6 de dez. de 2006

Fique com o troco

(baseado em fatos reais)

Danilo estava cansado. Queria logo voltar pra casa depois daquele dia cheio de trabalho. Ele não parava de pensar na voz daquela cliente chata que ligava de cinco em cinco minutos cobrando aquela proposta e não deixava ele trabalhar na dita cuja.

Havia muitas pessoas no ponto de ônibus. Isso o animou um pouco, pois se há muitas pessoas, provavelmente é porque o ônibus não passou ainda. Mas poderia ser por que o trânsito está um caos no centro. E assim o ânimo se tornou efêmero.

Muitas meias horas depois, vem o coletivo. Naturalmente, havia passageiros tentando tomar ar do lado de fora, já que, na visão do motorista, este ar ocupava um espaço onde poderia haver mais passageiros. "Eles nunca param de pegar gente, não importa o quão cheio está o ônibus", pensava Danilo, já com um princípio de irritação. É, princípio, ele era muito paciente.

Quando conseguiu chegar à roleta depois de entrar no ônibus, ele tirou a carteira e reparou que não tinha trocados. Nem mesmo notas de dois, só tinha uma nota de dez reais. Deu a nota ao cobrador, girou a roleta pra ocupar o espaço menos desconfortável que havia depois dela e esperou o troco.

- Não tenho trocado. Pode esperar um pouco?

"Malditos cartões magnéticos. Um coletivo cheio desses e ninguém paga em dinheiro?" O pensamento de Danilo começou a se enveredar por uma via perigosa.

É claro que o trânsito estava ótimo, ainda mais com a obra na principal avenida que dava acesso ao seu bairro. A obra havia simplesmente fechado metade das pistas, e a pista exclusiva para ônibus, de modo que as pistas laterais agora recebiam tipo o triplo do tráfego. "E eu nem votei nele", pensou Danilo.

O ônibus foi chegando perto do ponto onde Danilo desceria, e o cobrador sequer olhara pra ele. Ele começou a ficar tenso. E o ônibus foi parando, esvaziando, até que Danilo perguntou.

- Moço? Vou descer no próximo ponto, poderia me dar o meu troco?

- ... olha, moço... Eu não tenho o troco integral. Tenho apenas 8 reais inteiros, não tenho 15 centavos. Faz o seguinte, amanhã eu te dou quando você pegar o ônibus de novo, pode ser?

- Não! Eu tenho que descer, então abaixa o preço da passagem!

- Amanhã eu te dou, moço, sério!

Argumentar com um passageiro a esse respeito era demais. O ônibus já havia parado e todos estavam olhando aquela discussão. Danilo, pê da vida mas sempre paciente, resolveu descer sem os 15 centavos. E como ele sempre fazia quando estava sozinho, não parava de pensar naquilo. E foi ficando com cada vez mais raiva.

Chegando em casa, tentou respirar. "Bem, deixa isso pra lá. Ainda bem que acabou esse martírio."

Toca o telefone.

- Alô, Sr. Danilo? Você não gostaria de um cartão exclusivo para clientes da Americanas.com?

5 comentários:

Gude disse...

Sim. Eu odeio telemarketing e trocadores folgados.

Mila disse...

Também fico tensa nessas situações de ponto chegando e troco não.
:-/
Quanto ao telemarketing, o melhor a fazer (quando é pessoalmente, pelo menos) é dizer que você já tem o bendito cartão.
Pelo telefone já não rolaria porque eles têm seus dados.
:P
Beijo pra você e pro Danilo e pro Davi!

Priska disse...

Ainda bem que aconteceu com o Danilo... Se tivesse acontecido com a Priscila... Ce ate imagina, ne?

Imagino a loucura da Cristiano Machado nesta altura do campeonato... Respira, Danilo, respira...

Saudades? Um bocado, viu...

Ana disse...

outch... telemarketing é o fim.

Anônimo disse...

entao danilo pegou a arma de seu avô e usou aquele cartucho empoeirado para se matar.

o mundo era demais para ele.

odeio onibus lotado e telemarketing...

mas pelo menos nao estava chovendo...