27 de dez. de 2005

Princípio Ativo

Nem mesmo as nuvens de chuva, baixas, banhadas pela luz rósea do pôr-do-sol por baixo, e delineadas pelo cinzento que é de sua natureza acima ele conseguia admirar. Elas eram belas, ele sabia que elas eram belas, e no entanto, aquilo não passava de uma pintura de quadro pra ele.

Ali, sentado na borda da colina, olhava pra baixo e via as copas das árvores se juntarem, formando dunas verdes. Um deserto, cheio de vida. A fina chuva que caía lustrava o deserto, fazendo-o refletir a luz da lua cheia de maneira irregular, como estrelas, transformando as árvores num segundo céu.

O vento frio cortante poderia justificar o seu rosto vermelho quando voltasse pra casa. E seu rosto molhado, é claro, pela chuva. Os olhos vermelhos, bem, ele poderia dizer que ficou acordado a noite toda. E então, ele entraria para o banho e lá ficaria, a água batendo no seu rosto até que ele se desinchasse e ninguém ia perceber nada.

No entanto, mentir para os outros é fácil. Para si mesmo, é tarefa impossível.

Sentado, abrançando as pernas junto ao corpo, cabeça apoiada nos joelhos, tendo como único esforço mexer os olhos de um lado para o outro, ali... Mesmo sabendo que alguém, eventualmente, perceberia que ele ficara tanto tempo fora; mesmo sabendo que tem toda aquela beleza natural a seus pés na encosta da colina, ele não se sentia bem. Ali, ele só se sentia de uma única forma.

Só.


Uma voz conhecida veio detrás.

- Gude?

E as nuvens ficaram belas, e dali de trás, a dona da voz viu, pelo canto do rosto dele, que Gude sorriu.

2 comentários:

Anônimo disse...

Mas qual é o vigésimo filme???

Gude disse...

Veja último comentário do post anterior. :)