7 de abr. de 2007

Exame de Motorista

Eu queria fazer alguma brincadeira com o número 100, e tal, mas acho que isso vale a pena como uma edição especial. Ficou um pouco maior do que imaginei, mas enfim. Vamos lá.

De fato, a regra do "felizes para sempre" em aventuras épicas vale. Até na vida real.

É semana santa, mas meu trabalho não deixou que fosse feriado. Assim, fiquei preso em casa, trabalhando. O resto do pessoal foi para vários lugares: sítio, Goiás, Lafaiete, nem sei. E eu fiquei.

Bem, não estou reclamando. Eu já disse aqui neste espaço uma vez que gosto de ficar sozinho em casa algumas vezes. E além disso, até que foi divertido trabalhar nesses dias de folga.

Sim, eu disse isso.

Sim, eu sei que sou louco. Não precisa gritar.

Bem, o fato é que estava trabalhando e ouvindo música na altura que eu gosto, sem machucar os ouvidos, quando, subitamente e no ápice da faixa preferida daquele álbum sensacional daquela banda muito legal...

Acaba a luz.

Essa foi a deixa para que eu fizesse o meu intervalo. E meu estômago reclamou. Eram mais ou menos 6 horas da tarde e eu só tinha comido um pão e tomado uma xícara de café. Tudo bem que tinha sido às 2 da tarde, mas o fato é que se passaram quatro horas desde a última refeição.

Então, fui à cozinha, pensando no que eu iria comer. Não queria comer outro pão e outra xícara de café, mesmo porque o café que eu fiz de manhã ficou um pouco forte (malditas cafeteiras elétricas). E também nem queria comer miojo, já que eu já tinha almoçado isso no dia anterior.

Eis que, no meio do caminho para a cozinha, meu cérebro teve a brilhante e sensacional idéia de se arriscar na cozinha. E, claro, começaríamos pelo básico: um macarrão ao molho de tomate. Simples.

Fui todo animado. Cheguei na despensa e vi que já havia um pacote de espaguete pela metade. E ainda havia instruções na embalagem! Maravilha!

Na geladeira só havia uma lata de extrato de tomate. E na despensa não havia outra daquelas latinhas vermelhas com a palavra "tomate" escrito. Ou seja, teria que ser aquilo mesmo. A minha sorte é que na lata também havia instruções, intituladas "como fazer o Elefante render mais". Falava algo sobre alho, cebolas douradas e água.

Lá fui eu. Água pra ferver. Em outra panela, um pouco de óleo pra esquentar. Inexperiente, deixei o óleo um pouco mais do que devia. Como essas coisas esquentam rápido. Daí, cebola picadinha no óleo quente. Esperei dourar (não chegou a ficar exatamente uma cor de ouro, eu diria mais um... bronze), joguei o alho e refoguei. Apesar de não saber o que isso significa. Mas tava escrito nas instruções.

Enquanto isso, a agua do macarrão nada de ferver. Até achei estranho o fato de que era água com sal a gosto, pois me lembro bem da minha mãe acrescentando óleo à agua do macarrão antes de colocar o espaguete propriamente dito. Então, confiei mais na minha memória e pus um punhadinho de óleo.

No molho, fiz o que as instruções da lata mandavam: acrescente água e o extrato de tomate. Porém, as instruções diziam para jogar a lata inteira, e meu sexto sentido culinário -- se é que eu tenho um -- dizia que isso não seria uma boa idéia. Coloquei duas colheres de sopa.

Procurando um lugar para guardar a cebola (que eu não havia usado totalmente) acabei achando um tomate semi-partido. Tive a idéia de colocá-lo no molho. Alguma coisa me disse que era melhor ter feito isso em uma etapa anterior, mas como eu estava experimentando mesmo, foi. Piquei bem mais ou menos, porque eu não tinha muito tempo, e joguei lá, junto com mais uma colher de extrato de tomate. Eu estava achando o molho um pouco ralo.

E a água do macarrão nada de ferver.

Daí, fiquei mexendo no molho, e justo quando eu achei que estava bom...

Acaba a luz. De novo.

Agora imaginem a cena: eu, um piloto novato de fogão, tentando fazer algo por conta própria pela primeira vez, sozinho, sem ajuda de ninguém, no meio de uma cozinha escura onde a única coisa visível era o fogo azul que saía das bocas do fogão.

Quando eu vou dormir no meio da noite, não gosto de acender a luz do meu quarto pra não acordar o meu irmão, que normalmente já está dormindo há um bom tempo. Então uso o meu celular, que tem uma iluminação bem potente. Foi a primeira coisa que me veio à mente.

Fui até meu quarto, chutando os móveis, e achei o celular. E agora, outra cena pra vocês imaginarem: eu cozinhando numa cozinha escura, mexendo um molho super quente com uma colher de pau em uma mão e segurando um celular, que recebia vapor de todos os lados, na outra. Eu mesmo ri nessa hora.

Deixei o molho em fogo baixo pra não queimar e ter tempo de pegar a lanterna do meu pai no guarda-roupa dele. Mais uma brilhante idéia do meu cérebro. Coloquei-a virada pra cima, de modo que iluminasse a cozinha toda. Bem, "iluminar" não é bem o verbo correto, mas na situação em que eu estava, era ótimo.

A água do macarrão estava finalmente fervendo. Coloquei o espaguete, e desliguei o molho. Afinal, se eu ficasse esquentando aquilo até terminar de cozinhar o macarrão ia queimar, mesmo em fogo baixo. Ou brando, como dizem no jargão técnico. Pelo menos é o que me vem na memória. Que seja.

Na embalagem dizia pra esperar de 9 a 10 minutos para o macarrão ficar "al dente". Resolvi esperar uns quinze. Também dizia para deixar o macarrão escorrer um pouco e jogar um fio de água corrente, para "interromper o processo de cozimento". Como achei que quinze minutos já estava mais que suficiente, joguei a tal água no escorredor (onde já estava o meu macarrão) por um tempo. Depois, joguei o macarrão dentro da panela de molho e misturei. Eu finalmente ia comer alguma coisa feita por mim mesmo (que não era miojo ou café).

Bem. A água corrente no escorredor, somada ao fato de eu ter desligado o molho um pouco antes do macarrão, resultou em um prato morno, e não quente. Além disso, não me lembro de ter mastigado nenhum pedaço de cebola ou de tomate. Acho que eles derretaram todos.

Porém, foi-- espere, a próxima frase merece um parágrafo só dela.

Foi o melhor macarrão que eu já comi na vida!

Talvez o fato de não ter sido feito por mim e não ter sido um completo fracasso contribuiu para isto, mas quando terminei o segundo tempo, coloquei o prato de lado e tive um prazer quase orgásmico. Olhei ao longe, as panelas e talheres sujos na pia esperando serem lavados, o fogão aberto e com algumas gotas vermelhas, e a meu lado, o prato vazio. E pensei: "porque nunca pensei nisso antes"?

O fato é que o meu macarrão poderia não ser sensacional a outros paladares, mas aquela velha lenda de que a comida dos outros é mais gostosa é mentira.

Enfim. Considero-me realizado agora. Ainda falta uma longa estrada até conseguir fazer algo comível para outras pessoas também, mas agora eu tenho carteira de motorista de fogão oficial. Mas não me peçam para cozinhar em festas.

9 comentários:

Mila disse...

Fico feliz por ter feito parte desse momento tão importante da sua vida (por telefone, mas tudo bem).

:D

Beijos!

Ana disse...

Que bonito!

Gude-cebolas-e-tomates, vc agora é oficialmente um mocinho que sabe fazer macarrão.
Que orgulho!

Da próxima vez, põe umas folhinhas de manjericão no molho e vc terá orgasmos múltiplos :).

Anônimo disse...

Atenção visinhos, ao menor indício de fumaça ou cheiros estranhos, disque 193.

Anônimo disse...

eu sempre soube que você tinha potencial :D
... agora é treino!

beijos!

Anônimo disse...

:(
viZinhos
:(

Unknown disse...

Que fique clarao, Candiano, arrancar um carro é bem diferente de ter carteira e ainda mais de saber dirigir.

Tá bom, foi só para zuar. Não desanime na sua caminhada em direção ao seu próprio programa de culinária nas manhãs da Band!

Pedro disse...

Yo, massa a postagem!

Eu acho cozinhar bem bacana, mas mais como terapia e/ou para fazer alguma coisa diferente. Cozinhar todo dia eu acho um saco!

Mas você não colocou no texto que teve ajuda da Camila, né?! :P

Anônimo disse...

Eu não coloquei porque eu não tive. Só liguei pra ela pra dizer que estava fazendo isso, mas ela não deu nenhum palpite. :D

Pedro disse...

Ah bom, então assim sim.