Lembram-se das aulas de física? Sir Issac Newton estabeleceu as três grandes leis da cinemática dos corpos. Mas o que ele não sabia é que, forçando um pouco a barra, dá pra transportar isso para um campo que, teoricamente, não é explicado por nenhuma lei. Acompanhem o raciocínio.
A Segunda Lei de Newton diz:
"A resultante das forças de agem num corpo é igual ao produto de sua massa pela aceleração adquirida."
O coração, sem dúvida, tem massa. Eu diria mais: ele tem vida e consciência próprios, e muitas vezes parece que ele discorda do nosso cérebro de propósito. Além disso, ele tem batido num ritmo constante, invariável. Nada faz acelerar meu coração, ou, pra efeito de equilíbrio, desacelerá-lo. E olha que meu cérebro tem tentado arduamente costurar caminhos onde uma aceleração seja possível. Bem, não sei se vocês me entendem.
Assim, posso dizer que, se a "aceleração" é zero, então a resultante das "forças" que atuam sobre o coração é zero.
Agora, vejamos a Primeira Lei:
"Um corpo que esteja em movimento ou em repouso, manterá seu estado inicial se a resultante das forças que atuam sobre ele é nula."
Percebem a ligação? Meu coração não vai a lugar nenhum. Está parado. E porque? Porque a resultante das "forças" que atuam sobre ele dá zero? Há pequenas flutuações, sempre pra frente, mas logo ele volta para o zero.
Dois casos são possíveis, um em que não há "forças" atuando sobre ele -- o que não vou cometer o infortúnio de dizer -- ou as "forças" todas se equilibram. Ou seja, há "forças" atuando. Elas tentam me puxar pra alguma direção. E há várias. O problema é que Newton e sua Terceira Lei dizem:
"Para toda força aplicada, existe outra de mesmo módulo, mesma direção e sentido oposto."
Aqui é que está o ponto onde forço um pouco a barra. Na física clássica, estas forças opostas são aplicadas a corpos diferentes. Mas no caso do meu coração, não. Assim, qualquer "força" que seja aplicada nele gera uma igual no sentido oposto, mantendo a resultante em zero. E a constatação mais aterradora: essa "força" contrária é gerada por mim mesmo.
E essa pequena aula de física traz a dúvida: porque me sinto assim? Medo? Dúvida? Trauma? Ou tudo junto?
Acredito mais na última opção. Pelo menos a resultante é zero, pior seria se a resultante das "forças" me fizesse retroceder.
A minha esperança-quase-certeza é que uma dessas "forças" aplicadas por outras pessoas aumente, pra que a força gerada por mim mesmo em sentido contrário não seja suficiente pra anulá-la. E assim eu possa, finalmente, avançar.