20 de jan. de 2006

... novecentos e dezesseis, um, dois.

Bem, como prometido para esta moça, um relato de mais um exercício para manter um nível saudável de insanidade.

Era um dia comum, num tempo comum quando eu ainda estudava na faculdade. Não sei se eu tava com pouca coisa pra fazer no dia, mas me lembro que era o meio de uma tarde comum também. Aquele dia estava comum demais. Então, resolvi contar os passos do portão do campus até o ponto de ônibus, só pra quebrar a rotina um pouco. Deve ter dado uns duzentos, não me lembro exatamente.

Gostei daquilo, e quando eu cheguei no ponto de ônibus, ao invés de parar e esperar, continuei. E continuei contando. Naquela hora, eu havia decidido medir a distância em passos da minha casa à faculdade.

No início, contei normalmente, de um em um. Assim, sendo, eu dizia mentalmente: "duzentos e vinte e três, duzentos e vinte e quatro, duzentos e vinte e cinco" e assim por diante. Mas a essa altura eu já estava um pouco aquecido, e meu ritmo de caminhada foi se tornando mais forte. Ficou difícil mentalizar esses números grandes, como "quatrocentos e quarenta e cinco", sem perder o ritmo, e ao mesmo tempo prestar atenção ao trânsito e ao caminho que eu estava fazendo.

Assim, resolvi contar somente a perna direita, de modo que eu contava apenas os números pares agora. "Quinhentos e vinte e dois, quinhentos e vinte e quatro, quinhentos e vinte e seis". Isso fazia com que eu tivesse o dobro do tempo pra pensar no tal número grande. Mas quando cheguei nos milhares, mesmo esse tempo dobrado se mostrou insuficiente, de modo que eu tive que desenvolver outro método de contagem.

O próximo passo -- sem trocadilhos -- era contar apenas as unidades. "Dois, quatro, seis, oito". Quando a dezena era completada, aí sim eu dizia o número inteiro. "Mil trezentos e quarenta". Porém, um número como "quatro mil seiscentos e oitenta" também era grande demais pra se pensar, e várias vezes eu tive de diminuir o ritmo a cada dez passos, porque eu não conseguia pensar nesse número todo antes de dar o passo número "dois" da dezena seguinte.

Assim, tirei o zero das dezenas. Ao invés de "cinco mil duzentos e setenta", era "quinhentos e vinte e sete". Poucas sílabas a menos, mas que faziam diferença o suficiente pra que eu tivesse tempo de contar sem perder as passadas.

Já no meu bairro, faltando pouco pra eu chegar em casa, não tinha problemas com esse último método, mas eu resolvi simplificar mesmo assim. As unidades só iam até dois, ao invés de quatro: "um, dois, um, dois". A vantagem era puramente psicológica: "um, dois, um, dois" funcionava como um mantra pra que eu mantivesse o ritmo da caminhada.

O grande problema do Método Avançado para Contagem de Passos em uma Caminhada era quando eu eventualmente parava de andar -- atravessei algumas avenidas grandes e tinha que esperar os carros passarem, ou o sinal de pedestre abrir. Eu precisava fazer cálculos pra não perder a conta de quantos passos eu já havia dado. Em uma das ocasiões, o sinal de pedestre abriu e todos se colocaram a atravessar a rua, menos eu, que devo ter ficado mais uns dois ou três segundos parado, até completar as contas, e aí sim retomar a caminhada.

Ao fim, cheguei no portão de fora do meu prédio à contagem de 9164 (nove mil, cento e sessenta e quatro) passos. Considerando mais ou menos um metro por passo, dado o ritmo da minha caminhada, era aproximadamente o que eu esperava, algo em torno de dez quilômetros. Devo ter andado a uma média de 5 a 7 quilômetros por hora, o que me leva a crer que gastei mais ou menos duas horas (contando paradas).

Duas horas muito bem gastas.

6 comentários:

Ana disse...

A moça em questão agradece a curiosidade saciada e a curiosidade explicada :)!

Mas eu me perdi no meio do caminho! Esse povo de computação é tudo maluco...

Gude disse...

1, 2, 1, 2, 1, 1, 2, 1, 2, 2, 1, 2, 1, 2, 3, 1, 2, 1, 2, 4, 1, 2, 1, 2, 5, 1, 2, 1, 2, 6, 1, 2, 1, 2, 7, 1, 2, 1, 2, 8, 1, 2, 1, 2, 9, 1, 2, 1, 2, 10.

Super-eficiente. :)

Anônimo disse...

E eu achei que eu era esquisita...

Anônimo disse...

Sou obrigada a admitir que eu já uma coisa parecida...
Mas ao invés de contar os passos eu andei muitos Km pensando que agora eu já estou mais perto...rs

Daemon disse...

média entre 5 e 7 km/h dá 6 km/h... :P

Anônimo disse...

Não tem nada a ver com nada, mas hoje descobri que a P.J. Harvey se chama Polly Jean!
Tinha que contar para alguém.
http://en.wikipedia.org/wiki/PJ_Harvey