Não é nada fácil.

Mas meu ponto, aqui, é outro: quando se tem consciência que o mundo só desabou porque você deixou de segurá-lo. Que você só parou porque ficou com preguiça. E pior: sabia disso. De repente, você se vê triste... Reclamando que nada acontece na sua vida ordinária. Sim, mais um dia como outro qualquer. Acorda, come, trabalha, almoça, trabalha, volta pra casa, joga suas responsabilidades para amanhã, toma banho e dorme. Simples assim. Nada no caminho pro trabalho. Nenhuma paquera de ônibus. Nenhum incidente no trabalho. Só o trabalho em si. Nada de novo em casa. Nenhum pensamento novo no banho. Nem me lembro do que sonhei hoje.

E porque? Uns três meses de introspecção não me foram ainda suficientes: eu ainda não sei. Mas sei que fui eu mesmo que me meti nisso. Sem saber sabendo, parodiando Chaves. Eu sabia que acordava mais tarde do que queria. Sabia que queria ir na auto escola marcar meu exame de legislação. Eu sabia que queria fazer um exercício pra cuidar de mim. Sinto falta de alguém cuidando de mim, até mesmo se for eu fazendo isso.

Na mente, pensamentos cada vez mais complexos e emaranhados. Me compliquei no meu próprio raciocínio há muito tempo. Todo dia desenvolvo uma teoria nova, construída em cima da anterior. E sei que nenhuma delas poderá jamais ser provada. Tanta complexidade me levou ao fechamento: não compartilho mais a minha linha de raciocínio das coisas, nem mesmo com as pessoas que pudessem ter a capacidade de entendê-la. Me sinto com medo, repreendido pela opinião alheia, quero ficar só nas minhas teorias, autista, onde ninguém possa tocá-las e me fazer parecer um idiota diante da realidade simples e corriqueira. Nada de equações, motivos e razões: é por que é.

Meu coração é gasoso, com um forte poder de concentração. Bastante arisco, esse gás. Ocupa todo o meu corpo, e só reage ante certas situações (que foi a palavra que achei para substituir "pessoas", só que no singular). Moleque levado.

Tudo isso, e eu nem sequer esboço uma reação. Nada. Sim, amanhã vou acordar cedo. Pi-pi-pi, o relógio desperta, eu olho pra ele e penso "ah, ainda tenho muito tempo", desligo o relógio e viro pro outro lado. O que eu estava sonhando mesmo?

Rogério e suas Águas amestradas sabiam das coisas. "Cansado de deitar ao sol, você fica em casa pra ver a chuva. Você é jovem e a vida é longa, há tempo para matar hoje. E um dia você descobre que dez anos estão às suas costas e ninguém te disse a hora de correr."

É isso o que mais dói: ter plena consciência de que, definitivamente, estou perdendo o tiro inicial.

13 de nov. de 2005

Na onda das exatas...

Dewey: Math is a wonderful thing/Math is a really cool thing/So get off your ath, let's do some math/Math, math, math, math, maaaath...
Dewey: Three minus four iiis?
Summer: Negative one.
Dewey: That's riiight. And six times a billion iiis?
Marco: Six billion?
Dewey: Nailed it. And fifty-four is a forty-five more than what is the answer, Martaaaaaaa?
Marta: Nine.
Dewey: No, it's eeeight.
Marta: ... no, it's niiiine.
Dewey: ... yes, I was testing you... iiit's... niiiiiiiine... And that's a magic numbeeeeeeer...


Frase da semana: "Faça o que eu digo mas não faça o que eu faço." Aaaah, odeio ela. Eu me odeio também. Às vezes. Quando eu mesmo aumento meus próprios defeitos. Argh.

8 de nov. de 2005

Enquanto isso, no mundo de Boca...

Era uma vez a Língua. Ela vivia feliz, transportando os alimentos triturados pelos seus amigos Dentes, e tinha muito contato com seu amigo Céu-da-boca. Um dia, apareceu um cara malvado, o Aparelho Transpalatino, que jogou uma maldição que condenou Língua e Céu-da-boca a ficarem separados. Desde então, Língua tem pouco contato com Céu-da-boca. Ela sentia muitas saudades.

Um belo dia, Língua recebeu uma carta de um poderoso mago, o Ortondontista. A carta dizia que, dentro de 15 noites, Céu-da-boca iria se reencontrar com ela em Consultório, pois Ortodontista disse que tinha poderes para fazer Aparelho Transpalatino sumir. Língua ficou muito feliz! E a partir daí, Língua conta os dias para a chegada de Ortodontista, para que ele possa travar a batalha final contra o malvado Aparelho Transpalatino e se reencontrar com seu querido Céu-da-boca...

(Toda essa historinha foi só pra contar que fui ao ortodontista ontem e ele me disse que vou tirar o aparelho transpalatino - aquele interno, que tem uma barra transversal - daqui a 15 dias. Legal. Depois escrevo o segundo capítulo...)

007 vs. Gabriel

Motivado pela minha visita ao cinema* ontem, uma conversa antiga com um amigo e pelo meu ato corajoso mas inconseqüente de ontem, entrego pra vocês mais um artigo da série "vs". Porém, ao contrário do anterior, não são apenas dois oponentes, e sim extremos de uma reta de nuances.

Temos, de um lado, os agentes, que são as pessoas que fazem antes de pensar. E, do outro lado, os pensadores, que são os que pensam antes de agir. O ideal seria achar um certo equilíbrio, talvez pendendo um pouco mais para o lado dos pensadores -- pensar um pouco antes de agir, mas nunca deixar de agir.

Olhemos agora os extremos: temos os inconseqüentes, que são os agentes extremos, e os filósofos, os pensadores extremos.

E digo que, no meu caso, acho que pendo um pouco mais pro lado dos pensadores do que eu queria. Sou tímido por natureza, e venho tentando mudar isso em mim. Mas ainda estou mais pro P do que pro A.

Isso em termos gerais. Porque em uma ou outra situação, acabamos agindo como um inconseqüente ou como um filósofo. Seja agindo por impulso (meu caso hoje) ou deixando de agir por pensar tanto, mas tanto, que acaba se pensando várias vezes várias possibilidades, incluisive as ruins, o que acaba por nos dar um medo muito grande de ser superado...

Decerto não há pessoas que, na média de sua vida, caiam nos extremos. Mas muito próximas, ah, sem dúvida.

E você? Onde se encaixa nesta reta? Fiquem à vontade para remendar este trapo.


* Bem por alto, mas lá no alto mesmo, o filme é uma história de dois amigos que se envolvem com a mesma mulher. E os dois amigos refletem bem esses lados do pensador e do agente...

5 de nov. de 2005

Candian et al.

"O maior problema de se ficar sozinho é que você tem que fazer companhia pra você mesmo."
- Christiano Candian


Máscara

A chuva é mágica. Senti isso quando desci do ônibus. Chuva que era fina, mas molhava, e muito. Os meus companheiros de ponto de ônibus todos correram para suas casas. Eu não. Só tive o cuidado de passar meu celular do bolso da calça para dentro da mochila (que nem é tão impermeável assim). Dali pra frente, foi um desafio.

Desafio sim, porque eu desafiei a chuva. Sentia as gotas escorrendo pelo meu couro cabeludo. Não era suor. Sentia a baixa temperatura entrando dentro do meu tênis quando eu pisava nas poças. De propósito.

Te parece algo feliz? Pois é. Eu não estava. Estava de cara amarrada. Olhava para o céu, não achava nenhuma estrela, e muito menos a lua. Senti meus ombros ficarem cada vez mais frios.

Foi quando no meio do quarteirão, algo em mim explodiu:

- É só isso que você pode mandar pra mim?

Eu falava com a própria chuva. Aproveitei que não havia ninguém andando por ali, nenhum carro por perto, ninguém nas janelas da redondeza. E fiz a minha loucura, só.

- Vem mais! Mais! - eu dizia com o meu braço em riste.

Porém, nada acontecia. E isso, ao invés de me acalmar, me enraivecia mais.

- Vem cá! Quero ver o que você pode fazer! Me molha todo! Anda!

Nisso eu já estava virando à esquerda (do ponto até a minha casa, só há uma mudança de direção). A rua da minha casa é mais movimentada, e fiquei com vergonha de falar sozinho. Eu não estava falando sozinho, mas quem iria pensar que eu estava desafiando a chuva?

De modo que, assim, eu me recolhi aos meus pensamentos. Nada que me impedisse de levantar a face e sentir a chuva caindo. Era fria, mas eu não sentia isso. Só sabia. E também apertava as mãos e os olhos, tentando me segurar pra não transformar em atos meus esbravejos contra a chuva.

Quase chegando, saí debaixo de uma árvore de propósito só pra pegar mais chuva. E outro pensamento, desta vez em frente à padaria, e em voz alta, veio:

- Ah! Não consegue fazer mais que isso, hein?

Ao que fui respondido com um relâmpago - sem trovão. Relâmpago que respondi com um delicioso "Ah!", como que aliviado pela resposta.

A chuva aumentou logo que entrei pelo portão do prédio. Ainda havia uma parte aberta até o portão interno, então disse:

- Só agora, quando eu já estou indo, não é?

Abri o portão de dentro com a minha chave, e antes de fechar, virei:

- Eu te vejo depois.

E subi as escadas.


Nota 1: Eu sou muito mais louco do que eu próprio pensava. Não se assustem se pensarem o mesmo.
Nota 2: Até que deu pra distrair da minha angústia durante uns cinco minutos.
Nota 3: Se a chuva me lavou a alma, eu não sei... Ainda estou para descobrir.

1 de nov. de 2005

Soneto da Inquietude

Passou Outubro. Chegou Novembro. Feliz Natal.

Doce Primavera de doces flores amarelas, poderia por favor trazê-las ou me levar até elas? :)

Há em mim uma certa inquietude.
Sou incapaz de dizer se é ruim,
Se é algo bom ou se é saúde,
Nem mesmo o que é que há, enfim.

Meus pensamentos voam até ela,
Ressonam com a vibração incomum.
Inerente, uma idéia se revela:
Que pode haver no sentir-em-jejum?

Em minh'alma talvez um buraco
Através do qual tua seiva não bebo.
Quiçá agora meu corpo esteja fraco...

Meu peito, pois, não consigo encher
Quando tal estarrecido percebo
Que minha inquietude está em você.


28 de out. de 2005

Mensagem da Terra do Gelo

Fui ler um gibi ontem pra distrair, quando vi o nome dela como adjetivo de uma entrevista com um vampiro (?). Eu ri sozinho de mim mesmo.

Aí hoje eu recebi uma mensagem, oriunda do país menos corrupto do mundo.

I wake up
And the day feels
Broken
I tilt my head
I'm trying to get an angle
'Cause the evening
I've always longed for
It could still happen

How do I master
The perfect day
Six glasses of water
Seven phonecalls

If you leave it alone
It might just happen
Anyway

It's not up to you
Oh it never really was

If you wake up
And the day feels
Ah broken
Just lean into the crack
(Just lean into the crack)
And it will tremble
Ever so nicely
Notice
How it sparkles
Down there

I can decide
What I give
But it's not up to me
What I get given
Unthinkable surprises
About to happen
But what they are

It's not up to you
Well it never really was
- It's Not Up To You


Thank you, milady. Algum dia eu vou com certeza visitar o seu país.

25 de out. de 2005

Latitude e Longitude

Estive ouvindo Fennesz hoje. Alguns álbuns dele, como o Field Recordings 1995:2002 e o plus forty seven degrees 56' 37'' minus sixteen degrees 51' 08'' (que são as coordenadas do quintal da casa dele, na Áustria), a outros ouvidos pode não parecer música. Eu concordaria, caso o "conceito" de música realmente fosse organizar sons pré-determinados de acordo com regras pré-determinadas.

O que acontece nesses casos é que o cara (no caso, o Fennesz) simplesmente retirou da frase acima os "pré-determinados". Em alguns casos, ele vai mais além, e tira o "de acordo com regras", de modo que música é, pra ele, organizar sons.

Eu confesso que a primeira vez que ouvi, achei esquisito, pois não é o tipo de música que estamos acostumados, com uma marcação bem definida e sons de instrumentos musicais convencionais. Há música que parecem sons de naves espaciais com efeitos de guitarras distorcidas, outras lembram um computador falhando e soltando faíscas, mas que fazem um efeito de água corrente, enfim, uma série de sons que parecem aleatórios, mas não o são. E há uma certa beleza nisso...

Álvaro de Campos (meu mestre!) dizia:

O Binômio de Newton é tão belo como a Vênus de Milo.
O que há é pouca gente para dar por isso.

óóóó -- óóóóóóóóó -- óóóóóóóóóóóóóóó
(O vento lá fora.)


Mesmo nas coisas mais estranhas ou complexas ou diferentes, há a mesma beleza que vemos nas coisas consagradas, como uma estátua famosa, e nas coisas simples, como o vento. Se olharmos por esse lado, o que é uma confusão de sons pode parecer na verdade... música.

E finalmente, a conclusão que eu queria: não é só na música a que isso se aplica. Há beleza em quase tudo. Basta que demos por isso.

Enquete de comentários: defina música.

21 de out. de 2005

300 meses hoje...

... mas aqui, com -4 horas de vida.

20 de outubro de 1980, 20:40.

18 de out. de 2005

Um, dois, três. Quatro?

Às vésperas de meu aniversário, penso como é engraçado, porém bom, sentir que se está envelhecendo. Sentir que pegamos mais experiência, mais tato, mais cuidado conosco. Estou quase completando 300 meses de vida, e não posso dizer que sou experiente. Mas quero falar aqui especialmente dos amores que tive, e dos que tenho...

Meu primeiro amor era ingênuo. Eu acreditava que ela gostava de mim simplesmente porque me achava bonitinho. Era um amor pré-adolescente, que ficou platônico durante dois anos, até que resolvi mandar minha primeira -- e única! -- carta de amor. Ela ficou uma semana sem falar comigo depois disso. Achou que eu não sentia nada por ela, mas ela me provocara por dois anos, não aguentei. Eu dizia que estava me sentindo ridículo, mas citei Álvaro de Campos. Nunca chegou a se consumar nada.

Todas as cartas de amor são
Ridículas.
- Álvaro de Campos


Meu segundo amor foi o primeiro que se consumou -- ela também gostou de mim! Sem experiência, entrei de cabeça. Lembro-me que cheguei a chorar no primeiro beijo... Porque a gente estava se segurando já há algum tempo, e como sempre, fui o último a perceber. Tive porém o cuidado de tirar o medo dela de se envolver aos poucos, mas ao final ele se engrandeceu e me venceu. Foi um grande amor que perdi, e que me doeu.

Depois, a vida me aprontou uma. Me colocou um amor pra ver quase todo dia. Ela já estava com problemas nesse campo, e fui chegando devagarinho. Ela chegou a cogitar um relacionamento comigo... Mas hesitou, e eu fiquei esperando. A esta altura, eu já estava envolvido demais, mesmo tendo cuidado. E me orgulho de ter conseguido, com uma destreza desconhecida por mim mesmo, me desvencilhar do sentimento. Tenho muito apreço e carinho por ela hoje. Tenho ciúmes também, mas é normal em qualquer amizade.

E hoje... Não digo que tenho um novo amor, mas existe a possibilidade... E, com a experiência que a vida me proporcionou, não entrei de cabeça como das outras vezes, apesar de ser um eterno galanteador -- isso eu sempre serei. Estou com os pés no chão, mas confiante. E, como ela mesmo diria, e agora? Estou pronto para descobrir...

Um beijo pra você.

13 de out. de 2005

Espelhos

Os teus olhos têm
Um brilho repentino,
Refletindo na lua
Minh'alma na tua.

Os teus olhos têm
Um sorriso próprio:
Beleza que acanha
Pôr-do-sol de montanha.

Os teus olhos têm
Um brilho inexplicado:
Sem motivo aparente
Me remete ao presente.

Os teus olhos têm
Um quê de qualquer coisa,
De nada, de tudo;
Me mudam pr'um mudo.

Lindos cabelos, vêm!
Lindo sorriso, vem!
À beleza de espelhos, que só
Os teus olhos têm.


9 de out. de 2005

Colombo vs. Alfie

Estive conversando com um amigo meu a respeito daquele tempo pré-primeiro beijo. Quando o casal está se conhecendo e tal, ou quando rola interesse de uma das partes na outra... Talvez nem chegue a se consolidar nada, mas aquele tempo, vocês sabem. Ele me solta a seguinte frase:

"As mulheres seduzem, os homens conquistam."


De início, concordei em absoluto. Mas, como de costume, enrolei e desenrolei a idéia na minha cabeça, e adivinhem: questionei. Porque o homem não pode seduzir? Ou a mulher conquistar? Há alguma diferença, afinal?

Então pensei que isso na verdade deveria ser algo individual, único para cada pessoa, e não uma coisa relacionada ao seu sexo. Mas, ao mesmo tempo, não soube me classificar como um dos dois tipos. Então desenrolei mais: isso deve ser de cada situação.

Acredito que, na maioria das vezes, conquista e sedução têm que andar juntas. Já fui conquistado e seduzido pela mesma mulher. Já conquistei e seduzi a mesma mulher. E também outra situações e combinações...

Mas confesso que não sei se, neste exato momento, devo agir como conquistador ou sedutor. Ou nenhum dos dois. Ou ambos...

Deixo a pergunta: você se considera conquistador ou sedutor?

Eu? Mistura heterogênea em convecção constante. Eu acho.

3 de out. de 2005

Sorry

Já teve aquele(a) amigo(a) pela qual você pensou ter se apaixonado, ou realmente se apaixonou? Senão, conhece algum amigo(a) que já passou pela situação certo?

Confesso que sim, eu passei, senão não teria... ahn... "tato" para ter escrito isto. Eis uma música que homenageia isto. Só tem a letra, não fiz as linhas nem os instrumentos. Talvez um dia...

I followed the light of my heart
I believed nothing could tell us apart
Only to find a grey world

I thought we could be strong
But you said that I was wrong
Then I was wrapped in cold

A candy you have found
And you love to eat around
But sometimes I want more

My heart just yells dry tears
I'll be your angel through the years
But not as I was before

(bridge)
And I know we'll be friends forever
But I know we'll not be together

(chorus)
So I am sorry
'cause I feel like a fool
And I feel sorry
Sorry for loving you

And now I'm sorry
'cause I feel like a fool
All I can say is sorry
Sorry for loving you
So much

We live a great love play
And you heart just lead the day
But now I cannot go

I feel like I am that chair
Just lifeless, this's so unfair
'Cause once I was lead role

(bridge)
(chorus)

You say about the future
And I replied I want you now
Then you look away from me
And you say sorry, and then I fall

(chorus)
(a solo)

So I am sorry
'cause I feel like a fool
And I feel sorry
Sorry for loving you
So much

I know we'll not be together
And I know we'll not be...



PS: Decidi que é hora de ser um pouco menos cauteloso. Mas nunca, jamais, deixar de ser enigmático...

26 de set. de 2005

Solitária Flor

Não temos mais campos verdejantes até onde a vista alcança todos os dias para ver. Tanto é que a cena que descreverei aconteceu num jardim -- mais um gramado, na verdade -- à frente de um lote vago. Fica do lado de onde pego ônibus todos os dias. Mas, para todos os efeitos, imaginem um descampado enorme. Daqueles que só vemos em Minas Gerais.

Pois bem. Estava eu admirando a natureza neste descampado. Tudo era verde, só grama. E era plano, muito plano. Era de uma monotonia belíssima, mas ainda assim monótono.

A uniformidade foi quebrada quando meus olhos se prenderam uma pequena flor, solitária, amarela, quase aos meus pés. Ela ficava num cantinho, escondida, tímida. E veio uma corrente de analogias na minha cabeça (adoro quando isso acontece).

Estaria ela no cantinho porque era tímida, mesmo tendo tanto destaque? Estaria ela no cantinho porque queria estar escondida? Porque se achava feia? Teria ela me chamado a atenção bem sutilmente? Ela poderia querer ser notada ao invés de aparecer, mesmo sendo bela... Teria ela medo de ser tão diferente, ao mesmo tempo sendo tão especial?

"Olha o meu ônibus já vem. Preciso dar o sinal para ele parar. Mas você, Florzinha, vem comigo... Jamais te abandonarei de novo."

19 de set. de 2005

A Barra

Ela vai daqui até aquela parede.
Não, daqui até aquela outra parede.

Talvez não. Daqui até a porta do corredor.
Melhor: daqui até a porta da rua.

Não sei, daqui até a rua?
Daqui até aquele poste lá fora?

Daqui até aquela casa do outro lado da rua.
Não, não, a outra casa.
Talvez aquele prédio.
Aquele lá no fundo. Fica no outro bairro.

É, isso, daqui até aquele outro bairro.
Mais longe, o outro.
Ou ainda até aquela cidade.

Daqui até lá do outro lado do país.
Ou até aquele outro país, melhor.

Até aquele planeta.
Aquela estrela.
Aquela galáxia...

Hmm, já sei: daqui até o seu coração.

16 de set. de 2005

Soneto à Tecnoanarquia

"Tecnoanarquia?" - perguntas - "És louco."
Digo-te que sou, embora um tanto pouco.
Já estou cheio desse equilíbrio dinâmico
Que acaba por ser um problema endêmico.

"Ora!" - rebato - "Tenho a esperança aqui."
Eis que, quando em breve a gravata cair
E o peso da base inverter o jogo
Aí então poderemos apagar o fogo.

Não quero ver esquerda nem direita
Para além do horizonte da estrada
Pois é apenas o que minha memória aceita

E computador que sou, literalmente
Verei tudo, mas não haverá nada
E serei então livre, à minha mente.

- Rubem Mattos


12 de set. de 2005

Home Alone

Tempos divertidos são aqueles em que você se vê sozinho em casa. Seus pais viajam, seus irmãos saíram e não voltarão tão cedo. Você tem a casa toda só pra você.

Claro, isso no caso de quem mora com a família. Quando se mora sozinho ou com uns amigos, ficar sozinho deve ser uma coisa rotineira. Aí, encher a casa é que é divertido.

Anydangway, estava eu sozinho em casa e planejando o que eu poderia fazer de divertido sem que meus pais sonhassem. Matutei, tive um monte de idéias, mas não realizei nenhuma. Preferi curtir minha própria mente (e meu jogo de computador algumas vezes), coisa que já faço rotineiramente. Pode parecer uma ironia, mas não o é.

Pensar e refletir sozinho é melhor do que fazê-lo em companhia de alguém. Com conhecidos ou amigos, acho até difícil fazer isso, e com desconhecidos, como no caso do ônibus ou na rua, eu me sinto exposto e sem liberdade para pensar o que eu quiser. Mesmo sabendo que as pessoas não podem ler a minha mente.

Então. Aí pensei que eu poderia ligar para uma galera pra tomar uma cerveja em casa, de leve (sim, porque festonas na minha casa, como diria aquela propaganda, não seriam uma boa opção para um domingo à tarde). Depois pensei que poderia ligar para uma menina e... bem. Descobri que não tinha uma menina para ligar. Tudo bem. Eu fico com a minha mente mesmo.

Fui pro computador jogar um pouco de GTA: San Andreas. Realizei uma missão na qual você deve invadir um avião em processo de decolagem com uma moto, matar todos lá dentro, roubar um pára-quedas, plantar uma bomba e pular, ativando a bomba. Divertido.

De qualquer forma, às vezes penso que meus domingos são meio vazios. Se bem que eu estava precisando muito de um como este: 24 horas à toa.

Os Silvas mandaram bem de novo:

Some girls are bigger than others
Some girls are bigger than others
Some girls' mothers are bigger than other girls' mothers
- The Smiths [Some Girls Are Bigger Than Others]


Quisera eu que a diferença fosse somente no tamanho...

8 de set. de 2005

Person = Fields

Um poema de Álvaro de Campos que gostei muito, e que reflete parcialmente meu estado de espirito atual. Ô, vida difícil!

NÃO: Não quero nada.
Já disse que não quero nada.

Não me venham com conclusões!
A única conclusão é morrer.

Não me tragam estéticas!
Não me falem em moral!

Tirem-me daqui a metafísica!
Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas
Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) --
Das ciências, das artes, da civilização moderna!

Que mal fiz eu aos deuses todos?

Se têm a verdade, guardem-na!

Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica.
Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo.
Com todo o direito a sê-lo, ouviram?

Não me macem, por amor de Deus!

Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o diabo sem mim,
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para que havemos de ir juntos?

Não me peguem no braço!
Não gosto que me peguem no braço. Quero ser sozinho.
Já disse que sou sozinho!
Ah, que maçada quererem que eu seja da companhia!

Ó céu azul -- o mesmo da minha infância --
Eterna verdade vazia e perfeita!
Ó macio Tejo ancestral e mudo,
Pequena verdade onde o céu se reflete!
Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje!
Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta.

Deixem-me em paz! Não tardo, que eu nunca tardo...
E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar sozinho!
- Álvaro de Campos [Lisbon Revisited (1923)]

Alguém avise aos Deuses que estou de mal deles, ok?

2 de set. de 2005

O Sr. Anderson e o Sr. Council

I am definitely maybe not feeling good for today on.

If you didn't care what happened to me,
And I didn't care for you,
We would zig zag our way through the boredom and pain
Occasionally glancing up through the rain.
Wondering which of the buggars to blame
And watching for pigs on the wing.

- Pigs on the Wing, Part I [Pink Floyd]
Just to show you how I am.

1 de set. de 2005

(In)direta

Foi quando eu me sentia mais preparado. Quando eu pensava que estava dando tudo certo, e que tudo estava caminhando da maneira que todos esperamos.

Aí vem você, como um furacão, revirando tudo o que eu custei a organizar.

Você tinha que estar tão linda ontem? Tinha? Tinha que me jogar sorrisos que me desorganizavam os pensamentos?

Tudo em você era lindo ontem. Seu cabelo, seu sorriso, sua mão, seus culotes, seus seios, seus olhos, suas idéias, sua intranquilidade, sua revolta, seu papo, seu silêncio, seu canto, suas maçãs do rosto, sua indignação, sua indecisão, sua maturidade, sua metamorfose...

Ontem descobri que, quanto mais mulher você se torna, mais você se torna linda pra mim.

Quando o seu ônibus chegou, eu desejei com toda a força que ele ficasse lotado, pra que você pudesse ficar com preguiça e pegar o próximo. Mas você se levantou. Então eu desejei com toda a força que acontecesse alguma outra coisa que te impedisse de pegar aquele ônibus.

Mas quando você me deu o abraço de despedida, aí caiu a ficha e voltei à realidade. Então, a única reação que tive foi te abraçar de novo.

Ainda fiquei uns cinco segundos te olhando ir em direção ao ônibus. Pareceram minutos. E quando você sumiu atrás da placa de publicidade, comecei a tomar o meu caminho, mas fazendo força, apertando os olhos, com os punhos cerrados, tentando segurar a bomba atômica que você tinha acabado de detonar em mim.

Dizem que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar. Pode ser, mas o cupido acerta duas vezes no mesmo lugar -- com a mesma flecha. E dessa vez, ele acertou em cheio...

Mas eu já estou melhor, não se preocupe.

Não choro
Meu segredo é que sou rapaz esforçado
Fico parado, calado, quieto

Não corro, não choro, não converso
Mascaro meu medo,
Massacro a minha dor, já sei sofrer
Não preciso de gente que me oriente
Se você me pergunta: como vai?
Respondo sempre igual: tudo legal

Mas quando você vai embora
Movo meu rosto no espelho
Minha alma chora...
- Mal Secreto [Waly Salomão e Jards Macalé]

28 de ago. de 2005

A Lei da Dinâmica dos Ônibus

Fim de expediente, vamos pro ponto esperar ônibus pra voltar pra casa (sim, eu ando de ônibus). Entro e acho um lugar vazio pra sentar. Então mergulho nos meus pensamentos, mas a cada parada nos pontos me interrompo pra poder observar os novos passageiros.

À medida que o ônibus vai se enchendo, vão acabando os lugares vazios, e foi aí que me deparei com a triste conclusão: o lugar vazio ao meu lado é sempre o último a ser ocupado.

Então pensei que as pessoas possuem uma espécie de inconsciente coletivo.

Digo isso porque costumo usar o ônibus como uma espécie de divã, onde eu analiso a mim mesmo. Longe das preocupações do trânsito. Faz a viagem parecer muito mais rápida -- e divertida.

Portanto, quando estou sentado e pensando, minha cabeça está a mil, num turbilhão de pensamentos -- às vezes sentimentos -- e isso afasta as pessoas, mesmo sem que elas saibam porque.

Ou talvez é só porque eu sou barbudo mesmo.

22 de ago. de 2005

Pedaços Inteiros

Meu fim de semana foi agitado. Só tive tempo pra mim mesmo nas primeiras horas do sábado à tarde. Bom, talvez tenha sido melhor assim.

Entre comemorações e churrascos, fatos interessantes. Gente nova, gente velha (mas boa)... Algumas decepções. Algumas surpresas... E o mesmo velho sentimento de sempre que não consigo definir.

Tento: quem souber o antônimo de "plenitude", adicione ao fim da frase "Estou me sentindo com um pouco de".

Também há outra coisa: me sinto em todos os lugares ao mesmo tempo. Nesses lugares, sempre há uma mulher, e essas mulheres já tocaram meu coração. Algumas com um sopro, outras com a ponta dos dedos. Outras fizeram carinho e outras apertaram com toda a força. E agora, não há nada. Mas mesmo assim me sinto espalhado por aí.

Pergunta reflexiva do dia: Se você fosse do sexo oposto, você se interessaria por você? Ex.: se uma mulher com a minha personalidade e gostos e et cetera (a aparência não precisa ser igual) existisse, ela seria a fim de mim (homem)? A minha resposta é sim... E muito. Fiquem à vontade para refletir nos comentários.

And, like I already said...

I'm having a mind attack.
- eu


10 de ago. de 2005

Memórias I

Como Vai?
"Mei" de 2002

Em mais uma caminhada na rua, encontramos aquele velho amigo e dizemos "oi", "olá", as introduções básicas de conversação que a boa educação de nossa mãe nos ensinou. Mas, salvo raras ocasiões, a segunda pergunta é quase automática. "Como vai", "e aí", "cuméquicetá" e coisas do gênero, perguntam.

Paro e penso no sentido real dessa pergunta. Muitas vezes, ela pode ser o início da conversa, um assunto inicial para que o diálogo em si se desenvolva enrolando-se e desenrolando-se em outros assuntos, como uma esfera perfeitamente esférica, rolando em um campo de dunas de modo que a sua direção nunca pode ser conhecida com antecedência; outras vezes, a pergunta é simplesmente um complemento da introdução "oi" e seus afins, de modo que rapidamente o assunto se desenvolve para outro plano, dando àquela pergunta uma conotação mínima de importância, rebaixando o estado de espírito do interlocutor a nada.

Dessa forma, o ato de perguntar "como vai", para muita gente, não passa de um simples gesto de educação. E, como educação em resposta, a resposta é quase sempre "sim, obrigado", mesmo que esse "sim" - ou até mesmo o "obrigado" - seja a maior mentira que alguém no mundo poderia contar, tão mentirosa que estaria escrito numa placa no meio da rua: "ele está mentindo". Várias vezes surpreendi a mim mesmo, quando me perguntavam. "Hmm... bem, mais ou menos."

Penso nisso hoje, e pode ser que amanhã, quando você me encontre e pergunte, sem perceber, como estou, eu responda, também sem perceber, que estou bem, e a conversa ruma para uma terra distante. Mas se você me perguntasse agora como estou, eu responderia. Responderia da maneira correta. Responderia achando que você me perguntou realmente querendo saber como estou. E eu poderia me alongar até que o dia virasse dia de novo, até que a lua cheia se encha.

Eu responderia que eu me sinto como um guerreiro sem armadura e sem roupas, amaldiçoado por um doença terrível e dolorosa, encurralado num campo de batalhas de onde arqueiros atiram flechas de cura de todos os lados, tendo que me desviar da dor de recebê-las, para escolher a dor da doença; ou tendo que abrir meus braços e ser atingido por elas de peito aberto, para que a dor não mais se prolongue.

Também responderia que me sentia como alguém que passa mal no alto de uma montanha russa aquática infinita, acíclica, que jamais se repete; a cada descida vertiginosa eu me afundaria no mar, tentando de todas as formas lavar-me da sujeira que me pregava, mas ao mesmo tempo me afogando, desejando subir; a cada chegada ao topo, o embrulho no estômago estava pronto para ser entregue, e eu queria descer, para não mais me sujar.

E também responderia que me sentia um vagalume gigante, que possui uma luz infinita que contamina tudo à sua volta, iluminando cada folhinha de grama, cada poeira do ar, trazendo cor e alegria involuntariamente; mas, ao mesmo tempo, cansado de bater asas, prestes a cair por terra, sem que a luz se apague, dormindo numa escuridão interna profunda e sonolenta.

E também responderia de várias outras formas, se o mundo pudesse parar para que eu me consertasse.

E isso seria só a parte de fora.

A parte de dentro, ah sim! Essa sim é digna de canções élficas! Pois eu poderia me alongar muito mais do que na parte de fora, e poderia dizer que, por dentro, gritava lágrimas secas de meu coração, e isso teria uma semântica perfeita, pois não tem sentido nenhum. Poderia dizer que choro lentamente, de maneira graciosa, trazendo até mesmo alegria para os que me conhecem intimamente: e isso seria uma descrição exata, pois dessa maneira é que eu não me sinto. E diria que meus olhos dizem por mim, quando na verdade um simples olhar para o chão pode refletir tanto um dia cansado de trabalho, como uma tristeza profunda e ainda uma coceira no dedão do pé.

E a parte de dentro ficaria assim, sem sentido, vaga, estranha. Incompleta. Incompleta porque eu não a deixo completar: EU não a deixo, porque assim o escolhi. Sim, sim, é possível completá-la, mas eu não o quero. E assim, a parte de dentro fica quieta e ardente, aguada e fervendo, salgada e amarga.

E eu não mais me prolongaria na parte de dentro, pois todo o tempo do universo seria insuficiente para o dilúvio léxico no qual eu me afundaria, tentando passar a você uma vaga idéia do que eu realmente NÃO estava sentindo ali.

Então, da próxima vez que me perguntares se estou bem, não o reprimirei por exercer sua educação comigo. Porém, se quiseres realmente saber, então não pergunte. Não me olhe nos olhos, tentando adivinhar. Não olhe a direção das minhas sobrancelhas ou a frequência de meu resfolegar, querendo descobrir. Apenas pare... e ouça o meu coração dizer.

Ouça-o dizer bobagens, pois é o que se diz quando se ama.

Ouça-o dizer carinhos, pois é o que se quer fazer à pessoa amada.

Ouça-o dizer difamações, pois é o que se faz quando se tenta reduzir o amor a palavras.

Ouça-o dizer tudo, porque na verdade ele só diz uma coisa: eu amo, eu amo, eu TE amo. E é só.

Não o deixe te confundir com metáforas mirabolantes de montanhas russas e flechas de cura.

Não o deixe te confundir com respostas prolongadas de perguntas educadas.

Mas, acima de tudo, não o deixe silenciar o seu coração, por muito falar e nada fazer. Grite. Grite, pois é o que meu coração fez durante toda a minha vida: gritar lágrimas secas.

E você, meu amor? Como vai?

9 de ago. de 2005

Ataque Maciço

"Apenas agradeça pelo que você tem".

You are my angel
Come from way above
To bring me love

Her eyes
She's on the dark side
Neutralize
Every man in sight
- Angel [Massive Attack]


4 de ago. de 2005

Ursos, borboletas e vaga-lumes

Como surgiu o abraço? Porque o abraço é assim? Discorri sobre o assunto comigo mesmo no caminho pro trabalho, após receber um abraço da uma amiga minha, que encontrei por acaso no ponto de ônibus.

Descobri que o abraço pode ter surgido quando alguém pensou que outrem era muito importante, e que queria sempre estar a seu lado, e então o "segurou" pra que nunca mais ele fosse embora dali.

Ou então, misturado a esse primeiro conceito, veio a vontade de traduzir para o mundo físico a proximidade que sentíamos no mundo emocional. Sim, meu coração está próximo ao seu, quase tocando um no outro, minha alma está em ressonância com a sua (vide artigo anterior) e eu quero trazer isso para o mundo dos cinco sentidos comuns.

Sim, o abraço é um gesto que dá pra entender por que ele é assim. E não um gesto de carinho que poderia ser mostrar a língua pulando num pé só.

Mas então, fiquei intrigado com outra coisa: o beijo. O beijo é um gesto estranho. Estranho no que diz respeito à sua origem. O que pode ter acontecido pra que alguém toque seus lábios no rosto de outra pessoa? Um beijo na boca, o famoso "choquinho", se explica pela vontade das pessoas de se beijarem ao mesmo tempo; mas e o beijo por si só?

Pior que isso, é o beijo de língua. Será que isso pode ser realmente chamado de beijo? Sim, porque esse aí é mais maluco ainda. Que é bom, é indiscutível. Vi uma frase uma vez, relacionada a sexo, mas que serve pra beijos também.

"Sexo é tão bom, tão bom, que mesmo quando é ruim é bom."


Porém, se pensarmos na origem, no sentido da coisa... Ficar passando uma língua na outra é um gesto de intimidade? Ou tá mais pra sexo do que pra sentimento? E se for isso, porque está mais pra sexo?

Deixo aos leitores o exercício de relacionar o título deste artigo ao assunto dele.

3 de ago. de 2005

Em fase

Não raro sinto coisas inexplicáveis de repente. Coisas parecidas com pressentimento, premonição. Mas não é um sentimento de previsão de futuro, ou preparação para ele. É um sentimento presente.

Pelo que converso com as pessoas, elas também sentem isso. Algumas confundem com pressentimento, outras confundem com tristeza, mas é simplesmente isso: um sentimento que se faz presente do nada.

Chamo isso de ressonância de almas. Quando se está muito próximo de alguém, não somente uma proximidade física, mas também íntima, as almas (estou aqui chamando de almas, mas dê o nome que quiser para o íntimo dos seres humanos que, afinal, nos torna humanos) dessas pessoas acabam por entrar em fase. Uma responde aos estímulos feitos na outra.

Normalmente só reparamos isso quando o sentimento é ruim. Porque, ao longo da nossa vida, a gente acaba sem querer marcando em nossa mente apenas as coisas ruins. Elas ficam, deixam cicatrizes. Quando algo é muito bom, é simplesmente normal que seja muito bom, e ao se acabar passa despercebido.

Isso acontece comigo desde quarta-feira passada. Sei qual é a alma em ressonância com a minha, e praticamente sei os motivos. Porém, nada comprovado pelos outros cinco sentidos...

Nota mental: Fazer cicatrizes com coisas boas e achar as coisas ruins simplesmente normal.

28 de jul. de 2005

Suficiente

Às vezes, tudo o que eu quero é poder te olhar... com a mais pura das ternuras, e poder dizer aquela frase...

Dizer que brevemente serás a metade de minha alma... A metade? Brevemente? Não. Já agora o és, não a metade, mas toda. Dou te a alma inteira, deixas-me apenas uma pequena parte para que eu possa existir por algum tempo e amar-te.


Às vezes, tudo o que que quero é poder tocar a sua face com a palma da minha mão, como se um grande cobertor de sentimentos protegesse sua alma da frieza das pessoas. E, ao invés de calor, que se passasse o meu amor pelos meus dedos.

Às vezes, tudo o que eu quero é que você feche os olhos durante um abraço meu, para que você possa sentir todo o fluxo do universo ao nosso redor em convecção.

Às vezes, tudo o que eu quero é dizer que te amo sem ter medo de te afastar ainda mais de mim.

Às vezes, tudo o que eu quero é seguir a minha vida como se meu amor fosse de tal insignificância que eu pudesse viver pra sempre com ele, e somente eu saberia de sua existência.

Às vezes, tudo o que eu quero é trocar de lugar com você durante um infinitésimo de segundo, para que você possa sentir o que sinto, e que ecoaria por toda a eternidade...

27 de jul. de 2005

"I feel saudade of you"

Eu já compartilhei este "trapo" com muita gente, mas não todo mundo. E, a quem interessar possa, ei-lo. Talvez vocês façam bom proveito e teçam um maravilhoso vestuário a partir dele.

Um dia me perguntei porque os outros idiomas não tinham uma palavra que expressasse saudade como "saudade", da nossa língua portuguesa. O máximo que o inglês, por exemplo, consegue chegar é "I miss you", que significa "sinto sua falta", ao pé-da-letra. Ora, sentir falta não é sentir saudade. E é exatamente essa diferença o motivo deste artigo.

Saudade é um sentimento bom. Sente-se saudade de coisas que com certeza voltarão. Exemplos: uma viagem longa pra um lugar muito distante, sente-se saudade dos amigos. Você vai voltar para seu lugar de origem, reencontrá-los. Sente-se saudade da família, sente-se saudade de pessoas que somem por um tempo.

Sentir falta é ruim, machuca, pesa. Sente-se falta de ex-namoradas, de pessoas falecidas, de lugares aos quais nunca se voltará. Aquela viagem pra Grécia, aquela sua ex-namorada que você nunca esqueceu, enfim, coisas que não acontecerão novamente (ou pelo menos presume-se que não, pois por um revertério do destino poderíamos voltar com a ex-namorada, por exemplo).

Pra mim, essa diferença é tão clara, tão cristalina que às vezes me pego indignado com o mau uso da palavra "saudade", um dos orgulhos da nossa língua mãe. Procurem frases sobre saudade na Internet, vocês verão que muitas delas expressam tristeza. Poucas são as que expressam saudade no sentido que coloquei aqui. Uma delas é uma das minhas favoritas, obviamente.

"Quando uma brisa leve tocar o teu rosto, não te assustes: é apenas a minha saudade que te beija em silêncio."
- anônimo


Agora, pra reflexão: estuda-se a adoção da palavra "saudade" para o inglês. E como seria expresso esse sentimento? "I have saudade for you"? "To you"? "I feel saudade"? "I am with saudade"?

Os não-falantes-do-português nunca entenderão.

20 de jul. de 2005

Os Silvas

Fiquei pensando hoje numa possível tradução de "The Smiths" para o português. Acho que seria mais ou menos algo como o título deste artigo.

Pensei isso porque estava ouvindo antes de chegar no trabalho. Aí ouvi uma música. A letra tá aí embaixo. Tenho certeza que ela vai fazer muito sentido no futuro.

Nothing's changed I still love you, oh, I still love you ...only slightly, only slightly less than I used to, my love...
- Stop Me If You Think You've Heard This One Before [The Smiths]


16 de jul. de 2005

Dr. Tempo, clínico geral

Então, em pleno sábado à tarde, tentei iniciar um jogo de campo minado (sim, eu jogo) pra ver o tempo passar. Aproveitei e coloquei a minha lista completa de MP3 pra tocar, em modo aleatório. E foi por isso que eu apenas tentei iniciar o jogo -- ele foi surpreendido pelas músicas.

A primeira música que saiu foi "She", do Green Day. Me lembrou meus velhos tempos de início da adolescência. É divertido. Eu até fiz uma versão acústica dessa música uma vez.

Depois, veio o grande motivo pelo qual eu estou escrevendo isso. "A Trip to the Fair", do Renaissance, é fantástica. Ela começa de um jeito, vai a vários estágios diferentes e muda completamente. Delícia.

"A trip to the fair, but nobody was there."
- A Trip to the Fair [Renaissance]


Então me lembrei do meu chefe, que uma vez dissera ter ficado indignado com as pessoas que ouvem três acordes de uma música e a dizem ruim. Ele tem razão. "A Trip to the Fair" é um exemplo. Lá pelo meio da música, você nem imagina que a levada jazzística é a mesma música que começou com um piano frenético e galopante.

"A música é uma arte que acontece no tempo."
- Alberto, meu chefe


Como já dito e redito, o tempo é capaz de curar tudo. Até a preguiça dos ouvidos.


A título de curiosidade, as outras músicas que saíram até o fim da digitação deste artigo:

  • Jethro Tull - Velvet Green
  • Música das Esferas - O Poeta e o Rouxinol
  • Aerosmith - Walk This Way
  • Contriva - Forget About Nightshifts

15 de jul. de 2005

A Fonte e o Arquiteto

People of the universe above.

Eu pensei muito no fato de se criar um blog ou não. Anteriormente eu tinha um conceito bem preconceituoso* de blog, achava que isso era coisa que quem queria aparecer. Bem, do jeito que vejo as coisas agora, não mais. Juntei a fome com a vontade de comer: gosto de escrever, gosto de publicar idéias. Não pra avaliação dos outros, mas para mim mesmo. O fato de saber que as minhas idéias são "open source" me conforta. Talvez há alguém no mundo lá fora que ache legal, ou outra pessoa que ache chato. Não faz mal. O que importa é ser "open".

"Trapos Coloridos" é uma referência à frase:

A memória é uma velha louca que joga comida fora e guarda trapos coloridos.
- Austin O'Malley, escritor estadunidense

Porque blogs também funcionam como um "memory tracking", ou seja, a evolução e revolução das idéias coloridas que tenho. Guardam-se as mais bonitas, as importantes a gente deixa no cantinho, e as outras simplesmente ignora-se.

É isto. Devo postar aqui irregularmente, à mercê do destino impiedoso.

Eu também tenho uma veia poética.
- Mingau, gato da Magali

* Isto foi um pleonasmo, uma cacofonia e um paradoxo. Nunca havia conseguindo juntar três figuras de linguagem numa só. Legal.