28 de ago. de 2006

A Lagartinha e o Ponto de Ônibus

Início de tarde de sábado. Sol forte, brisas noroeste leves. Estávamos no ponto de ônibus, abaixo de uma árvore, onde tudo parecia transcorrer da maneira mais normal possível.

Não, não estou falando do ponto, estou falando da árvore.

De repente algo acontece, e a pobre lagartinha minhocóide cai no meio da rua de mão dupla. Carros e ônibus e motos e bicicletas e mulheres de salto alto, indo e vindo a todo instante. Naquele momento ela estava iniciando a caminhada (rastejada?) mais importante de sua vida: a caminhada (rastejada?) PELA sua vida.

Eu observava. Ela estava tensa.

"Meu Deus, um carro azul vem de lá! Ele vai desviar daquele buraco! Cuidado!"

O carro passa perto. Depois uma moto, que passa longe.

Uma van. A Lagartinha está na linha da roda! "Ah, não quero olhar!"

A van tinha desviado do tal buraco. A Lagartinha sobreviveu por um triz. E continuava a sua caminhada (rastejada?) homérica até o meio-fio. A essa altura, estava exatamente na linha imaginária que separava as duas mãos de direção.

Os veículos que passavam do outro lado, e anteriormente não ofereciam perigo, agora eram o principal foco de desvio. Eu torcia pela Lagartinha. Ela estava realmente tensa.

Outra moto. Por algum motivo estranho, ela invade a contra mão e volta, errando-a por muito.

Um carro! Lá de longe. Ele vem vindo, vem vindo...

Por um breve momento, bem breve mesmo, a Lagartinha some atrás da roda do carro. Então, reaparece rolando no asfalto, arrastada pelo vento que o carro produziu.

Uma rolada, os aproximadamente cem pés no chão de novo, bola pra frente.

Outro carro. A Lagartinha estava, novamente, na linha do pneu. "Dessa vez não tem jeito!" E o carro vem...

E faz a Lagartinha rolar mais duas vezes. Ela começava a ficar tonta, fazendo um ângulo não tão perpendicular assim com o meio-fio. Não era o caminho mais curto. Faltava um meio metro para a segurança do passeio (algo como uns dois vírgula oito quilômetros lagartenses).

Veio um ônibus. Era o que a íamos pegar, mas ele estava indo no outro sentido. Ele desce a rua adjacente... e vai na direção da Lagartinha!

Por sorte, o ônibus precisou abrir a curva pra fazê-la, e passou pela contramão.

Uma moto... Passou perto.

Um carro... Mais uma rolada.

Outro carro... Por um pentelhésimo de cabelímetro!

Veio o ônibus no sentido certo. Pegamos o ônibus bem a tempo de ver a Lagartinha a alguns centímetros do meio-fio, mas jamais saberemos se ela sobreviveu àquilo que, com certeza, foi a maior aventura de sua vida lagartense.

Aposto como ela foi recebida como heroína na Árvore, e cheia de histórias de aventura pra contar. E os filhos, netos, bisnetos e toda a descendência da Lagartinha será venerada para todo o sempre.

"Uma forma de se aproveitar o máximo da vida é olhar para ela como uma aventura."
- William Feather


4 comentários:

Anônimo disse...

Pobre largatinha...

Nunca vai ter uma aventura que supere sua caminhada(rastejada?) até o meio-fio.

Está condenada a uma vida de lembrança de tempos melhores...

ass: Profeta das Maravilhas

Anônimo disse...

vc me diverte. ponto.

e resolvi escrever sobre os onibus... mas não deu muito certo ficar só neles... hehe passa lá...

mas já adianto que não vai ter nada tão impressionante quanto a história da lagartinha... eu sou um blogueiro fadado à ignomínia mesmo... :(

Ana disse...

Ah! Adorei a historia da Lagartinha!

Rae disse...

Ahhhrg!!! COMO vc conseguir assistir a tudo isso passivamente?
Porque não foi salvar a largatinha????!!!!
Quase morri de angustia lendo a história, tô até pensando em ir lá em baixo ver se tem alguma largatinha prescisando de ajuda para atravessar a rua...